Muito além de Mbappé e Zidane: França quer resgatar ligas de futebol
Dentro do país, o futebol movimenta em média 7,5 bilhões de euros direta e indiretamente todos os anos. As ligas esportivas também cobram incentivos do governo
Matheus Doliveira
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 11h09.
Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 11h30.
O governo francês está procurando maneiras de resgatar sua indústria nacional de futebol , atingida pela pandemia e pelo colapso de um importante acordo de transmissão.
O governo do Presidente Emmanuel Macron está considerando o uso de instrumentos conhecidos como “equity loans“, empréstimos que não precisam ser reembolsados imediatamente e podem ainda contar como capital para reparar os balanços das empresas, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. O Ministro da Educação e Esportes, Jean-Michel Blanquer, descartou uma distribuição direta de recursos..
A longo prazo, outras ferramentas incluem reprimir o streaming ilegal de jogos e revisar os salários dos jogadores, que representam mais da metade dos orçamentos dos clubes, disseram as fontes. As pessoas não indicaram o tamanho do apoio governamental, mas um sindicato que representa a Liga de Futebol Profissional da França - que se estende por duas divisões profissionais - pediu medidas no valor de cerca de 300 milhões de euros (US$ 360 milhões), incluindo cortes de impostos. Um porta-voz do Ministério das Finanças francês não quis comentar.
O futebol contribui com cerca de 7,5 bilhões de euros, direta e indiretamente, para a economia a cada ano, de acordo com Ernst & Young. As perdas já estavam aumentando para muitos clubes antes mesmo da pandemia do coronavírus forçar o fechamento dos estádios em março. O golpe de misericórdia, porém, veio após o colapso de um acordo de transmissão de 1,1 bilhão de euros por ano entre a Liga e a espanhol Mediapro.
Mal sinal
Alguns clubes esperam que o governo tente incentivar o maior número possível de emissoras a licitar os direitos.
“O presidente Macron, sendo um fã de futebol, vai entender que isso seria um sinal ruim de ser o único país a não ter futebol na TV”, disse Gauthier Ganaye, Presidente da AS Nancy, um clube da Liga 2, de propriedade do Pacific Media Group.
Ao descartar um resgate, Blanquer, o ministro dos esportes, sugeriu que o governo não gostaria de dar um cheque em branco à Liga e criticou os executivos por não obterem garantias financeiras como parte de seu acordo com a Mediapro.
Na verdade, a ótica de distribuir ajuda estatal para financiar os salários milionários de estrelas do esporte é complicada, na melhor das hipóteses. A dificuldade é exacerbado pelas dúvidas em torno da gestão financeira da Liga.
“Jogar dinheiro no futebol não vai ajudar, a menos que seja acompanhado por uma reforma genuína”, disse o analista do Enders, François Godard. “Qualquer ajuda deve ser focada nas ligas inferiores e no desenvolvimento da juventude.”
Foi no início deste mês que a Liga de Futebol Profissional da França e a Mediapro concordaram em rescindir seu contrato de direitos de TV, que será devolvido e revendido.
--Com a colaboração deRodrigo Orihuela.