Rafael Daré, da Revoar, em seu escritório: “Para pessoas como eu, é como se um carro do Ayrton Senna estivesse esquecido em um estacionamento” (Leandro Fonseca/Exame)
Editor ESG
Publicado em 20 de março de 2024 às 15h25.
Última atualização em 20 de março de 2024 às 17h15.
“Já ouviu falar em Ada Rogato?”, pergunta Rafael Daré, empresário do ramo imobiliário. Diante da negativa, ele explica: “Foi a primeira aviadora brasileira. Ela partiu da Terra do Fogo e foi até o Alasca voando em um ‘cesninha’”. Para os desconhecedores do mundo da aviação, “cesninha” é um monomotor produzido pela Cessna, empresa americana líder em aeronaves de pequeno porte. Uma viagem dessas seria desafiante hoje, com toda a tecnologia embarcada até nos pequenos aviões. Ada concluiu o voo em 1951, sozinha.
O fato lamentado por Daré nessa história é que o “cesninha” esteve no aeroclube de Atibaia, interior de São Paulo, e nunca mais voou depois disso. Para ele, um pedaço da história da aviação brasileira, que poderia estar inspirando mais pessoas a se apaixonarem pela aviação, se perdeu. “Para pessoas como eu, é como se um carro do Ayrton Senna estivesse esquecido em um estacionamento”, compara.
Daré e um grupo de amigos, todos fanáticos pelo ar, tentam evitar que o destino de aviões históricos, como o de Ada Rogato, seja o ferro velho. Para isso, criaram a Associação Revoar, cuja finalidade é a restauração de aeronaves antigas, com o propósito de deixá-las operantes e realizar eventos de demonstração. Por operantes, entenda-se, eles querem voar com aviões das décadas de 30 e 40. Além de Daré, o grupo é formado pelos empresários Fernando Crescenti, Cristiano Oliveira, Thiago Sabino e pelo executivo Daniel Cagnacci.
Na garagem de Daré em Atibaia, encontra-se uma dessas relíquias – ou ao menos partes dela. A Revoar busca concluir seu primeiro projeto com a restauração de um Muniz M7, um avião para dois tripulantes fabricado no Brasil entre 1937 e 1941. É a primeira aeronave a ser produzida em série no país, antes mesmo da criação da Embraer, fundada em 1969.
O Muniz M7 foi projetado pelo Major Antônio Guedes Muniz. Sua empresa, a Aviões Muniz, entregou 28 unidades, 11 delas para a Escola de Aviação Militar e o restante para aeroclubes. A aeronave tinha como principal função o treinamento de pilotos. “Ele e a esposa empenharam tudo o que tinham para realizar esse sonho”, conta Daré.
A reforma do M7 deve levar mais um ano, totalizando dois para ser concluída. Com o avião funcionando, a expectativa é angariar fundos por meio de eventos. A Revoar também está em processo de se adequar às regras das leis de incentivo. Os custos de reforma das aeronaves são altos, podendo chegar a 100.000 dólares, segundo Daré.
Na fila da oficina, estão outros aviões históricos, como o North American T6 Texan, utilizado pela Esquadrilha da Fumaça, e um PT19 da Força Aérea Brasileira que foi pilotado por Ozires Silva, o idealizador da Embraer, nos anos 50. “Queremos que todos os nosso aviões revoem, por isso nosso símbolo é uma fênix”, afirma Daré.