(Stefania Pelfini, La Waziya Photography/Getty Images)
Colunista
Publicado em 25 de agosto de 2023 às 14h23.
Os amantes de café, dos casuais aos mais especialistas, devem conhecer o grão arábica. Afinal, não é difícil encontrar embalagens do produto que apresentam a informação “100% arábica” como símbolo de qualidade. No entanto, os consumidores podem observar outra espécie ganhando espaço na prateleira: o canéfora.
Ele possui duas variedades: os conilons e os robustas. Antes vistos como cafés de segunda linha, eram, normalmente, utilizados para baratear blends (misturas) ou na fabricação de cafés solúveis. Mas, essa realidade vem mudando. Os produtores estão investindo na produção do grão e, como consequência, as safras têm apresentado maior variedade e qualidade. A indústria e o público, por outro lado, percebem as vantagens econômicas e de possibilidades de sabores, tendência mundial.
Para quem ainda não conhece o café canéfora, preparamos algumas dicas.
O Coffea canephora possui algumas diferenças importantes em relação ao arábica, desde os cuidados necessários para o seu cultivo até chegar à mesa. Seus grãos, por exemplo, são menores e contêm o dobro de cafeína em relação ao arábica, possuindo um menor teor de açúcar. Como resultado, chega-se a uma bebida com predominância de sabores de cacau, açúcar mascavo, canela, entre outros, e uma presença marcante de amargor.
Vale destacar que em todas as regiões produtoras de canéforas, sejam os conilons do Espírito Santo ou da Bahia ou os robustas amazônicos, produzidos em Rondônia, há uma produção de excelente qualidade. É possível encontrar grãos canéforas que não apresentam amargor marcante e, por outro lado, trazem sensoriais como frutas vermelhas, especiarias, uísque e até florais.
Em uma conversa com Rapha Brandão, CEO do Café di Preto e especialista em café, outro ponto importante sobre o canéfora foi levantado: a vida útil de sua qualidade. O torrefador apontou ter consumido cafés conilon torrados há mais de seis meses, cuja qualidade o surpreendeu. Em comparação, os arábicas começam a declinar sensorialmente a partir de dois meses de torra.
Se antes o café canéfora era visto como inferior, hoje em dia, já é possível encontrar variações dessa espécie com alta pontuação, competindo e conquistando prêmios. Para Lucas Louzada, professor do Instituto Federal do Espírito Santo, a flexibilidade do canéfora nos processos de fermentação e modificação de perfil sensorial, proporcionou uma releitura para o grão, com o consumidor entendendo que há espaço para outros cafés.
Também ouvimos Enrique Alves, pesquisador da EMBRAPA, que destaca o grande papel da tecnologia nessa redescoberta do grão, com as lavouras passando por uma imensa evolução nas últimas décadas, aumentando a produtividade dos cafezais da espécie no Brasil. Atualmente, somos o segundo maior produtor de café da espécie canéfora, atrás apenas do Vietnã, posição liderada pelos estados do Espírito Santo e Rondônia, detentores da maior variabilidade genética dos cafés dessa espécie no país.
No horizonte do canéfora, está o merecido reconhecimento, trazendo uma bem-vinda diversidade para os paladares de todos os brasileiros apreciadores de um bom café e, na visão de Louzada, há ainda mais espaço para ser conquistado, o que não pode ser visto como uma ameaça, mas sim como um fator de competição para os produtores buscarem ainda mais qualidade. Assim, apesar do selo “100% Arábica” ser chamativo, vale a pena buscar novos sabores com os canéforas e desfrutar de toda a variedade de cafés que o Brasil pode oferecer.