O cronista chinês Mo Yan em 2001 em Estocolmo: Mo Yan é hoje um dos mais famosos escritores chineses em seu país e no exterior (Peter Lydén/Scanpix/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2012 às 14h21.
Pequim - Ao relatar em seus livros uma cena de sexo ou tortura, a devastação da guerra ou de uma ressaca, Mo Yan o faz com a mesma truculência e realismo.
Este realismo e o apego à terra natal valeram ao romancista de 57 anos comparações com o americano William Faulkner e o colombiano Gabriel Garcia Marquez. Dois ilustres escritores igualmente laureados com o Nobel de Literatura.
"Ele demonstra tanto prazer em descrever em detalhes um grande banquete, quanto um grande massacre", relata Sylvie Gentile, uma das primeiras tradutoras do escritor.
Mo Yan é hoje um dos mais famosos escritores chineses em seu país e no exterior. Alcançou notoriedade com "Sorgo Vermelho", que ganhou uma adaptação para o cinema do diretor Ahang Ymou, vencedora do Urso de Ouro do Festival de Berlim em 1988.
Suas obras extensas, que geralmente ultrapassam 500 páginas após a tradução, regularmente figuram nas listas de best-sellers na China, ao lado dos romances de Yu Hua, autor de "Brothers".
Mo Yan, que na verdade se chama Guan Moye, nasceu em 1955 em uma família de agricultores que experimentou a fome durante o período de 1958-1961, quando a campanha de coletivização excessiva, iniciada por Mao, provocou a morte de 20 a 50 milhões de pessoas.
Em sua cidade natal, na província de Shandong, viveu uma juventude marcada pela privação, uma escolaridade complicada e rapidamente interrompida, em meio à Revolução Cultural.
"Quando criança, era muito taciturno, falava pouco, estava sempre muito fechado em si mesmo", relata Gentile. Mais velho, escolheu como pseudônimo "Mo Yan", que significa "não fale". E, paradoxalmente, foi esta a doutrinação que permitiu que prosperasse.
"Ele faz parte desses camponeses de famílias analfabetas que foram mais ou menos salvas pelo exército, que conseguiu estudar e ter sucesso na carreira, tornando-se um escritor", prosseguiu a tradutora.
O caponês-soldado-escritor guardou por muito tempo seu uniforme, o que não o impediu de publicar seus livros, mesmo que, por vezes, a censura tenha prevalecido. Como foi o caso de "Big Breasts and Wide Hips" (Seios grandes e quadris largos, em tradução livre), o seu romance mais popular.
Ávido leitor, ele aprecia os autores ocidentais, as literaturas russa, japonesa, sul-americana, explica à AFP Noel Dutrait, que traduziu para o francês "The Republic of Wine" (A República do vinho, em tradução livre), outra sátira do autor.
"Mo Yan tem uma peculiaridade: ele sempre se esforça para mudar seu estilo a cada novo romance", ressalta Dutrait. Uma riqueza encontrada na variedade de temas escolhidos por ele, do conflito sino-japonês até as torturas chinesas, passando pelo abate de porcos ou a corrupção dos políticos comunistas.
"Um escritor deve expressar críticas e sua indignação com o lado obscuro da sociedade e da feiúra da natureza humana", afirmou Mo Yan.
No entanto, o vice-presidente da Associação de Escritores Chineses, uma organização oficial, já foi acusado de não apoiar a dissidência, no único país do mundo que aprisiona um Prêmio Nobel da Paz, o intelectual e escritor Liu Xiaobo.
"Há pessoas que dizem que ele não se afasta de poder", confirma Noel Dutrait, "mas, de qualquer maneira, ele escreve e diz o que pensa".
Em um livro recente intitulado "Sapos", Mo Yan evoca a acirrada política de controle de natalidade na China, uma questão sensível que, no entanto, deixou de ser tabu há alguns anos.
De acordo com Eric Abrahamsen, um especialista americano em literatura chinesa, Mo Yan é um "grande escritor (...), que escreve o Grand Romance da China", enquanto é "muito inteligente sobre o que pode ou não ser escrito".
Regularmente convidado para ir ao exterior, mesmo falando apenas chinês, Mo Yan reluta em dar entrevistas, continua muito apegado à sua terra natal de Gaomi, em Shandong. Foi lá que um dia recebeu um de seus admiradores mais fiéis, o escritor japonês Kenzaburo Oe, prêmio Nobel de Literatura em 1994.