"Meu Pé de Laranja Lima" faz retrato melancólico de infância
Filme baseado no livro de José Mauro de Vasconcelos chega aos cinema numa versão assinada por Marcos Bernstein.
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2013 às 13h37.
São Paulo - Há um estranhamento temporal na nova versão do clássico infantil "Meu Pé de Laranja Lima", que chega aos cinemas numa versão assinada por Marcos Bernstein ("O Outro Lado da Rua").
Ao mesmo tempo, convivem harmoniosamente na tela celulares, carros antigos e CDs. Esse anacronismo proposital desloca no tempo a história, originalmente publicada em 1968 pelo escritor José Mauro de Vasconcelos. O romance já foi adaptado para o cinema e a televisão, e aqui ganha uma versão que prima pelo emocional e o lúdico.
A história de Zezé (João Guilherme Ávila) tem um apelo atemporal e universal --tanto que é se tornou um dos romances brasileiros mais traduzidos--, especialmente porque infância é tudo igual, só muda de endereço, ou mais ou menos isso.
Embora evidentemente cada criança tenha sua peculiaridade, a história do protagonista vai ao centro da experiência de uma fase da vida em que se tem poucas certezas e o mundo adulto é algo distante, como uma idade que nunca vai chegar.
No filme, Bernstein imprime a dicotomia entre ser criança e a expectativa de amadurecer, ou não querer amadurecer. João Guilherme Ávila vive o protagonista, garoto do interior de Minas Gerais que, incompreendido pela família, encontra num pé de laranja lima uma espécie de amigo e confidente.
Á árvore fina e frágil, mas ainda assim resistente ao vento, serve bem como uma espécie de metáfora para o próprio garoto, que não se quebra com as surras que leva -- reais e metafóricas.
Provavelmente, nos dias de hoje, Zezé seria diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou algo parecido. Mas, em outros tempos, sua infância é vista mais ou menos como algo saudável. Além da árvore, o garoto desenvolve um relacionamento com um português que mora em sua cidade, conhecido como Portuga (interpretado por José de Abreu). Essa amizade também, atualmente, não existiria talvez com tanta inocência, livre de algum tipo de questionamento ou suspeita que aqui inexistem.
É a partir desses laços que o garoto pode amadurecer, pode compreender melhor a si mesmo. A árvore lhe proporciona o lúdico. Uma das cenas mais bonitas do filme acontece quando ele "galopa" o galho do pé de laranja lima e, por fim, a imagem mostra a sua fantasia com ele mesmo montado num cavalo. Já o Portuga é o senso de realidade, representa os pés no chão, o amadurecimento social do menino.
Tanto o diretor, talvez num processo consciente, quanto João Guilherme, mais intuitivamente, parecem compreender Zezé. Sem nunca olhar de forma paternalista para o personagem, eles deixam que Zezé seja quem realmente é, que cresça e amadureça ao seu tempo. Nesse sentido, o jovem ator é um achado, uma grande contribuição ao filme, que com o frescor e honestidade de sua interpretação lhe garante um de seus pontos mais fortes.
Não é difícil estabelecer uma relação entre "Meu Pé de Laranja Lima" e o francês "Os Incompreendidos", de François Truffaut -- ambos fazem um retrato de uma infância problemática, mas que encontra na fantasia um alívio para as dores da vida. Tanto Bernstein quanto Truffaut lançaram um olhar terno para crianças problemáticas, e nisso reside a beleza de seus filmes.
https://youtube.com/watch?v=WL479sRFgtU%3Ffeature%3Dplayer_embedded
São Paulo - Há um estranhamento temporal na nova versão do clássico infantil "Meu Pé de Laranja Lima", que chega aos cinemas numa versão assinada por Marcos Bernstein ("O Outro Lado da Rua").
Ao mesmo tempo, convivem harmoniosamente na tela celulares, carros antigos e CDs. Esse anacronismo proposital desloca no tempo a história, originalmente publicada em 1968 pelo escritor José Mauro de Vasconcelos. O romance já foi adaptado para o cinema e a televisão, e aqui ganha uma versão que prima pelo emocional e o lúdico.
A história de Zezé (João Guilherme Ávila) tem um apelo atemporal e universal --tanto que é se tornou um dos romances brasileiros mais traduzidos--, especialmente porque infância é tudo igual, só muda de endereço, ou mais ou menos isso.
Embora evidentemente cada criança tenha sua peculiaridade, a história do protagonista vai ao centro da experiência de uma fase da vida em que se tem poucas certezas e o mundo adulto é algo distante, como uma idade que nunca vai chegar.
No filme, Bernstein imprime a dicotomia entre ser criança e a expectativa de amadurecer, ou não querer amadurecer. João Guilherme Ávila vive o protagonista, garoto do interior de Minas Gerais que, incompreendido pela família, encontra num pé de laranja lima uma espécie de amigo e confidente.
Á árvore fina e frágil, mas ainda assim resistente ao vento, serve bem como uma espécie de metáfora para o próprio garoto, que não se quebra com as surras que leva -- reais e metafóricas.
Provavelmente, nos dias de hoje, Zezé seria diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou algo parecido. Mas, em outros tempos, sua infância é vista mais ou menos como algo saudável. Além da árvore, o garoto desenvolve um relacionamento com um português que mora em sua cidade, conhecido como Portuga (interpretado por José de Abreu). Essa amizade também, atualmente, não existiria talvez com tanta inocência, livre de algum tipo de questionamento ou suspeita que aqui inexistem.
É a partir desses laços que o garoto pode amadurecer, pode compreender melhor a si mesmo. A árvore lhe proporciona o lúdico. Uma das cenas mais bonitas do filme acontece quando ele "galopa" o galho do pé de laranja lima e, por fim, a imagem mostra a sua fantasia com ele mesmo montado num cavalo. Já o Portuga é o senso de realidade, representa os pés no chão, o amadurecimento social do menino.
Tanto o diretor, talvez num processo consciente, quanto João Guilherme, mais intuitivamente, parecem compreender Zezé. Sem nunca olhar de forma paternalista para o personagem, eles deixam que Zezé seja quem realmente é, que cresça e amadureça ao seu tempo. Nesse sentido, o jovem ator é um achado, uma grande contribuição ao filme, que com o frescor e honestidade de sua interpretação lhe garante um de seus pontos mais fortes.
Não é difícil estabelecer uma relação entre "Meu Pé de Laranja Lima" e o francês "Os Incompreendidos", de François Truffaut -- ambos fazem um retrato de uma infância problemática, mas que encontra na fantasia um alívio para as dores da vida. Tanto Bernstein quanto Truffaut lançaram um olhar terno para crianças problemáticas, e nisso reside a beleza de seus filmes.
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