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Lou Ottens, criador da fita cassete, morre aos 94 anos

O holandês Ottens também participou do desenvolvimento do 1º CD e do gravador portátil, raridades no mercado dominado pelo "streaming"

Lou Ottens (JERRY LAMPEN/ANP/AFP/Getty Images)

Lou Ottens (JERRY LAMPEN/ANP/AFP/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 11 de março de 2021 às 21h29.

Na década de 1960, surgiu no mercado um "gadget" chamado fita cassete. Percursora do CD, revolucionou a maneira como se escutava música décadas antes do streaming dominar este mercado. O responsável por comandar o time que criou a famosa K-7 foi engenheiro holandês Lodewijk Frederik Ottens, conhecido como Lou Ottens.

Aos 94 anos, ele faleceu no último sábado em sua casa na vila de Duizel, na província holandesa de North Brabant. A morte, no entanto, só foi divulgada pela família na quarta-feira.

Como gerente de desenvolvimento de produtos da Philips, Ottens revolucionou duas vezes o mundo da música. Além da fita cassete, ele fez parte da equipe que desenvolveu o CD, outra inovação que vem caindo em desuso com o avanço da tecnologia.

Em recente entrevista, ele comparou a busca por novidades no universo musical à prática de esportes:

— Éramos meninos que nos divertíamos brincando. Não sentíamos que estávamos fazendo nada grande. Era uma espécie de esporte — disse ele, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian.

Sucesso com gravador portátil

Nascido em 21 de junho de 1926, pode-se dizer que Ottens ingressou no mundo da tecnologia no período da Segunda Guerra Mundial, quando, ainda adolescente, construiu um rádio para sua família.

Pelo aparelho, ele e seus pais puderam acompanhar Rádio Oranje durante a ocupação da Holanda pela Alemanha.

Após a guerra, Ottens formou-se em engenharia e começou a trabalhar em 1952 na fábrica da Philips em Hasselt, na Bélgica. Oito anos depois, foi promovido a chefe do recém-criado departamento de desenvolvimento de produtos da empresa e, em um ano, revelou o EL 3585, o primeiro gravador portátil da Philips, que venderia mais de um milhão de unidades.

Segundo o Guardian, foi dois anos depois que Ottens fez a maior descoberta de sua vida que revolucionaria a música, tornando-a mais acessível e democrática. O motivo: estava farto dos grandes e desajeitados gravadores da época que utilizavam sistemas de bobina.

— A fita cassete foi inventada por causa da irritação com o gravador existente, é simples assim — diria mais tarde.

Ottens queria produzir uma maneira mais compacta e acessível para as pessoas ouvirem música, em vez de recorrerem a equipamentos pesados que usavam grandes fitas de cartucho ou discos de vinil naquela época.

Menor que maço de cigarros

A ideia do engenheiro era que a fita cassete coubesse no bolso interno de sua jaqueta. O primeiro protótipo foi um compartimento de madeira, mas o primeiro cassete realmente portátil surgiu apenas em 1963. A novidade foi apresentada ao mundo em uma feira de eletrônicos em Berlim com o slogan “Menor que um maço de cigarros!”

O primeiro protótipo foi um compartimento de madeira que caberia dentro do bolso, mas o primeiro cassete realmente portátil surgiu apenas em 1963. Desde então, foram vendidas mais de 100 bilhões de unidades.

Ottens também convenceu a Philips a não guardar o projeto apenas para si, permitindo que outras fabricantes usassem gratuitamente a tecnologia licenciada pela empresa belga.

A K-7 pavimentou o caminho para o icônico walkman, que permitia ouvir músicas em qualquer lugar ao colocar a fita dentro de uma caixinha que reproduzia os discos.

Em 1972, Ottens tornou-se diretor de áudio do Philips ’NatLab, onde se envolveu na próxima grande inovação musical: o CD. Uma colaboração foi firmada com a Sony e, em 1980, o CD padrão Philips-Sony de 12 cm estava pronto para o mundo.

Mais de 200 bilhões de CDs foram vendidos até agora. Quando questionado sobre seu maior arrependimento, Ottens lamentou que a Sony, e não a Philips, tivesse lançado o primeiro walkman.

— Ainda dói não termos um — lamentou.

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