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Este site contém tudo o que já foi e será escrito pela humanidade

Inspirado no clássico de Jorge Luis Borges, o site libraryofbabel.info exibe todas as combinações possíveis de letras do alfabeto.

Babel

Babel

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Da Redação

Publicado em 25 de maio de 2015 às 16h39.

Todos os mistérios do universo que podem ser expressos em uma linguagem são solucionados em algum texto do site libraryofbabel.info. Mas não é só isso que ele contém. Todas as obras literárias do mundo também estão lá, incluindo as que ainda não foram escritas. Nele é possível ler os seus maiores segredos, assim como os meus. Até mesmo este artigo se esconde em alguma de suas inúmeras páginas. Não acredita? Então procure por ele aqui.

Criado pelo escritor Jonathan Basile, o site é a representação virtual de uma ideia de Jorge Luis Borges. No conto “A Biblioteca de Babel”, o escritor argentino descreve um universo que “compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais” que contém livros únicos marcados pela variação de uma sequência de 25 símbolos ortográficos (22 letras, o ponto, a vírgula e o espaço). Cada um desses livros têm 410 páginas, cada página tem 40 linhas e cada linha tem 80 posições.  Ou seja, a Biblioteca contém pelo menos 25^1 312 000 livros (~1,9*10^1 834 097 em notação científica), e não estamos sequer considerando as variações de títulos nessa conta porque Borges não especifica seu limite. Esse é um número tão inimaginavelmente vasto que a quantidade de átomos do universo, estimada em 4*10^81, parece minúscula em comparação. Resumindo, a Biblioteca contém tudo que pode ser escrito com o alfabeto.

Em uma entrevista à Flavor Wire, Basile disse ter se surpreendido quando descobriu que ninguém havia tentado reproduzir a Biblioteca antes, já que ela é “uma extensão tão natural das capacidades de um computador”. O escritor decidiu, então, aprender a programar para suprir essa falta. No final das contas, seu projeto acabou se tornando ainda mais ambicioso quando ele decidiu usar 26 letras, o que amplia o número de livros para 29^1 312 000.

No entanto, o desafio acabou se mostrando um pouco mais difícil do que o antecipado. O primeiro método de reprodução do site consistia em simplesmente gerar documentos de texto randômico e exibi-los para o usuário. Naturalmente, seria impossível recriar a Biblioteca inteira dessa forma. Na verdade, o número total de documentos necessários seria tão vasto que nem um universo inteiro feito de HDs seria suficiente para armazena-los.

Isso fez com que Basile entendesse o verdadeiro poder da representação virtual: seu programa foi reescrito com um algoritmo que cria a página do livro automaticamente a partir de um input em hexadecimal que representa a posição do hexágono que contém o trecho.

Mas isso não quer dizer que o problema da representação fiel foi completamente resolvido. O tamanho quase inimaginável da Biblioteca continua a criar desafios interessantes. Basile precisa trabalhar com números de cerca de 6 000 dígitos, mas as estruturas de dados normais da linguagem que ele está utilizando no momento (C++) só permitem 17 dígitos (64 bits de precisão).

No conto de Borges, a espécie humana gastou suas gerações devassando o labirinto de livros em busca de verdades universais. “Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade.” Mas essa impressão logo se dissipou: a imensa maioria dos livros só continha uma coleção de letras sem nexo.  

Quem visitar a Biblioteca virtual vai notar que ela também é dominada pela desordem. No entanto, ela oferece uma tremenda vantagem sobre a Biblioteca física: um campo de busca. No site é possível fazer buscar de trechos de até 3 200 caracteres. Também é possível procurar hexágonos virtuais pelo seu endereço hexadecimal e depois escolher, manualmente, a parede, a prateleira, o volume e a página que talvez contenha uma profecia. Mas na maioria dos casos você se sentirá tão perdido quanto os bibliotecários de Borges.

Mesmo que o motor de busca se torne mais sofisticado, dominar a Biblioteca é uma tarefa impossível. Assim como a coleção de letras “China” têm vários significados em português e outros, distintos, em inglês, qualquer outra coleção de letras pode assumir significados linguísticos e criptográficos completamente imprevisíveis. “Falar é incorrer em tautologias”, como escreveu Borges.  A biblioteca mais completa do universo é, portanto, inútil.

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