Mulheres participam do TEDxJardinsWomen em São Paulo
Dez palestrantes fizeram parte do evento - participação brasileira no TEDxWomen mundial -, realizado na semana passada (30/11)
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2012 às 15h02.
São Paulo - TED é um movimento global, iniciado em 1984, com a iniciativa de divulgar ideias interessantes pelo mundo. Apesar de ter começado com foco em tecnologia, entretenimento e design, daí a sigla do nome - TED, os assuntos foram ampliados com o passar do tempo. Anualmente duas conferências, uma nos Estados Unidos e outra na Escócia, reúnem os mais fascinantes pensadores e idealizadores da atualidade, convidados a fazer uma palestra de impacto em apenas 18 minutos ou menos.
Ao redor do mundo também são organizados os TEDx, eventos independentes e locais com pensadores da comunidade, dispostos a compartilhar ideais. O movimento não tem fins lucrativos e os palestrantes não recebem qualquer tipo de pagamento pelas palestras.
(Só assiste as palestras do TED quem é selecionado pela organização não só porque, por razões óbvias, nenhum local poderia abrigar todos os interessados: a ideia é ter na plateia pessoas tão interessantes quanto as que estão no palco, para que nos intervalos o networking flua. Mas, como o espírito geral é disseminar ideias inspiradoras pelo mundo, qualquer pessoa com acesso à internet pode assistir, no site do encontro, todas as palestras realizadas. No evento realizado na Editora Abril,a maioria da plateia era formada por mulheres , executivas e jornalistas da própria Editora Abril e convidadas)
Assim, entre os dias 30/11 e 01/12, o tema Mulher ganhou destaque com o TEDxWomen e a versão brasileira: TEDxJardinsWomen. Em São Paulo, o evento foi organizado por Elena Crescia e reuniu, em uma noite, histórias de grandes almas femininas. Em pouco menos de 20 minutos, cada uma delas falou de serenidade, emoção, sonho, futuro, alegrias e frustrações. A seguir, um pouco das histórias fantásticas dessas mulheres maravilhosas.
Fabiana Prado, mascate de sonhos
Esta santista é uma contadora de histórias nata. Com entonação de voz perfeita, acompanhada de gestos, feições e muito humor, consegue rapidamente envolver a plateia no mundo da imaginação. Ao narrar o conto inglês O mascate de Swaffham, durante sua palestra no TEDxWomen, Fabiana fez uma metáfora com a própria vida.
Antes de encontrar a vocação que hoje a empolga e impulsiona diariamente, morava em Santos e gerenciava um negócio da família. Mas algo a inquietava por dentro. "Aquele lugar não era meu", diz. "Eu me esforçava, mas era ruim de doer".
Fabiana leu diversos livros sobre empreendedorismo e aguardava o momento em que se transformaria numa verdadeira mulher de negócios. Assim como na história do mascate inglês que ouviu uma voz misteriosa e mudou sua vida, Fabiana também recebeu um chamado. Pelo telefone. Era uma operadora de telemarketing pedindo doação para uma entidade beneficente. Fabiana perguntou se, além de doar dinheiro, ela também poderia visitar a instituição e ficar com as crianças uma vez por semana. "O fato é que eu precisava me sentir viva", afirma Fabiana. Hoje vivendo em São Paulo, tem uma empresa chamada Casa na Árvore - Histórias para Despertar. "Levo o ouro das histórias para todo lugar. Sou uma mascate de sonhos. Contar histórias é o meu ofício", diz orgulhosa.
Maria Cândida e as mulheres do mundo
Jornalista, escritora e apresentadora de televisão, Maria Cândida trabalhou nas principais emissoras do país. Em 2009, decidiu embarcar em um projeto que mudaria o rumo da sua vida. "Eu queria contar histórias de mulheres". A jornalista viajou então para doze países e entrevistou 144 mulheres. Eram médicas, professoras, repórteres, arquitetas, músicas ou simplesmente mães, avós ou donas de casa.
"Todas elas me ensinaram muito, me inspiraram muito".
Os relatos deram origem ao programa de televisão 12 Mulheres, transmitido pela Rede Record, e ao livro - Mulheres que Brilham - Histórias inspiradoras de 50 mulheres que fazem a diferença. A experiência foi tão marcante e modificadora, que ao voltar ao Brasil, Maria Cândida se separou e pediu demissão do emprego. "Eu fiquei no mínimo três horas com cada uma dessas mulheres, que me contaram muitas coisas íntimas", relembra. "Isso me mudou profundamente".
Juliana Machado Ferreira contra o tráfico de animais silvestres
Este é um dos principais responsáveis pelas perdas da biodiversidade no Brasil. E os números são surpreendentes: estima-se que sejam retirados da natureza 38 bilhões de animais por ano, em um comércio ilegal que movimenta dois bilhões de reais. "O tráfico prejudica a conservação ambiental e desequilibra o ecossistema", alerta Juliana Machado Ferreira, doutora em biologia genética, TED senior fellow e uma defensora feroz da fauna brasileira.
Segundo Juliana, o tráfico é um processo intenso e diário, que vem agredindo o meio ambiente do país e as pessoas pouco se dão conta. "A preservação da biodiversidade é aqui, agora e não daqui a 200 anos", ressalta.
A bióloga mostrou fotos de milhares de aves que acabam mortas por causa do comércio ilegal, mas também explicou como, por meio de seu trabalho apaixonado e de outros pesquisadores, muitas aves estão sendo salvas e levadas de volta ao local de onde foram tiradas.
É a salvação de espécies ameaçadas de extinção, que podem desaparecer pela mão do homem. Para Juliana, não há frase que faça maior sentido do que esta - Passarinho na gaiola não canta, lamenta.
Maria Bognar acredita no possível
Ao olhar para Marta Bognar falando de maneira tímida e contida, é difícil imaginar que essa mulher faz acrobacias sobre asas de aviões em pleno ar. Ela é uma wing-walker, ou seja, alguém que anda sobre asas. Existem somente onze equipes de wing-walking ao redor do mundo e somente uma na América Latina, a brasileira.
"Minha atividade é levar alegria para as pessoas", diz. Há 20 anos ela se apresenta em shows aéreos fazendo acrocabias e coreografias no ar para o delírio das pessoas que olham atentas para o céu.
Parte do encantamento do espetáculo está no figurino de época e no avião biplano modelo da Segunda Guerra Mundial. "Desde criança sempre gostei muito de aviões. Tenho uma paixão especial pelos de tela, projetados no século passado", conta.
Antes de entrar no mundo das acrobacias aéreas, Marta trabalhou na aviação comercial. Foi comissária de bordo e viajou o mundo todo. Hoje se realiza quando está fazendo coreografias nas alturas. "A coragem faz parte da mulher. Eu não sou maluca, só acredito no que é possível. Basta abrir o coração e tudo é possível".
Jane Bezerra, uma mãe leoa
Modelo e atriz. E Mãe, com M maiúsculo. A carioca Jane Bezerra pode ser apresentada dessa maneira. Aos 54 anos, continua sendo uma mulher belíssima e com uma postura e elegância que não deixam dúvidas sobre os 30 anos em que foi modelo.
Apesar da larga experiência em frente às câmeras, tanto no Brasil como no exterior, ficou nervosa ao se apresentar neste TEDxWomen, na sede da Editora Abril.
"Sempre entrei muda e saí calada. Nunca dei uma palestra antes", diz rindo. Mas logo Jane se solta e dá uma depoimento emocionante sobre a vida ao lado do terceiro filho, Pedro, que quando tinha 3 anos foi diagnosticado com uma síndrome raríssima e até então pouco conhecida - Rubinstein-Taybi.
Foi então que ela decidiu que se o fiho não poderia vir até o nosso mundo, ela iria até o dele. Virou uma mãe leoa, como ela mesma admite. "Esse é um aprendizado diário, em que temos de deixar de lado tudo o que achamos que sabemos". Jane contou das dificuldades nos consultórios médicos, nas escolas. Mas sempre teve o apoio incondicional da família. "Não dá para andar sozinho em uma batalha".
Hoje Pedro tem 22 anos, adora ir à praia, cuida do corpo e sabe tudo sobre computador. Devora livros. Foi a primeira criança portadora da síndrome de Rubinstein a ser alfabetizada no Brasil. Jane relata isso com a voz embargada e lágrimas nos olhos, assim como a plateia que assistiu ao testemunho. "Não acredito em nada que não seja tudo, em nada que tenha limites. Frustrações são simplesmente expectativas que criamos".
Graziela Gilioli: sobre a vida e a morte
Serena. Essa é a palavra que melhor define a socióloga, escritora e fotógrafa Graziela Gilioli. E extremamente sábia. Mas essas duas características de Graziela foram conquistadas depois de momentos de muita dor. Ela perdeu um filho de 14 anos.
"Eu tive dois filhos. Há nove anos eles se separaram por uma escolha do destino. Meu filho mais velho, hoje com 25 anos, vive aqui na terra. O meu filho caçula vive num mundo que desconheço".
Falando dessa maneira, Graziela quer desmitificar a morte. Para ela, onde há vida, sempre haverá morte e mesmo no caos há beleza. Não houve religião nem filosofia que até hoje conseguisse minimizar o sofrimento das pessoas perante essa dor. "Temos medo do irreversível, mas quando estamos vivos, tudo muda, todo dia".
Para enfrentar o inevitável, são necessários justamente serenidade, tranquilidade e gentileza. "A morte é a contraparte do nascimento de todas as coisas", diz Graziela.
Apesar de saber que carregará o luto para o resto da vida, ela conta de maneira belíssima os últimos instantes de vida do filho, um menino que passou 20 meses internado e não teve medo de morrer. Ele só disse que estava muito cansado, mas preocupado com o quanto o irmão iria sofrer. "Foram os momentos mais nobres da minha vida, o dia em que dei à luz ao meu filho e o dia em que pude me despedir dele". Gabriela recebeu aplausos de uma plateia de pé.
Marcia de Luca e o papel do feminino
A professora de yoga Marcia De Luca acredita que atualmente vivemos mais, mas vivemos pior. Segundo ela, as mulheres perderam a feminilidade na busca pelo poder. "Agora é preciso resgatá-la", afirma. As mulheres teriam o poder de criar uma nova realidade pois o mundo precisa de suas características essenciais: criatividade, compreensão, intuição e compaixão. "Só dessa maneira o mundo terá paz e amor. Com isso a energia no planeta muda e a natureza irá agradecer".
Para a professora de yoga, a hora é de eliminar o ego individual e vivenciar o momento presente - o aqui e o agora. "O poder feminino é o poder da luz. A opção é toda nossa!".
Erika Foureaux, por um design mais inclusivo
Ela não poderia ser mais mineira. Tem o sotaque carregado e um bom humor contagiante. Vencedora do Prêmio CLAUDIA 2012 na categoria Trabalho Social, ela contou sobre sua trajetória familiar e como surgiu a ONG Noisinho da Silva.
É mãe de três meninas: a mais nova, hoje com 17 anos, nasceu com uma deficiência de mobilidade. A realidade dentro de casa fez com que Erika, arquiteta de formação, investisse no design de mobiliário inclusivo para crianças com problemas. "Nosso foco é gerar design equalitário", diz.
Pelas inovações, como a cadeira de plástico Ciranda, que permite a crianças, que não conseguem se manter sentadas ou em pé, ir à praia, por exemplo, a ONG ganhou prêmios de design nos Estados Unidos e na Espanha.
Outro projeto de Erika e sua equipe é uma carteira escolar, adaptável para diferentes tipos de deficiências. Ela sonha que um dia a carteira esteja disponível em todas as escolas públicas. "A educação é libertadora", garante.
Eliana Atihé de corpo e alma
Última palestrante da noite do TEDxWomen, a doutora em educação Eliana Atihé começou a conversa dizendo que aos 55 anos, já tinha entrado na fase em que para a nossa sociedade a mulher torna-se invisível.
Com um texto inteligente e irônico, a educadora mostrou como a civilização sempre deu pouco valor às mulheres que optaram por ficar - ficar em casa, ficar ao lado, ficar cuidando dos filhos, ficar sem ser notada. "O prazer de ficar era um mico no grande mundo", afirma brincando.
Eram os homens que iam para as batalhas, para as cidades, para os grandes desafios. Mas eram elas que mantinham a vida nos vilarejos, a economia das cidades.
Em 2008, a convite da irmã, Eliana começou a participar dos grupos de corpo e alma, chamados de Matilha da Leitura. Nesses encontros, mulheres "fora da curva", como ela diz, leem histórias e compartilham ideias.
Entre os livros, clássicos como Mulheres que correm os lobos, A ciranda das mulheres sábias (ambos de Clarissa Estés) e O Código do ser, de James Hillman. Para Eliana, essa é uma atividade sem igual: "A experiência de ser e estar entre as mulheres".
Brenda Fucuta e os desafios das novas mulheres
Qual será o Brasil em que as mulheres da chamada geração Y, aquelas nascidas entre os anos 80 e meados dos 90, vão encontrar? A jornalista Brenda Fucuta, diretora superintendente da Editora Abril, apresentou o estudo Conte Com Elas, que traça um panorama sobre a situação das mulheres na atualidade e um prognóstico para o futuro.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 40% dos lares brasileiros são hoje chefiados por uma mulher. Elas têm o primeiro filho por volta dos 26 anos. Além da jornada de 40 horas semanais, as mulheres que trabalham fora, enfrentam outras 23 de afazeres domésticos.
E um fato estarrecedor: quanto mais estudos elas têm, maior a defasagem salarial quando em comparação com o que os homens recebem. Todavia, daqui a 30 anos elas vão viver num país diferente.
"O Brasil será mais rico, mais velho e mais empreendedor", diz Brenda. Estima-se que então 20% das brasileiras não terão filhos e em 2020 o número de mulheres empreendedoras terá dobrado. "O estudo traz grandes reflexões para a sociedade, principalmente sobre como a mulher pode contribuir para o desenvolvimento do país".
O grande dilema, entretanto, é como a geração Y irá conviver nessa nova realidade. Entre as principais características dessas novas mulheres estão adiar a maternidade, não romperem os laços com os pais, postergar a entrada no mercado de trabalho e serem muito otimistas. Será um novo mundo para novas mulheres.
São Paulo - TED é um movimento global, iniciado em 1984, com a iniciativa de divulgar ideias interessantes pelo mundo. Apesar de ter começado com foco em tecnologia, entretenimento e design, daí a sigla do nome - TED, os assuntos foram ampliados com o passar do tempo. Anualmente duas conferências, uma nos Estados Unidos e outra na Escócia, reúnem os mais fascinantes pensadores e idealizadores da atualidade, convidados a fazer uma palestra de impacto em apenas 18 minutos ou menos.
Ao redor do mundo também são organizados os TEDx, eventos independentes e locais com pensadores da comunidade, dispostos a compartilhar ideais. O movimento não tem fins lucrativos e os palestrantes não recebem qualquer tipo de pagamento pelas palestras.
(Só assiste as palestras do TED quem é selecionado pela organização não só porque, por razões óbvias, nenhum local poderia abrigar todos os interessados: a ideia é ter na plateia pessoas tão interessantes quanto as que estão no palco, para que nos intervalos o networking flua. Mas, como o espírito geral é disseminar ideias inspiradoras pelo mundo, qualquer pessoa com acesso à internet pode assistir, no site do encontro, todas as palestras realizadas. No evento realizado na Editora Abril,a maioria da plateia era formada por mulheres , executivas e jornalistas da própria Editora Abril e convidadas)
Assim, entre os dias 30/11 e 01/12, o tema Mulher ganhou destaque com o TEDxWomen e a versão brasileira: TEDxJardinsWomen. Em São Paulo, o evento foi organizado por Elena Crescia e reuniu, em uma noite, histórias de grandes almas femininas. Em pouco menos de 20 minutos, cada uma delas falou de serenidade, emoção, sonho, futuro, alegrias e frustrações. A seguir, um pouco das histórias fantásticas dessas mulheres maravilhosas.
Fabiana Prado, mascate de sonhos
Esta santista é uma contadora de histórias nata. Com entonação de voz perfeita, acompanhada de gestos, feições e muito humor, consegue rapidamente envolver a plateia no mundo da imaginação. Ao narrar o conto inglês O mascate de Swaffham, durante sua palestra no TEDxWomen, Fabiana fez uma metáfora com a própria vida.
Antes de encontrar a vocação que hoje a empolga e impulsiona diariamente, morava em Santos e gerenciava um negócio da família. Mas algo a inquietava por dentro. "Aquele lugar não era meu", diz. "Eu me esforçava, mas era ruim de doer".
Fabiana leu diversos livros sobre empreendedorismo e aguardava o momento em que se transformaria numa verdadeira mulher de negócios. Assim como na história do mascate inglês que ouviu uma voz misteriosa e mudou sua vida, Fabiana também recebeu um chamado. Pelo telefone. Era uma operadora de telemarketing pedindo doação para uma entidade beneficente. Fabiana perguntou se, além de doar dinheiro, ela também poderia visitar a instituição e ficar com as crianças uma vez por semana. "O fato é que eu precisava me sentir viva", afirma Fabiana. Hoje vivendo em São Paulo, tem uma empresa chamada Casa na Árvore - Histórias para Despertar. "Levo o ouro das histórias para todo lugar. Sou uma mascate de sonhos. Contar histórias é o meu ofício", diz orgulhosa.
Maria Cândida e as mulheres do mundo
Jornalista, escritora e apresentadora de televisão, Maria Cândida trabalhou nas principais emissoras do país. Em 2009, decidiu embarcar em um projeto que mudaria o rumo da sua vida. "Eu queria contar histórias de mulheres". A jornalista viajou então para doze países e entrevistou 144 mulheres. Eram médicas, professoras, repórteres, arquitetas, músicas ou simplesmente mães, avós ou donas de casa.
"Todas elas me ensinaram muito, me inspiraram muito".
Os relatos deram origem ao programa de televisão 12 Mulheres, transmitido pela Rede Record, e ao livro - Mulheres que Brilham - Histórias inspiradoras de 50 mulheres que fazem a diferença. A experiência foi tão marcante e modificadora, que ao voltar ao Brasil, Maria Cândida se separou e pediu demissão do emprego. "Eu fiquei no mínimo três horas com cada uma dessas mulheres, que me contaram muitas coisas íntimas", relembra. "Isso me mudou profundamente".
Juliana Machado Ferreira contra o tráfico de animais silvestres
Este é um dos principais responsáveis pelas perdas da biodiversidade no Brasil. E os números são surpreendentes: estima-se que sejam retirados da natureza 38 bilhões de animais por ano, em um comércio ilegal que movimenta dois bilhões de reais. "O tráfico prejudica a conservação ambiental e desequilibra o ecossistema", alerta Juliana Machado Ferreira, doutora em biologia genética, TED senior fellow e uma defensora feroz da fauna brasileira.
Segundo Juliana, o tráfico é um processo intenso e diário, que vem agredindo o meio ambiente do país e as pessoas pouco se dão conta. "A preservação da biodiversidade é aqui, agora e não daqui a 200 anos", ressalta.
A bióloga mostrou fotos de milhares de aves que acabam mortas por causa do comércio ilegal, mas também explicou como, por meio de seu trabalho apaixonado e de outros pesquisadores, muitas aves estão sendo salvas e levadas de volta ao local de onde foram tiradas.
É a salvação de espécies ameaçadas de extinção, que podem desaparecer pela mão do homem. Para Juliana, não há frase que faça maior sentido do que esta - Passarinho na gaiola não canta, lamenta.
Maria Bognar acredita no possível
Ao olhar para Marta Bognar falando de maneira tímida e contida, é difícil imaginar que essa mulher faz acrobacias sobre asas de aviões em pleno ar. Ela é uma wing-walker, ou seja, alguém que anda sobre asas. Existem somente onze equipes de wing-walking ao redor do mundo e somente uma na América Latina, a brasileira.
"Minha atividade é levar alegria para as pessoas", diz. Há 20 anos ela se apresenta em shows aéreos fazendo acrocabias e coreografias no ar para o delírio das pessoas que olham atentas para o céu.
Parte do encantamento do espetáculo está no figurino de época e no avião biplano modelo da Segunda Guerra Mundial. "Desde criança sempre gostei muito de aviões. Tenho uma paixão especial pelos de tela, projetados no século passado", conta.
Antes de entrar no mundo das acrobacias aéreas, Marta trabalhou na aviação comercial. Foi comissária de bordo e viajou o mundo todo. Hoje se realiza quando está fazendo coreografias nas alturas. "A coragem faz parte da mulher. Eu não sou maluca, só acredito no que é possível. Basta abrir o coração e tudo é possível".
Jane Bezerra, uma mãe leoa
Modelo e atriz. E Mãe, com M maiúsculo. A carioca Jane Bezerra pode ser apresentada dessa maneira. Aos 54 anos, continua sendo uma mulher belíssima e com uma postura e elegância que não deixam dúvidas sobre os 30 anos em que foi modelo.
Apesar da larga experiência em frente às câmeras, tanto no Brasil como no exterior, ficou nervosa ao se apresentar neste TEDxWomen, na sede da Editora Abril.
"Sempre entrei muda e saí calada. Nunca dei uma palestra antes", diz rindo. Mas logo Jane se solta e dá uma depoimento emocionante sobre a vida ao lado do terceiro filho, Pedro, que quando tinha 3 anos foi diagnosticado com uma síndrome raríssima e até então pouco conhecida - Rubinstein-Taybi.
Foi então que ela decidiu que se o fiho não poderia vir até o nosso mundo, ela iria até o dele. Virou uma mãe leoa, como ela mesma admite. "Esse é um aprendizado diário, em que temos de deixar de lado tudo o que achamos que sabemos". Jane contou das dificuldades nos consultórios médicos, nas escolas. Mas sempre teve o apoio incondicional da família. "Não dá para andar sozinho em uma batalha".
Hoje Pedro tem 22 anos, adora ir à praia, cuida do corpo e sabe tudo sobre computador. Devora livros. Foi a primeira criança portadora da síndrome de Rubinstein a ser alfabetizada no Brasil. Jane relata isso com a voz embargada e lágrimas nos olhos, assim como a plateia que assistiu ao testemunho. "Não acredito em nada que não seja tudo, em nada que tenha limites. Frustrações são simplesmente expectativas que criamos".
Graziela Gilioli: sobre a vida e a morte
Serena. Essa é a palavra que melhor define a socióloga, escritora e fotógrafa Graziela Gilioli. E extremamente sábia. Mas essas duas características de Graziela foram conquistadas depois de momentos de muita dor. Ela perdeu um filho de 14 anos.
"Eu tive dois filhos. Há nove anos eles se separaram por uma escolha do destino. Meu filho mais velho, hoje com 25 anos, vive aqui na terra. O meu filho caçula vive num mundo que desconheço".
Falando dessa maneira, Graziela quer desmitificar a morte. Para ela, onde há vida, sempre haverá morte e mesmo no caos há beleza. Não houve religião nem filosofia que até hoje conseguisse minimizar o sofrimento das pessoas perante essa dor. "Temos medo do irreversível, mas quando estamos vivos, tudo muda, todo dia".
Para enfrentar o inevitável, são necessários justamente serenidade, tranquilidade e gentileza. "A morte é a contraparte do nascimento de todas as coisas", diz Graziela.
Apesar de saber que carregará o luto para o resto da vida, ela conta de maneira belíssima os últimos instantes de vida do filho, um menino que passou 20 meses internado e não teve medo de morrer. Ele só disse que estava muito cansado, mas preocupado com o quanto o irmão iria sofrer. "Foram os momentos mais nobres da minha vida, o dia em que dei à luz ao meu filho e o dia em que pude me despedir dele". Gabriela recebeu aplausos de uma plateia de pé.
Marcia de Luca e o papel do feminino
A professora de yoga Marcia De Luca acredita que atualmente vivemos mais, mas vivemos pior. Segundo ela, as mulheres perderam a feminilidade na busca pelo poder. "Agora é preciso resgatá-la", afirma. As mulheres teriam o poder de criar uma nova realidade pois o mundo precisa de suas características essenciais: criatividade, compreensão, intuição e compaixão. "Só dessa maneira o mundo terá paz e amor. Com isso a energia no planeta muda e a natureza irá agradecer".
Para a professora de yoga, a hora é de eliminar o ego individual e vivenciar o momento presente - o aqui e o agora. "O poder feminino é o poder da luz. A opção é toda nossa!".
Erika Foureaux, por um design mais inclusivo
Ela não poderia ser mais mineira. Tem o sotaque carregado e um bom humor contagiante. Vencedora do Prêmio CLAUDIA 2012 na categoria Trabalho Social, ela contou sobre sua trajetória familiar e como surgiu a ONG Noisinho da Silva.
É mãe de três meninas: a mais nova, hoje com 17 anos, nasceu com uma deficiência de mobilidade. A realidade dentro de casa fez com que Erika, arquiteta de formação, investisse no design de mobiliário inclusivo para crianças com problemas. "Nosso foco é gerar design equalitário", diz.
Pelas inovações, como a cadeira de plástico Ciranda, que permite a crianças, que não conseguem se manter sentadas ou em pé, ir à praia, por exemplo, a ONG ganhou prêmios de design nos Estados Unidos e na Espanha.
Outro projeto de Erika e sua equipe é uma carteira escolar, adaptável para diferentes tipos de deficiências. Ela sonha que um dia a carteira esteja disponível em todas as escolas públicas. "A educação é libertadora", garante.
Eliana Atihé de corpo e alma
Última palestrante da noite do TEDxWomen, a doutora em educação Eliana Atihé começou a conversa dizendo que aos 55 anos, já tinha entrado na fase em que para a nossa sociedade a mulher torna-se invisível.
Com um texto inteligente e irônico, a educadora mostrou como a civilização sempre deu pouco valor às mulheres que optaram por ficar - ficar em casa, ficar ao lado, ficar cuidando dos filhos, ficar sem ser notada. "O prazer de ficar era um mico no grande mundo", afirma brincando.
Eram os homens que iam para as batalhas, para as cidades, para os grandes desafios. Mas eram elas que mantinham a vida nos vilarejos, a economia das cidades.
Em 2008, a convite da irmã, Eliana começou a participar dos grupos de corpo e alma, chamados de Matilha da Leitura. Nesses encontros, mulheres "fora da curva", como ela diz, leem histórias e compartilham ideias.
Entre os livros, clássicos como Mulheres que correm os lobos, A ciranda das mulheres sábias (ambos de Clarissa Estés) e O Código do ser, de James Hillman. Para Eliana, essa é uma atividade sem igual: "A experiência de ser e estar entre as mulheres".
Brenda Fucuta e os desafios das novas mulheres
Qual será o Brasil em que as mulheres da chamada geração Y, aquelas nascidas entre os anos 80 e meados dos 90, vão encontrar? A jornalista Brenda Fucuta, diretora superintendente da Editora Abril, apresentou o estudo Conte Com Elas, que traça um panorama sobre a situação das mulheres na atualidade e um prognóstico para o futuro.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 40% dos lares brasileiros são hoje chefiados por uma mulher. Elas têm o primeiro filho por volta dos 26 anos. Além da jornada de 40 horas semanais, as mulheres que trabalham fora, enfrentam outras 23 de afazeres domésticos.
E um fato estarrecedor: quanto mais estudos elas têm, maior a defasagem salarial quando em comparação com o que os homens recebem. Todavia, daqui a 30 anos elas vão viver num país diferente.
"O Brasil será mais rico, mais velho e mais empreendedor", diz Brenda. Estima-se que então 20% das brasileiras não terão filhos e em 2020 o número de mulheres empreendedoras terá dobrado. "O estudo traz grandes reflexões para a sociedade, principalmente sobre como a mulher pode contribuir para o desenvolvimento do país".
O grande dilema, entretanto, é como a geração Y irá conviver nessa nova realidade. Entre as principais características dessas novas mulheres estão adiar a maternidade, não romperem os laços com os pais, postergar a entrada no mercado de trabalho e serem muito otimistas. Será um novo mundo para novas mulheres.