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Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura, morre aos 87 anos

Homem de esquerda, que confrontava o país com seu passado nazista, Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX

Gunter Grass recebeu o Nobel de Literatura em 1999: Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX (Marcus Brandt/AFP)

Gunter Grass recebeu o Nobel de Literatura em 1999: Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX (Marcus Brandt/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de abril de 2015 às 11h37.

Berlim - O alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura em 1999, principal figura da literatura contemporânea de seu país e autor do clássico "O Tambor", faleceu nesta segunda-feira aos 87 anos.

"O Prêmio Nobel de Literatura Günter Grass faleceu nesta manhã aos 87 anos de idade em uma clínica de Lübeck, norte da Alemanha", informou a editora Steidl.

O site da editora, ao lado da menção "Günter Grass 1927 - 2015", publicou várias fotografias em preto e branco do escritor com sua imagem "clássica": bigode espesso, óculos sobre o nariz e o inseparável cachimbo.

Homem de esquerda, polêmico, que nunca deixou de confrontar o país com seu passado nazista, Grass foi o escritor alemão mais conhecido no exterior na segunda metade do século XX.

"Com Günter Grass, o mundo da literatura perde um autor eloquente e nossa República um de seus cidadãos mais combativos", declarou o presidente da Academia de Artes de Berlim, Klaus Staeck.

"Um verdadeiro gigante"

O presidente alemão Joachim Gauck saudou a memória de um escritor cuja obra, "espelho impressionante de nosso país, constitui uma parte imutável de sua herança artística e cultural".

O presidente do Partido Social-Democrata e vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, e a ministra da Cultura, Monika Grütters, também elogiaram a figura do escritor.

O escritor britânico Salman Rushdie expressou no Twitter sua "tristeza". Era "um verdadeiro gigante, um inspirador, um amigo".

"Toca o tambor por ele, pequeno Oskar", escreveu, em referência ao herói de "O Tambor", um sucesso mundial que foi adaptado para o cinema por Volker Schloendorff e premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de filme em língua estrangeira.

"Éramos amigos e gostávamos um do outro", disse o húngaro Imre Kertesz, também vencedor do Nobel de Literatura, ao lamentar a morte do escritor.

Quando "O Tambor" foi publicado, em 1959, a revista Der Spiegel escreveu: "Deu origem, em um livro, à literatura alemã do pós-guerra".

"Sem as intervenções incessantes de Grass no debate público, a Alemanha seria outra Alemanha", completou a publicação.

Entre suas obras, escritas em uma linguagem exuberante, mas precisa, repletas de fantasia e de ironia, estão "A Ratazana", "Passo de Caranguejo", "Meu Século" e "Um Campo Vasto".

Polêmico e comprometido

Günter Grass nasceu em 16 de outubro de 1927 em Dantzig, que mudou de nome para Gdansk, na atual Polônia. Ele era filho de uma mãe que pertencia à minoria eslava da Prússia e de um pai alemão.

Viveu uma "juventude alemã modelo" para sua geração. Alistado aos 11 anos na Juventude Hitlerista, antes de combater na Segunda Guerra Mundial, foi feito prisioneiro pelos americanos ao final do conflito e libertado em 1946.

A partir de então teve uma vida boêmia, estudou Artes Plásticas, esculpiu, pintou e deu os primeiros passos na poesia. Nos anos 1950 se decidiu pela carreira de escritor e se uniu ao "Grupo 47", que tinha por objetivo revitalizar a literatura alemã.

Entre seus compromissos de maior destaque nos últimos anos estavam as campanhas a favor da coalizão "vermelho-verde" que unia os social-democratas do então chanceler Gerhard Schroeder aos ecologistas ou contra a guerra do presidente americano George W. Bush no Iraque.

Em 2006, Grass revelou em "Nas Peles da Cebola", uma obra que é parte de suas memórias, que integrou na juventude as Waffen SS, uma unidade de elite do regime nazista de Adolf Hitler. A confissão provocou um terremoto no país.

O escritor, que teve quatro filhos, também provocou uma grande polêmica em 2012 ao publicar na imprensa alemã um poema no qual criticava Israel e acusava o país de "ameaçar a paz mundial". Israel o declarou persona non grata.

Em 2014, após várias internações, Grass afirmou em uma entrevista que provavelmente não escreveria mais romances por sua idade avançada.

"Meu estado de saúde não me permite conceber projetos de cinco ou seis anos, e esta seria a condição para o trabalho de pesquisa para um romance", disse a um jornal regional.

O escritor também recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras em 1999.

Um livro de condolências será aberto na casa de Grass, em Lübeck, onde morava nos últimos anos.

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