Christoph Grainger-Herr, CEO da IWC: formação em arquitetura e design (IWC Schaffhausen/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 7 de abril de 2021 às 12h00.
Christoph Grainger-Herr, o alemão que ocupa hoje o cargo da CEO da IWC Schaffuhausen, tradicional marca suíça de relojoaria do grupo Richemont, tem um backgroud inusitado para o mercado em que atua: ele estudou design de interiores na Bournemouth University, na Inglaterra, e depois trabalhou como arquiteto antes de ingressar na marca, em 2006.
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Levar o olhar do designer para visão do executivo é uma ferramenta que pode ser bastante útil em um mercado que vive de despertar desejo. Grainger-Herr afirmou, em uma entrevista dois anos atrás, que a indústria relojoeira faz peças que não são essenciais. “A menos que façamos as pessoas se apaixonarem pela marca e nossos produtos, não há absolutamente nenhuma razão para nós”, disse.
O design é especialmente importante para a IWC, uma manufatura fundada em 1868 por um engenheiro americano em Schaffhausen, na parte alemã da Suíça, com linhas clássicas e harmoniosas como a Portugieser, ou os esportivos Pilot, com inspiração no universo da aviação.
A IWC também tem se destacado pela preocupação coma sustentabilidade, assim como a Panerai, do mesmo grupo Richemont. A marca faz parte Conselho de Joias Responsáveis, assim como Rolex e Cartier, e tem lançado diversas iniciativas nessa área, como sacolas feitas de materiais sustentáveis e pulseiras feitas de papel.
Grainger-Herr falou sobre as novidades da marca na Watches & Wonders, que este ano vai de 7 a 13 de abril, à Casual EXAME.
Desenvolver uma nova coleção é um processo que leva anos. Como foi com as linhas apresentadas este ano?
Exato, uma nova coleção leva em média três a três anos e meio para ser desenvolvida. Em alguns aspectos a equipe de engenharia começa até trabalhar oito anos antes. Alguns pontos do Big Pilot foram difíceis de desenvolver, como o encaixe das pulseiras com a caixa. Para o Big Pilot, desenvolver uma caixa de 43 mm também foi uma novidade, muito complexo, com algumas dificuldades, desenvolvemos uns dez protótipos antes de chegar ao resultado final. Precisávamos que fosse uma caixa menor, mais fina, que encaixasse bem no pulso, mas que ao mesmo tempo que tivesse a identidade do Big Pilot, que fosse o mesmo relógio.
Os clientes mais tradicionais vão aceitar bem a nova caixa de 43 mm?
Bom, o modelo tradicional de 46 mm continua em linha, é um sucesso, só estamos dando novas opções para quem achava o tamanho um pouco grande.
A IWC está apresentando novos materiais como as pulseiras de papel e tamanhos menores voltados para o público feminino. Falar em sustentabilidade e diversidade são maneiras da IWC se conectar com gerações mais novas?
Temos essas responsabilidades e levamos a sério, tentamos a cada dia fazer melhor. Um relógio mecânico é um objeto feito para passar de geração para geração, que dura décadas. Não é algo descartável, não é como um chip ou outros objetos que têm vida útil de dois, três anos. Não posso falar por toda a indústria, mas a sustentabilidade faz parte da nossa essência. Por exemplo, mudamos agora as embalagens dos nossos relógios, oferecemos agora com tamanhos menores, como se fossem caixas de viagem, mais práticas.
Você comentou que, na sua experiência, jovens consumidores não se encantam com novas cores ou materiais. Pelo contrário, eles gostam de modelos clássicos. Essa é uma característica do mercado de relógios em geral ou da IWC?
É algo que temos observado. Uma grande mudança aconteceu com a crise de 2009 nesse mercado, que foi a ênfase aos modelos mais tradicionais, clássicos, que tenham herança. É algo que faz sentido. Um relógio mecânico é um objeto caro, provavelmente o cliente passou anos economizando para poder comprar. Faz sentido ele querer um relógio que possa usar por muito tempo, que não envelheça, que seja versátil. É como alguém que economiza para comprar um carro de luxo.
Muitas marcas têm lançado modelos de mergulho ou cronógrafos inspirados em automobilismo, mas poucas, como a IWC, têm conexão com aviação.
Sim. O Big Pilot está associado com engenharia, velocidade, inovação. É o mesmo mindset, a associação é imediata.
Engenharia e velocidade são atributos normalmente associados ao público masculino. Isso é uma limitação para a IWC?
Nos últimos 20 ou 25 anos temos visto mais mulheres interessadas no nosso universo, que gostam do design unissex da IWC. Recentemente inauguramos uma nova concept store em Zurique e no dia da abertura grande parte da clientela era de mulheres.
Um relógio diz muito sobre a personalidade de quem usa. Quem é o cliente IWC?
O cliente IWC geralmente tem duas características. Primeiro, aprecia design. Nossos relógios não são excessivamente enfeitados, não decoramos em excesso, aplicamos um design clean, limpo. Em segundo lugar, nossos embaixadores não são escolhas óbvias, não são os maiores campeões. São pessoas que estão no meio da jornada. Existem nuances regionais, claro. (entre os embaixadores anunciados recentemente pela IWC estão a atriz indiana Sonam Kaapor, a atriz tunisiana Hend Sabri e o ator chinês Zhang Ruo Yun). Em termos de idade, na China nossos clientes são mais jovens, chegando aos 30 anos. Isso porque lá existe a tradição de se comprar um relógio de luxo para marcar uma formatura ou uma entrada na faculdade, por exemplo. No Ocidente nosso público é um pouco mais velho, em torno de 40 anos.
Brasileiros costuma gostar de relógios esportivos. A IWC faz sucesso no Brasil?
Sim, é verdade. O que observamos é que os brasileiros gostam de relógios maiores no pulso, que combinam esportividade com complicações. Em outros lugares o gosto é igual, como na Inglaterra, na Austrália. O gosto por esportes a motor também é algo tradicional nesses países.