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Experiência sobrenatural é o eixo do terror "A Marca do Medo"

Veja a resenha do filme que estreia nesta quinta-feira nos cinemas

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Da Redação

Publicado em 9 de julho de 2014 às 14h34.

Em 1972, pesquisadores canadenses da Sociedade de Pesquisas Físicas de Toronto se empenharam em um experimento para criar um fantasma, ao qual chamaram de "Philip". A pesquisa, guiada por Iris May Owen e seu marido especialista em parapsicologia, o dr. Alan Robert George Owen, foi realizada com um grupo de oito pessoas das mais diversas profissões e sem nenhum "poder paranormal".

Isso porque a intenção deles não era invocar alguma entidade, pois a ideia do experimento apropriava-se do conceito budista tibetano de tulpas, seres criados a partir da idealização individual ou coletiva, através do pensamento, da meditação e de outros métodos.

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Assim, o grupo criou Philip, dando-lhe nome completo, uma biografia inteira, um rosto em desenho, mas a entidade não ganhava vida.

Somente após um ano, com a mudança do método de pesquisa e o consequente início da realização de sessões, fenômenos poltergeist ocorreram, como a movimentação da mesa em que estavam concentrados - que pode ser até assistida em vídeos na internet -, e o fantasma teria passado a se manifestar. Mas quando começou a ganhar personalidade própria, Philip teria sido lembrado por um dos participantes do experimento, que foi criado por eles, fazendo com que a entidade sumisse e nunca mais se manifestasse.

Não é surpresa que um caso tão curioso como esse ganhe uma adaptação cinematográfica: "A Marca do Medo" (2014), de John Pogue. Mas, diferente do recente e celebrado "Invocação do Mal" (2013), que reconta um episódio verídico da mesma década, este terror anunciado como "baseado em fatos reais" despreza a história original em favor de uma trama mais repleta de clichês do gênero.

O roteiro, escrito primeiramente por Tom de Ville e revisado por Craig Rosemberg, Oren Moverman e o próprio Pogue, cria um novo experimento, ambientado em outro lugar e com diferentes implicações.

Aqui, o professor de Oxford, Joseph Coupland (Jared Harris), além de ministrar aulas na famosa universidade inglesa, coordena uma pesquisa não-ortodoxa para provar que eventos e entidades sobrenaturais seriam apenas manifestações psicológicas das próprias pessoas que são ditas como "possuídas".

Ele e seus alunos, Harry Abrams (Rory Fleck-Byrne) e a sua provocante namorada Krissi Dalton (Erin Richards), usam como objeto de sua experiência a atormentada Jane Harper (Olivia Cooke), uma garota que ficou órfã muito nova e passou pelas casas de diversas famílias que logo desistiam de cuidar da estranha menina para se livrar dos poltergeists que a acompanhavam.

O docente, então, convida um assistente do setor audiovisual da faculdade, o jovem Brian McNeil (Sam Claflin), para documentar todos os passos da investigação.

Mas o processo da pesquisa científica não é muito detalhado - causa até certa confusão em determinados momentos -, em detrimento da construção de uma narrativa calcada em uma série de sustos na plateia, especialmente causados por efeitos sonoros, muitas vezes exagerados.

Contudo, é realmente difícil explicar como a hipótese sugerida na trama, de que tais fenômenos seriam causados pela mente de pessoas perturbadas psicologicamente e seus possíveis poderes telecinéticos, pode ser mais plausível do que as causas sobrenaturais que o professor rechaça.

No caso em estudo, Coupland diz que Envy, o ser espiritual que acompanha Jane, foi criado pela própria garota, que é na verdade quem gera todas as manifestações estranhas que acontecem ao seu redor.

E assim o script escrito a quatro mãos desperdiça várias das possibilidades que o filme poderia alçar. Além da escolha mais razoável de ser um terror psicológico e sobrenatural condizente com o fato no qual foi baseado, uma delas seria usar a herança da Hammer, produtora responsável por este longa e por vários clássicos com uma pitada bem trash, entre o final da década de 1950 e a de 1970 - muitos deles eram estrelados por Christopher Lee.

A famosa empresa inglesa voltou nos últimos anos, com "Deixe-me Entrar" (2010) e "A Mulher de Preto" (2012), mas sua última produção é mais fraca que suas empreitadas mais recentes.

John Pogue, que havia dirigido apenas "Quarentena 2" (2011) depois de roteirizar "U.S. Marshals - Os Federais" (1998), "Rollerball" (2002), "Navio Fantasma" (2002), entre outros, prefere trilhar caminhos tão óbvios, que são manjados até para quem não está tão familiarizado com o gênero.

Quando a universidade retira os recursos da pesquisa, o grupo sai do dormitório próximo ao campus para uma casa em um local ermo, que o espectador logo percebe que, se ainda não é, se tornará mal-assombrada.

Uma relação com rituais satânicos também é colocada na trama, além da moda de usar a linguagem de "found footage", com os registros de Brian em 16 mm - efeito obtido após diversos processos no material capturado, na realidade, com as mais modernas câmeras digitais atuais.

O diretor até esboça usar a história da garota possuída para falar sobre machismo. Brian acaba se apaixonando por Jane, por quem o professor Coupland tem certo sentimento de proteção. E a tensão, mais carnal do que sobrenatural, que Harper gera nos homens daquela casa faz com que eles freiem qualquer ímpeto lascivo da jovem e também fiquem receosos com a outra figura feminina naquele ambiente.

A força do subtexto se dilui em meio à sucessão de sustos sonoros e "A Marca do Medo" vai perdendo, então, a chance de ser um filme sobre a possessão masculina imposta a muitas mulheres, seja naquela época ou agora. Pelo menos, o pouco que o roteiro desenvolve da personalidade da atormentada personagem principal permite que Olivia Cooke, jovem atriz que já chama a atenção por seu papel na série "Bates Motel" (2013-2014), mostre seu talento, mesmo em meio a - ou até por causa de - tantos gritos ensurdecedores.

(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)

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