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Do Pantanal às Maldivas: CEO da Teresa Perez revela os hits da pandemia

CEO da agência focada no turismo de luxo, Tomás Perez fala sobre os destinos mais procurados nos últimos meses, as tendências impostas ao setor pelo novo coronavírus e como o brasileiro está sendo visto fora do país

Tomas Perez, CEO da Teresa Perez Tours (Divulgação/Divulgação)
DS

Daniel Salles

Publicado em 8 de abril de 2021 às 12h57.

Última atualização em 9 de abril de 2021 às 15h03.

Se em 2019 a agência Teresa Perez Tours, cujo foco é o turismo de luxo, faturou mais de 500 milhões de reais, em 2020 o resultado sequer foi divulgado. Por razões óbvias, foi desanimador. Mas o CEO da companhia, Tomás Perez, está otimista. Não à toa, no início de março ele anunciou o lançamento de uma segunda agência, a TP Corporate. Criada em parceria com a LTN Brasil, a novidade é focada em viagens de executivos que pertencem ao chamado C-Level e precisam fazer as malas mesmo com a pandemia ainda longe do fim – falamos de CEOs, CFOs e companhia. Em resumo, a TP Corporate se prontifica a facilitar os deslocamentos internacionais, cada vez mais imprevisíveis e complexos por culpa do novo coronavírus. Leia a entrevista que Perez concedeu à Casual Exame. Ele revela os destinos mais procurados nos últimos meses por sua abastada clientela, aponta as tendências impostas ao setor pelo Sars-coV-2 e fala sobre como o brasileiro está sendo visto lá fora.

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Que tendências a pandemia trouxe para o mercado de viagens de luxo?
Que ela trouxe tendências está claro, só não sei se todas vão continuar quando o jogo virar. Aqueles que viajam a negócios tendem a levar a família junto, para ficar mais tempo com ela. As famílias estão muito mais integradas. E hoje em dia dá para trabalhar de qualquer lugar, principalmente se você é executivo. Também acho que as pessoas vão ficar mais tempo nos lugares. Antes viajava-se por quinze dias, divididos entre cinco cidades. Isso já vinha diminuindo e agora diminuiu muito mais. As pessoas querem ficar e curtir. Outra coisa que ficou clara é a maior procura pelos destinos em meio à natureza. Pelos restaurantes, museus etc, muita gente prefere as grandes metrópoles. Que ficaram mais restritas e foram substituídas por destinos afastados, nos quais dá para ficar mais facilmente a céu aberto. Muitos clientes se disseram surpresos com destinos no Brasil que conheceram durante a pandemia. “Não era para meu perfil, mas fiquei feliz em conhecer”, ouvi eles falarem. Só não sei se voltarão quando a normalidade for retomada.

Quais foram os destinos mais procurados desde que começou a pandemia?
Em razão dessa variante do novo coronavírus de Manaus, que o mundo entende como “a variante brasileira”, o mundo fechou ainda mais as portas para nós. Um dos destinos que se mantém aberto aos brasileiros desde novembro são as Ilhas Maldivas. Um cliente nosso já foi para lá cinco vezes desde o começo da Pandemia. Lá tem uma infinidade de hotéis mesmo só considerando o mercado de luxo. É para quem gosta de praia e permite um mix de trabalho e diversão. O caribe se fechou inteiro para nós. Antes dava para visitar algumas ilhas, embora sem acesso aéreo – ir até os Estados Unidos para pegar uma conexão deixou de ser possível. Também restou o México, para onde foi um grande número de pessoas, curtir as praias do país. Outros destinos internacionais bem procurados foram o Egito e, em menor escala, a Tanzânia, em razão do Parque Nacional de Serengeti, conhecido pela travessia de gnus e zebras. Até o final do ano, antes de se fechar novamente para nós, a Turquia também foi muito procurada. Muda a toda hora.

hotel nas Maldivas (Waldorf Astoria/Divulgação)

E dentro do Brasil?
As viagens pelo Brasil é que nos salvaram. Sempre as vendemos, mas historicamente em pouca quantidade. Agora as alternativas internacionais são poucas. Amazonas estava com uma demanda alta antes da crise em Manaus. De maneira geral o ecoturismo está fazendo muito sucesso, assim como as praias em toda a costa. Pantanal, um destino que não passava pela cabeça de muita gente, acabou se sobressaindo. Os brasileiros estão viajando muito pelo país. O problema é que eles podem trocá-lo por destinos internacionais assim que o turismo internacional for normalizado. E os gringos não voltam tão cedo.

Quando acredita que o setor voltará a decolar?
O que vai determinar uma mudança radical é a vacinação, mas se atrasar... Não sou especialista no assunto, mas leio bastante sobre ele, porque afeta diretamente o meu negócio. O que sei é que a capacidade do brasil de produzir vacinas é bem alta, o problema agora é a falta de insumos. Dito isso, acho que as viagens internacionais vão continuar tímidas no segundo semestre. Principalmente porque muitas portas continuarão fechadas para o Brasil. Mas as chances de termos um ótimo cenário em 2022 são altíssimas, porque a população já vai estar quase inteiramente vacinada, daqui e de outros destinos. Obviamente continuaremos a conviver com máscaras por uns bons anos. Pelo menos dentro de aviões e aeroportos, nos quais sempre haverá grande concentração de gente de tudo que é canto.

Está otimista ou pessimista?
Estou otimista. Somos uma das poucas agências que continuaram a investir em tecnologia, no digital, em pessoas e conhecimento. Tudo para estarmos preparados para quando o turismo voltar. É um fato: está todo mundo louco para viajar, e não necessariamente para os destinos que já estão abertos. Tem muita gente querendo ir para a Europa, tem muita gente querendo ir para os Estados unidos ou para o Caribe. As companhia aéreas americanas já estão programando mais voos para o final de abril e o começo de maio. Quer dizer alguma coisa. Elas não iam fazer isso sem uma sinalização do governo. Deve ser porque os Estados Unidos vão se abrir em função da vacinação.

Os passaportes de vacinação deverão virar realidade?
Acredito que sim. A Iata, a Associação Internacional de Transportes Aéreos, já está produzindo o dela. É importante que saia de um órgão internacional. É quem gere todas as regras mundiais de voos. Vai facilitar. Será inteiramente eletrônico, não vamos precisar mostrar um papel. Ouvi falar de alguns países no Oriente Médio que falsificavam todo PCR. Apresentar um papel em língua desconhecida é complicado. Alguns países, como os da América do Sul, deverão começar a exigir tanto o passaporte de vacinação como o PCR. Pode ter certeza, ainda mais para os brasileiros. É por isso que estamos discutindo com laboratórios a possibilidade de realizarem o exame para nossos clientes em menos tempo. Normalmente demora 72 horas, mas talvez os governos passem a exigir um prazo de 24 horas. Ou no mesmo dia. Só que é um exame que precisa ir para laboratório. Queremos já resolver um problema que poderá surgir daqui a pouco.

Vista aérea do Pantanal (Pantanal Filmes/Divulgação)

Os brasileiros, mesmo os mais ricos, deverão sofrer preconceito ao viajar para o exterior em razão da desastrada gestão do país para frear a pandemia?
Já sofrem. É o que dizem meus conhecidos que moram fora do país. Infelizmente, a atual imagem do Brasil são aquelas pilhas de caixões, aquelas fotografias que dizem que está todo mundo morrendo por aqui. Qual a imagem que tínhamos da Itália em março do ano passado? Na época, ninguém queria ficar perto de um italiano vindo de lá. Não sei se essa imagem do Brasil perdura por muito tempo. Atualmente é muito ruim. Por nossa causa algumas ilhas do Caribe se juntaram e cancelaram a entrada de qualquer sul-americano. Pois acham que Manaus espalhou sua variante para a região toda. É como aconteceu com o Ebola, na África. A Tanzânia não tinha nada a ver com a doença, não tinha nem voo para a região afetada. Mas todo mundo parou de viajar para o país. Mas nada como o tempo para que as pessoas se esqueçam. Chile está indo muito bem na vacinação, mas se fechou agora. E para aceitar brasileiro vai demorar.

E os turistas estrangeiros, algum dia voltam?
Os turistas tradicionais talvez só quando a pandemia for realmente erradicada no Brasil. Quando os hospitais estiverem tranquilos, os níveis de contaminação forem baixíssimos. O estrangeiro que vem para cá fazer algo específico, como kitesurfe no Nordeste, pode voltar mais cedo. Por outro lado, o real está completamente desvalorizado. Está muito barato viajar para cá, o que pode ser um peso. Hoje, porém, os estrangeiros deverão dar prioridade ao Peru e ao Chile, dois grandes concorrentes do Brasil, agora considerados mais seguros.

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