Lance Armstrong considerou a ação contra ele "injusta" e preferiu abrir mão dos títulos para se dedicar à sua fundação, que ajuda pessoas com câncer (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2012 às 19h30.
São Paulo - Sete anos de vitórias foram por água abaixo. Lance Armstrong, o ciclista que não caiu diante um câncer no testículo, no pulmão e no cérebro, em 1996, contrariou sua personalidade perseverante e desistiu de lutar para manter seus sete títulos do Tour de France conquistados entre 1999 e 2005. O motivo da queda foi uma série de acusações de doping, na época em que ganhou os troféus.
A batalha contra a USADA (agência antidoping dos Estados Unidos) foi dura. Ele já havia sido inocentado, em 2006, das acusações publicadas no jornal francês l'Équipe no ano anterior, afirmando que amostras congeladas de sua urina (retirada em 1999) indicaram a presença do hormônio eritropoietina (EPO), para aumentar o desempenho. A decisão não bastou e, em junho deste ano, ele foi novamente acusado, mas desta vez, o baque foi maior e decisivo.
Com base em amostras de sangue de 2009 e 2010, e em depoimentos de ex-colegas de ciclismo, incluindo Floyd Landis e Tyler Hamilton, que já tiveram problemas com doping, a USADA derrotou o homem aparentemente invencível. Em seu site, Armstrong publicou ontem uma declaração explicando os motivos de ter desistido de se defender.
Em momento algum ele assumiu a trapaça. Segundo o texto, sua saída de cena foi feita para evitar perder mais tempo em um processo “unilateral e injusto” e se dedicar à sua fundação Live Armstrong, que ajuda pessoas com câncer. Mas, antes de cair, ele se protegeu até a última linha. Além de acusar a USADA de travar uma batalha pessoal contra ele, e não cumprir o papel de “limpar” o ciclismo, o texano afirmou que a agência violou a lei e seguiu suas próprias regras para condená-lo.
Como se não bastasse, ele disse ainda que o órgão fez acordos com outros ciclistas que quebram suas regras para que denunciassem condutas irregulares de Armstrong, como em uma espécie de delação premiada. Visivelmente magoado, o atleta, no entanto, não baixou a cabeça.
“Eu sei quem ganhou aqueles sete Tours, meus colegas de equipe sabem quem ganhou aqueles sete Tours e todos contra quem eu competi sabem quem ganhou aqueles Tours”, afirmou. Oficialmente sem os títulos e proibido de voltar a pedalar, Armstrong ainda terá que pagar de volta o dinheiro que ganhou nesses anos em que venceu a prova.
A revista americana Forbes calcula que o valor total (incluindo gratificações pelos prêmios e presenças em outras edições do Tour de France) deve girar em torno de sete milhões de dólares. A publicação também estima que haverá um impacto na renda de sua fundação, que já levantou quase 500 milhões de dólares desde quando foi criada, em 1997, já que a credibilidade do fundador está abalada e, sem os títulos, ele poderá cair no ostracismo.
Se sua fundação vai, de fato, perder com esse baque na carreira de Armstrong, não é possível afirmar agora. Mas, diferentemente da derrota recente, ele promete não desistir. “Seguindo em frente, eu vou me devotar a criar meus cinco filhos lindos (e enérgicos), lutando contra o câncer e tentando ser o quarentão mais em forma do planeta”, disse.