Painéis "Guerra" e "Paz", de Candido Portinari (1903-1962): painéis foram confeccionados pelo artista nos anos 50 e presenteados pelo governo brasileiro à sede da ONU (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 11h27.
Belo Horizonte - A expressão de espanto e emoção no rosto das pessoas é visível quando sobem ao palco do Cine Theatro Brasil Vallourec, localizado na praça Sete, no coração de Belo Horizonte.
Também não é para menos, pois elas estão diante de uma das obras mais fantásticas produzidas por um gênio das artes brasileiro: Candido Portinari (1903-1962).
Os painéis "Guerra" e "Paz" - confeccionados pelo artista nos anos 50 e presenteados pelo governo brasileiro à sede da ONU, em Nova York - deslumbram o espectador em sua última exibição no Brasil, antes de rumar para a Europa e finalmente para seu destino final: os Estados Unidos.
Aberta nesta semana na capital de Minas Gerais, a exposição "Guerra e Paz, de Portinari" exibe não somente os grandes paineis em óleo sobre tela - gigantes de aproximadamente 14 metros de altura por 10 de largura - mas também estudos preparatórios da obra, releituras de outros artistas, documentários, vídeos e conteúdo multimídia.
O público também terá a oportunidade de conhecer mais sobre a história do pintor, por meio da exposição de parte do acervo do Projeto Portinari. São uma centena de documentos históricos - cartas, fotos, jornais de época, depoimentos e objetos pessoais - que contam, em detalhes, toda a trajetória do artista.
"O acervo do Projeto Portinari não se restringe à vida do pintor, mas ao retrato de uma época. Trata-se de um trabalho precioso, exemplo internacional, de conservação e difusão da história por meio da arte", destacou Maria Duarte, diretora-executiva do projeto Guerra e Paz.
Portinari era um apaixonado pelo que fazia, mas infelizmente essa paixão acabou o levando ironicamente à morte. Ficou doente por causa de intoxicação pelas tintas que usava, e seus médicos recomendaram que ele parasse de pintar.
Nascido em 30 de dezembro de 1903 no interior de São Paulo, morreu prematuramente em 1962, no Rio de Janeiro, aos 58 anos, deixando um legado de mais de cinco mil obras entre afrescos, painéis, pinturas, desenhos e gravuras.
"Guerra" e "Paz", sua obra-prima, consumiu alguns anos de trabalho, conforme explicou à Agência Efe seu filho João Candido Portinari, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, responsável pela exposição: "quando meu pai recebe a encomenda de "Guerra" e "Paz", ele passa quatro anos fazendo estudos preliminares (...). Ao cabo destes quatro anos, em nove meses ele pinta os painéis propriamente ditos, ou seja, ele estava com tudo na cabeça e então partiu para a pintura".
A encomenda da obra foi feita a Portinari pelo Ministério das Relações Exteriores em 1952, após o secretário-geral da ONU fazer um apelo às nações-membro para que doassem uma obra de arte para a recém construída sede da organização em Nova York.
Era um período que em que a Segunda Guerra Mundial ainda estava presente na memória de todos, e uma nova etapa sombria já havia se estabelecido no horizonte: a chamada Guerra Fria, não declarada entre EUA e União Soviética, mas preocupante devido ao perigo de uma hecatombe nuclear.
"O Itamaraty deu a meu pai um elenco de temas, entre esses temas estava guerra e paz, que é o tema de toda a vida de Portinari. Quando a gente olha a trajetória dele, ela revela sempre uma dialética, uma dicotomia entre o lirismo e a tragédia, entre a fúria e a ternura, entre o drama e a poesia", explicou João Candido.
Localizados em um espaço nobre, no hall de entrada da Assembleia Geral, mas de acesso restrito aos delegados das Nações, os murais "Guerra" e "Paz" não podem ser vistos - nem mesmo durante as visitas guiadas da ONU - por razões de segurança.
Por esse motivo, o Projeto Portinari sempre sonhou em expor "Guerra" e "Paz" ao grande público. Uma reforma no edifício-sede da ONU proporcionou esta oportunidade inédita.
Agora, após passar por São Paulo e Rio de Janeiro, o monumental trabalho do artista se despede novamente do Brasil no dia 24 de novembro, quando a exposição termina.
Depois ela vai para Paris, onde será exibida no Grand Palais. Em seguida para Nova York, em local ainda a ser definido, para finalmente - em junho de 2014 - voltar à sua casa: a sede da ONU.
Na mente dos brasileiros vai ficar a memória dos belos "Guerra" e "Paz", criados por um gênio nacional reconhecido mundialmente, que através deles enviou uma mensagem à Humanidade: "Chega de guerra, façamos a paz!".