Fernanda Marques, CEO e Fundadora do Fernanda Marques Arquitetos Associados: "Hábitos surgidos na quarentena podem se transformar em novos hábitos e em novos modos de relacionamento" (SDOnline Fernanda Marques/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 3 de abril de 2020 às 15h35.
Última atualização em 3 de abril de 2020 às 15h49.
Em tempos de quarentena e home office, como repensar o próprio lar, de modo a deixá-lo mais adequado para o trabalho em casa, o lazer e a relação vinte e quatro horas com toda a família - ou consigo mesmo?
Ivan Padilla, editor executivo da EXAME, conversou com Fernanda Marques, CEO e fundadora do Fernanda Marques Arquitetos Associados, escritório com trinta nos de trabalho, localizado no bairro de Vila Olímpia, São Paulo.
"Vai ser inevitável sair da quarentena com outra ideia do que a gente quer para nossa casa, como a gente vai querer que ela funcione. Nossas casas estão projetadas para quem passa a maior parte do tempo na rua, trabalhando e estudando. Ocupavámos muito pouco nossas próprias casas, mas isso mudou", analisa Marques.
Para a arquiteta, daremos mais valor à simplificação após a quarentena: "Buscaremos uma vida mais prática, vamos querer resolver o dia a dia com menos objetos, menos produtos. Estamos vendo que dá trabalho fazer a manutenção diária de uma casa cheia de coisa. Após essa quarentena, vamos buscar uma simplificação da decoração da casa, mas sem abrir mão da beleza", diz.
Marques diz que a quarentena já está impactando nos pedidos dos seus clientes. "Um cliente me pediu para inserir, perto da entrada principal, um armário para guardar os sapatos antes de entrar em casa", conta.
Com a família vinte e quatro horas em casa, fica mais evidente, para Marques, os detalhes inteligentes de uma residência: a boa iluminação, uma boa circulação do ar, boa distribuição dos cômodos. As coisas ruins também ficam evidentes. Trabalhando oito horas ou mais em casa pode revelar detalhes: a cadeira de trabalho não é tão confortável, a iluminação do quarto não é tão boa.
Para ela, o profissional do arquiteto vai ser mais valorizado depois da quarentena. "Pessoas estão pensando mais a casa delas, estão entendendo o que gostariam de ver de diferente no lar e por que gostariam dessa diferença, e entendendo a importância da profissão".
A quarentena, para Marques, também vai mudar o modo como apartamentos são planejados. "Atualmente os quartos são pequenos em relação à área social, a parte de interagir com visitas e com a família é mais valorizada. Contudo, com o home office, a escola em casa, a quarentena, vamos repensar isso. A parte íntima, mais isolada, poderá aumentar. Os terraços fechados, tão comuns hoje, também serão repensados. Poderão surgir os terraços abertos ou parcialmente abertos, porque ficou evidente, nesse isolamento, a importância de sentir o clima, o vento, mudar os ares".
Cada filho e membro da família ter o seu próprio cômodo é luxo no Brasil. A maioria das famílias tem filhos dividindo um quarto, por exemplo. Como resolver a questão da privacidade e do home office e das aulas a distância com várias pessoas trabalhando ao mesmo tempo? Fernanda Marques dá uma dica:
"Sugiro que sala e cozinha seja espaço de convivência do grupo, de modo a deixar o quarto para quem está precisando fazer algo do trabalho, por exemplo. Um rodízio. Em cada momento alguém usa o quarto para um trabalho que precisa de silêncio total. Já um outro, que esteja vendo uma vídeo-aula da escola ou faculdade, por exemplo, usa o fone de ouvido na sala, para não atrapalhar outros integrantes da família", sugere.
Para ela, é importante que cada membro da família mantenha uma rotina. "É importante ter horários para acordar, trabalhar, ler, se divertir etc.", analisa. A organização de cada um evitará confusão.
Outra dica é manter em áreas comuns e de fácil visibilidade os produtos de higiene, para lavar as mãos ou as compras do supermercado. Deixar em uma bancada ou no corredor é um exemplo.
Confira a entrevista completa: