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Conheça a empresa que está mudando o mercado brasileiro de relógios vintage

A I.V.U.W. oferece peças garimpadas de qualidade, revisadas e a preço justo para uma comunidade bastante fiel e engajada

Higor Lopes da I.V.U.W.: relógios vintage de confiança (Leandro Fonseca/Exame)
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 10 de setembro de 2024 às 15h13.

Última atualização em 10 de setembro de 2024 às 15h21.

Todas as noites de segunda, quarta e sexta, um grupo de aficionados por relógios vintage começa a se agitar. Por volta das 21 horas, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco depois, a I.V.U.W. anuncia, em sua conta de WhatsApp, as peças que serão vendidas. Primeiro entra uma foto do relógio, em seguida dados como marca e modelo, número de referência, ano ou década de fabricação, tamanho da caixa.

Depois vem o aviso de que todos os relógios serão entregues polidos, revisados, higienizados e com um ano de garantia. São serviços raros nesse mercado, tanto a parte de revisão como a garantia. Dependendo do modelo anunciado, acontece uma corrida para ver quem garante primeiro a peça. Muitas vezes as vendas são feitas em minutos.

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“Alguns relógios saem muito rapidamente, sabemos que é venda certa”, diz Higor Lopes, um dos três sócios da I.V.U.W.. Entre as marcas preferidas dos clientes estão algumas mais específicas desse mercado vintage, como Universal Geneve, e outras mais conhecidas como Omega, com modelos como Seamaster ou Constellation dos anos 1960. Esses começam em R$ 3,2 mil.

Entre os best sellers da I.V.U.W. estão o Omega Speedmaster, com preço médio de R$ 15 mil; o Cartier Tank Must, com dezenas de variações de cor de mostrador, tamanho de caixa e movimento, entre R$ 6 mil e R$ 10 mil; e Rolex nas versões Oyster Perpetual e Datejust, com caixa de 34 ou 36 milímetros, a um valor médio de R$ 20 mil.

Garantia das peças e presença digital

A I.V.U.W. (acrônimo de iconics vintages uniques wartches), com sede em São Paulo, trabalha de uma forma diferente da maior parte dos vendedores desse universo. “Poucas coisas no mercado de relojoaria são tão complexas quanto compra e venda de relógios vintage”, explica Greg Duboc, colecionador e influenciador de relojoaria.

“Como são relógios de épocas em que não se tinha muitos registros, onde os padrões não eram 100% mantidos nem pelas próprias fábricas, e como são relógios que estão sendo usados por pessoas há muito tempo, ter confiança no vendedor é fundamental.”

Nesse caso, boa parte da confiança dos clientes passa pela ótima comunicação da marca. Higor aparece nos vídeos postados na conta de Instagram da I.V.U.W., usando e falando sobre os relógios à venda, em sua casa, na rua ou dentro do carro. “As pessoas estão vendo a minha cara e pensam: poxa, eu posso comprar um relógio dele. É quase como se estivessem na loja”, diz.

O outro diferencial da I.V.U.W é a qualidade com que as peças são entregues. A empresa tem parceria com a maior oficina de assistência técnica do país, autorizada de algumas das principais marcas suíças. Todos os relógios passam por uma revisão completa por lá. Se alguma falha aparecer, a empresa não vende o relógio e arca com o prejuízo.

“O que eles estão fazendo hoje é conseguir transmitir a segurança para o comprador de que ele não está adquirindo um ‘frankenstein’ ( como são chamados relógios modificados, com peças improvisadas no lugar de originais ), entregando relógios realmente verificados, revisados e com garantia, mostrando históricos e procedência”, diz Greg. “Isso tudo, aliado a uma presença digital bem fundamentada, coloca eles hoje num patamar acima do mercado.”

Higor Lopes e parte do acervo da I.V.U.W.: gosto pessoal e importância para a relojoaria (Leandro Fonseca/Exame)

O início da I.V.U.W.

Higor Lopes é um empreendedor serial. Abriu muitas empresas, fechou algumas, vendeu outras. Ex-atleta de triatlo e formado em administração de empresas, chegou a fazer estágio em uma empresa de seguros, mas logo percebeu que preferia trabalhar por conta própria.

Entre seus negócios passados estão agência de marketing esportivo e oficina de customização de moto. Até que no início da pandemia sua vida mudou. “Minha família vem do ramo de alimentação, padaria, pizzaria, bar, restaurante, meus avós fizeram isso a vida toda. Com os estabelecimentos fechados, meu pai me chamou um dia e disse que eles precisavam de ajuda.”

Higor investiu recursos e passou a se dedicar aos negócios da família. Ao mesmo tempo estava montando casa e sua esposa passava por um tratamento de fertilização. “Foi uma época bastante dura, de muito sacrifício”, conta. Até que, um ano atrás, os relógios antigos se mostraram um hobby lucrativo.

“Herdei um relógio suíço do meu avô e sempre gostei de acessórios. Até que comecei a comprar uns relógios, revisava e vendia. Fiz uma página no Instagram, criei a marca da empresa, postava os vídeos. Comecei a vender 30, 40 relógios por mês, a um custo baratinho, mas com margem absurda. Fiz uma grana que me ajudou muito nesse período.”

A chegada dos dois sócios

Com a repercussão nas redes sociais e o sucesso imediato das vendas, Higor passou a receber muitas ofertas de investimento e de sociedade. Foi recusando todas. Até que duas propostas fizeram sentido. “Não era de dinheiro que eu precisava, era de estrutura para crescer e parceria mesmo”, diz.

O primeiro a entrar para a sociedade foi o publicitário Cayto Trivellato, dono da premiada produtora e agência Cabaret. Ele é quem garimpa, negocia e compra as peças. “Ele tem nos levado a procurar relógios mais diferentes, mais caros. E ele me desafia a vendê-los, me faz crescer. Sou muito grato a ele.”

Depois entrou Bruno Hamad, gestor de operações em alimentos e bebidas. Organiza grandes eventos e foi o responsável, por exemplo, pela operação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Ele queria fazer parte da sociedade e me perguntou qual era minha necessidade. Eu disse que precisava de alguém para controlar o financeiro, tocar o operacional da empresa. Deu muito certo.”

Higor faz toda a comunicação e venda dos relógios. Depois de postar os relógios, faz os atendimentos, um a um, muitas vezes madrugada adentro. A frase mais comum de Higor, que já virou um bordão, é: “Vocês estão loucos de não terem comprado essa peça ainda.” A nova formação da empresa, com os três sócios, tem seis meses.

As regras para participar dos grupos I.V.U.W.

Os dois grupos de venda do WhatsApp têm mais de 1,2 mil seguidores. Em outro grupo, com cerca de 800 seguidores, a comunidade pode interagir, postar seus próprios relógios, tirar dúvidas. Algumas regras precisam ser seguidas dentro do grupo. Não é permitido falar de política, piadas sexistas são proibidas e anúncios de venda são restritos à I.V.U.W., entre outras.

Os relógios colocados à venda seguem alguns critérios. “Tem um pouco do meu gosto pessoal e um pouso do que é considerado interessante na relojoaria, o que os colecionadores dão valor”, diz Higor.

Relógios com quatro, cinco ou seis décadas de vida, cabe lembrar, muitas vezes apresentam marcas do tempo, como pátina no mostrador. É o que traz charme a essas peças. A I.V.U.W. revisa, lubifica e até faz polimento. Mas não restaura componentes e nem altera a identidade dos relógios.

Depois do início da I.V.U.W., outros vendedores de relógios vintage estão seguindo a mesma fórmula de anúncios mais interativos e serviço de revisão e garantia. Higor garante que não se importa. “Até ajudamos quem nos pede para entrar nesse mercado. Queremos fomentar a cultura da relojoaria no Brasil e temos muita confiança na excelência do nosso trabalho.”

Relógios vintage: cultura de uma época (Leandro Fonseca/Exame)

Patek Philippe Aquanaut de R$ 150 mil

Hoje, um ano depois da fundação e seis meses depois da atual formação societária, a I.V.U.W. vende entre 40 e 50 relógios por mês. No início eram apenas relógios de entrada. Recentemente, passou a oferecer Audemars Piguet, Vacheron Constantin, Patek Philippe. O relógio mais caro vendido até agora foi um Patek Philippe Aquanaut, por R$ 150 mil.

Somente de oficina a I.V.U.W. gasta mais de R$ 120 mil por mês. De pulseiras de couro são entre R$ 8 mil e R$15 mil. O faturamento nos primeiros seis meses foi de R$ 1 milhão. Nos últimos seis meses, esse montante foi bem maior. “Todas as metas financeiras foram batidas nesses seis meses”, diz Higor.

A empresa compra e vende a maior parte dos relógios. Algumas poucas peças são consignadas. A estrutura continua enxuta. “A gente tem um celular, duas máquinas de cartão e um carro”, afirma Higor. O único funcionário é o motorista que leva as peças aos clientes que moram em São Paulo e aos poucos vai entendendo um pouco mais sobre caixas e movimentos.

“O relógio é só consequência”

Mais do que poder oferecer relógios antigos em bom estado aos aficionados, Higor e seus sócios se orgulham de ter construído essa comunidade e conquistado o respeito de colecionadores tradicionais. Um deles, talvez um dos maiores do Brasil, é Douglas Gravina, que está nos grupos e interage com os clientes com frequência.

“O mercado vintage nacional até então era muito restrito às mesmas pessoas”, diz Gravina. “Esse pessoal, o Higor, o Cayto, têm dado um novo vigor, uma força a esse mercado. Eles criaram um grupo de entusiastas desse cultivo do vintage que só tem aumentado.”

Gravina acredita que a dedicação dos sócios pode ajudar a criar por aqui uma cultura dos relógios vintage, que, ao contrário de países como Itália e Alemanha, é muito incipiente no Brasil.

“Esses rapazes, que são jovens, estão trazendo uma releitura para esse mercado. Torço por eles e desejo sucesso sempre. Porque o mundo dos vintage não é só relógio. Pesquisando sobre as peças aprendemos sobre a cultura da época, o comportamento, a história. O relógio é a consequência.”

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