Georgios Frangulis, no Porsche 911 GT3: paixão a 350 quilômetros por hora. (Leandro Fonseca/Exame)
Julia Storch
Publicado em 28 de dezembro de 2022 às 09h05.
Última atualização em 28 de dezembro de 2022 às 13h39.
Fora do escritório, quando fecham o notebook e largam a caneta, empresários e executivos descansam de diversas maneiras. Desde viagens para acompanhar shows de heavy metal, como o executivo Hugo Ladeira, passando pela extensa (e cara) coleção de Lego de Thiago Muramatsu, aos momentos de silêncio em casa, com um bom livro, como Tijana Jankovic, CEO da Rappi.
Relembre os hobbies dos CEOs que estamparam as capas de Casual em 2022.
No HD de seu computador Dell o executivo Hugo Ladeira guarda um arquivo de Excel intitulado ListaShowsHugo. Lá estão catalogados todos os 819 shows de heavy metal que ele já presenciou, no Brasil e no exterior, com o nome da banda, a data e o local do concerto. O ano em que Ladeira mais viu apresentações foi 2019, logo antes da pandemia, 91 no total. A banda que ele mais viu tocar ao vivo foi o Kiss, 12 vezes. Logo em seguida vem seu grupo favorito, Iron Maiden, com 11 shows. Considerando, porém, apresentações solo do vocalista Bruce Dickinson e formações com outros músicos da banda, como o British Lion, esse número sobe para 26.
Em média são 40 quilômetros percorridos por semana, isso quando não treina para maratonas. Na pandemia, porém, os treinos de corrida e as competições de Cristina Palmaka, presidente da SAP América Latina e Caribe, foram alterados. Sem poder viajar, a executiva concluiu uma prova da África do Sul remotamente, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Recebeu a camiseta da prova em casa, imprimiu o número, ligou o GPS e percorreu 21 quilômetros em volta do parque.
Carros sempre fizeram parte da vida de Georgios Frangulis, fundador e CEO da Oakberry, rede de franquias de alimento saudável focada em açaí. Quando criança, passava os fins de semana na garagem do avô materno, mexendo na coleção de carros antigos do ex-engenheiro da Pirelli, ou no banco do carona com o avô paterno. Algumas décadas mais tarde, o CEO conquistou um sonho de infância ao fundar uma equipe de corrida na Fórmula Porsche.
Atletismo, tênis, vôlei, xadrez e surfe são alguns dos esportes disponíveis na plataforma de serviços terceirizados GetNinjas. Para testar uma nova modalidade específica antes de entrar na plataforma, Eduardo L’Hotellier, fundador e CEO da startup, marcou uma aula particular com um professor do esporte do momento, o beach tennis. “Confesso que tinha um pouco de preconceito”, comenta L’Hotellier, que via o esporte como um exercício leve. “Mas você realmente se cansa jogando. Além disso, é superdivertido.”
O hábito da leitura sempre fez parte da vida de Tijana Jankovic, CEO da Rappi no Brasil. Durante a infância em Belgrado, na Sérvia, ela não tinha o costume de assistir à televisão, e sim o de mergulhar em livros de séries infantis.
O comportamento vem de gerações. A avó paterna era tradutora de livros do francês para o sérvio. “Tive muitas conversas com ela e sei que a tradução não é só uma técnica, mas uma arte, pois os tradutores têm um pouco de escritor também”, comenta a empresária, que diz ter preferência pela leitura de romances no idioma original. Já o pai possui há mais de 30 anos uma editora no país do Leste Europeu. “Cresci no meio dos livros e em várias línguas”, lembra Jankovic, sobre publicações suecas que bisbilhotava quando pequena.
A maioria dos executivos tem no hobby uma ferramenta de inspiração para a carreira. Mas são poucos os que fizeram do lazer a sua profissão. É o caso de Pedro Zannoni. Ex-tenista profissional, foi professor de tênis até mudar de ramo e trilhar um caminho corporativo em empresas de esporte. Dois anos atrás, ele entrou para a Lacoste, talvez a grife de maior conexão com a tradicional modalidade da raquete. Zannoni é hoje o CEO da grife francesa para a América Latina.
Para Daniela Manique, presidente do Grupo Solvay na América Latina, a química vai além de sua profissão. Em suas memórias afetivas a ciência sempre esteve presente, mesmo que em uma configuração diferente de sua formação como engenheira química. Era na cozinha de suas bisavós e avós que aconteciam os encontros da família e onde hoje ela brinca com a filha de “laboratório de experiências”. “Afinal, culinária é química. Quer algo mais atual do que um pão de fermentação natural?”, compara a executiva.
Foi numa loja em Paris que o economista Thiago Muramatsu, CEO da incorporadora Syn Prop & Tech (antiga Cyrela Commercial Properties), decidiu iniciar sua coleção de Lego. De férias na capital francesa com a esposa em setembro do ano passado, ele viu em uma loja a réplica em miniatura do carro do filme Os Caça-Fantasmas para montar e, incentivado pela companheira, comprou o brinquedo. “Falei que começaria a colecionar Legos, mas fui para o outro extremo e comecei a comprar muitos”, afirma.
Dennis Herszkowicz, presidente da Totvs há quatro anos, participa de reuniões (até mesmo com acionistas) sempre de calças jeans e camiseta. Paletó? Jamais. Talvez para acabar com qualquer dúvida em relação à formalidade, ele pediu para instalar uma mesa de futebol de botão em destaque no escritório da empresa, que fornece soluções para gestão, finanças e business performance — setores que garantiram faturamento superior a 3,2 bilhões de reais à companhia em 2021.
O barulho da torcida comemorando um gol no estádio e o refinado som de uma música clássica provocam sensações semelhantes em Claudio Pracownik. No universo esportivo, Pracownik foi vice-presidente do Flamengo e hoje comanda a empresa de esportes e entretenimento Win the Game.
Assim como o futebol, a música tem um lugar de importância na vida do executivo. As cores vermelha e preta da camisa do seu clube do coração estão também em seu instrumento preferido, o piano. Em casa, possui um modelo da Fritz Dobbert alocado no quarto de hóspedes. O gosto pela música é herança familiar. Tanto a mãe quanto o pai tocavam piano.
Foi necessário apenas um tapete para transformar os hábitos de Vanessa Castanho, vice-presidente da Citroën na América do Sul. Não se trata de um item de decoração garimpado em uma viagem ou de uma peça herdada de família, mas de um simples tapete de borracha para ioga — ou um mat, no jargão anglicista da prática indiana.
Há nove anos a executiva se dedica aos asanas, ou posturas, sendo os últimos três anos exercitando-se em casa. “Chega um ponto na vida em que você precisa cuidar não só do corpo mas da mente também. É lógico que todo exercício ajuda, porque libera hormônios como endorfina e serotonina. Mas eu senti que precisava de alguma coisa mais”, afirma Castanho.
O que não pode faltar na mala de viagem? Para Marcelo Zimet, primeiro CEO nascido aqui da história da L’Oréal Brasil, a resposta vai bem além do trivial. “Eu sempre levo a minha bicicleta desmontada e alguns saquinhos de gel [suplemento energético]”, explica. O excesso de bagagem não é mero capricho de quem prefere as marcas Trek e Canyon: o executivo pratica triatlo e aproveita para tentar encaixar os treinos (e até mesmo as competições) em meio a uma disputada agenda.