Destruído por incêndio, Cultura Artística reabre em São Paulo após 16 anos
Agora voltado à música, espaço que tem a maior obra de Di Cavalcanti na cidade passou por restauro de R$ 150 milhões
Agência de notícias
Publicado em 25 de agosto de 2024 às 11h12.
Na madrugada de 17 de agosto de 2008, os moradores do bairro paulistano da Consolação, na proximidade do número 196 da Rua Nestor Pestana, assistiram a um icônico espaço da cidade — o Teatro Cultura Artística, inaugurado em 1950 — arder em chamas.
Com o incidente, cuja causa nunca foi confirmada, o imóvel ficou praticamente destruído. Salvaram-se, pela astúcia de um segurança que fechou uma porta corta-fogo, os foyers do térreo e o arquivo histórico.
Graças à parede dupla na fachada, também restou em pé o monumental painel do modernista Di Cavalcanti (1897-1976), que adorna até hoje a entrada do endereço.
Passados 16 anos da tragédia e após uma reforma de 150 milhões de reais, o teatro será reaberto neste domingo, 25, totalmente repaginado.
"Nosso maior desafio foi sem dúvida captar recursos. O Cultura Artística é um teatro totalmente privado (ligado à centenária Sociedade Cultura Artística), portanto, toda a reconstrução foi feita com doações e uso de leis de incentivo. Tivemos mais de 800 doadores", diz o diretor-executivo Frederico Lohmann.
Espaço será dedicado à música
O Cultura Artística volta à cena paulistana sem as centenas de sessões de teatro que costumava receber até 2008.
Agora, o ponto cultural será dedicado somente à música, em apresentações intimistas, um nicho ainda pouco explorado na cidade.
Neste primeiro ano, deve ocupar-se especialmente das composições clássicas, segmento que sempre fez parte do repertório local. Terá apresentações que demandam até 60 músicos por vez, a capacidade total do palco.
A partir de 2025, porém, é esperado que o endereço receba também agendas ligadas à MPB, à música eletrônica e ao jazz. Os quatro concertos de abertura ao público ficarão a cargo da Câmara Filarmônica Alemã de Bremen.
Os ingressos estão totalmente esgotados, mas a casa trabalhará, nas próximas agendas, com cotas de ingressos a preços populares e a possibilidade de comprar tíquetes remanescentes de última hora por R$ 20. Além, claro, das entradas a preços regulares.
"Uma referência importante para nós foi Carnegie Hall (em Nova York), que tem também um trabalho de formação muito relevante", afirma Frederico.
Esculturas
Em comparação ao projeto anterior, feito pelo arquiteto Rino Levi (1901-1965), a sala de espetáculos deixou de ter cortinas que separam os bastidores do ambiente cênico (o tecido poderia atrapalhar o som) e ganhou esculturas de Sandra Cinto na parede — que ajudam a compor a acústica do local.
A sala principal está pronta para receber 773 pessoas na plateia por vez e há ainda um segundo auditório, para 150 pessoas.
Onze salas de aula, uma unidade da livraria Megafauna e um café completam o complexo de atividades. Ou seja, se antes de fechar o Cultura Artística concentrava as atividades para os horários noturnos, agora é esperado que ele movimente a região durante todo o dia.
O grandioso painel de Di Cavalcanti, com impressionantes 342 metros quadrados, é uma atração à parte. Com mais de um milhão de pastilhas, ele figura como o maior trabalho de Di disponível em São Paulo. Poupado do incêndio, passou por um restauro ainda entre 2010 e 2011, sobretudo para limpeza. O serviço foi feito pela arquiteta Isabel Ruas, uma das principais mosaicistas do país.