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Como Selton Mello seduz para atrair o sucesso

Abraços coletivos no elenco, presentes de aniversário, elogios pelo Facebook. Selton Mello agrada a equipe para garantir a harmonia no set

Durante as filmagens de O Palhaço, Selton recorreu a uma música interpretada por Cesaria Evora para emocionar a equipe (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2012 às 11h48.

São Paulo - Em um pequeno auditório, no bairro carioca da Gávea, uma menina de cabelos longos e loiros está diante do ator e diretor Selton Mello. Depois de esperar por mais de uma hora ao lado de dezenas de outras crianças, Larissa Manoela segue as instruções do cineasta: pega uma espada e age como se fosse integrante de um circo, acostumada a esbarrar em palhaços e acrobatas. Um mês depois desse encontro, no dia de seu aniversário (28 de dezembro de 2009), a garota atende o telefone de casa, em São Paulo.

Do outro lado da linha, Selton lhe daria um presente e tanto: a confirmação de que havia passado no teste para viver a pequena Guilhermina no filme O Palhaço. O longa-metragem estreou em outubro e já fez mais de 1,4 milhão de espectadores, tornando-se uma das surpresas cinematográficas de 2011.

O fato de a notícia chegar a Larissa pouco antes de começar a sua festa de 9 anos não foi uma coincidência. Selton esperou mesmo a data, uma atenção que pode ser interpretada como excessiva, mas não excepcional. O diretor manteve uma relação de intensa proximidade com cada ator de seu elenco. Eram trocas de presentes, elogios, cumplicidades, enfim, toda a sorte de delicadezas. Foi numa visita ao ator e amigo Paulo José, por exemplo, que a atriz Teuda Bara encontrou um pacote de cor parda, com o roteiro de O Palhaço.

Junto ao texto, um bilhete: “Dona Zaíra foi escrita para você. Espero que goste. Beijos, Selton Mello”. Já o convite a Tonico Pereira, colega de longa data, começou com os seguintes dizeres: “Luís da Gama, 23 anos, estudante de engenharia. Tenho muito apreço por seu pai”. Tonico proferia as frases no filme Guerra de Canudos (1997), de que Selton também participou. Mais de dez anos depois, o cineasta ainda recorda a fala e a repete sempre que vê o amigo. “É uma brincadeira maravilhosa. Algo muito carinhoso da parte dele”, diz Tonico.


Tamanho cuidado com a equipe de O Palhaço revelou-se uma das marcas mais fortes de Selton na direção. Por meio de tais demonstrações de afeto, ele acabou criando relacionamentos que sobreviveram ao término das filmagens. Se alguns cineastas obtêm o controle com atitudes intimidadoras ou autoritárias, Selton prefere alcançá-lo por meio da sedução – estratégia que já se insinuava em Feliz Natal, seu primeiro longa, de 2008. “É mais fácil desrespeitar um diretor que vive dando esporro. O Selton te desarma e, se acontece alguma coisa de que ele não gosta, é só um olhar e acabou. Todo mundo respeita”, diz o ator Paulo Guarnieri, que trabalhou em Feliz Natal.

Para esta reportagem, Bravo! conversou com 15 atores que já foram dirigidos por ele. Todos ainda mantêm contato frequente com o cineasta. No documentário Palhaço.Doc, de Marcelo Pontes, sobre o novo filme, Selton expõe o quanto se sente responsável pela atmosfera no set: “Dizem que o humor do palhaço dita o humor do circo. Eu acho que, da mesma forma, o humor do diretor dita o humor do filme”.

Mapa Astral

Desde a criação da página de O Palhaço no Facebook, Selton se encarrega pessoalmente de quase todas as postagens. Dos 184 posts publicados nos últimos três meses, 63 são reverências do diretor aos envolvidos no processo. Diariamente, ele se lembra de sua equipe, com escritos que vão de felicitações de aniversário a agradecimentos pela participação no longa. Selton compartilhou, por exemplo, um vídeo dos cantores Moacyr Franco e Nelson Ned de 1976 e escreveu: “Moacyr não canta no filme. Preferi assim. Ele já está soberbo no papel de delegado”. Quando O Palhaço atingiu 1 milhão de espectadores, um texto de comemoração seguia a mesma linha: “Fabiana Karla, queria que 1 milhão de pessoas soubessem que você antes de tudo é uma verdadeira atriz”.


“Muitos integrantes da equipe comentaram que sentiram algo inédito durante as filmagens. Parecia que a Vânia (Catani, produtora) e o Selton tinham contratado um astrólogo e consultado o mapa astral de cada um para saber se ia dar certo”, conta Álamo Facó, um dos irmãos Lorota, dupla de músicos do circo fictício Esperança. Para gravar uma das cenas mais delicadas do longa, na qual Benjamin – incorporado pelo próprio Selton – decide abandonar o circo, o diretor pediu que os atores fossem mais cedo para o set.

Quando chegaram, tocava a música Ausência, cantada por Cesaria Evora. Selton os abraçou coletivamente e, partindo desse abraço, cada um contou histórias que julgavam importantes para sua vida. “Acho que o Selton queria que víssemos que não somos tão diferentes dos personagens de circo que interpretávamos”, relembra Álamo.

Em grande parte das entrevistas que concedeu sobre O Palhaço, Selton Mello mencionou a importância de Paulo José para a realização do trabalho (no filme, o veterano ator e diretor gaúcho vive o dono do circo, Valdemar). Sua contribuição pode ser entendida pelo que aconteceu justamente naquela sequência de despedida do personagem Benjamin. Embalado por Cesaria Evora, Selton estava bastante emocionado, e isso transpareceu em sua atuação.

No dia seguinte, durante o café da manhã, Paulo lhe perguntou: “Quando você fez a cena, será que era aquilo mesmo?” Foi o suficiente para que Selton filmasse tudo novamente, de forma mais comedida. “O Paulo foi elegante... Ele tem também um olhar de diretor e, na hora, entendi que eu havia feito mais do que precisava”, diz o cineasta.


“Jamais falaria sobre isso”

Nem sempre, porém, essa atmosfera unânime de cumplicidade imperou na recente carreira de Selton como diretor. Um episódio polêmico envolveu Feliz Natal, seu primeiro longa. Em 2008, pouco antes do lançamento do filme, o ator Pedro Cardoso leu na abertura de uma sessão do Festival do Rio um manifesto contra a nudez no cinema e na televisão. Em seu discurso, disse ser “frequente que cineastas de primeiro filme exibam para seus amigos, em sessões privê, as cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz”. E declarou que o fato de namorar uma intérprete acentuou sua preocupação, por ver a mulher que amava “ter de se defender diariamente no trabalho contra a pornografia reinante”.

Sua namorada na época era Graziella Moretto (hoje os dois estão casados), atriz que fez sua primeira cena de nudez no filme de Selton. Em resposta, o diretor publicou no site do longa: “Feliz Natal foi concebido e realizado em um ambiente de harmonia, com todos os envolvidos trabalhando com respeito mútuo e delicadeza. Delicadeza é o sentimento que reinou antes, durante e mesmo depois das filmagens, com manifestações carinhosas trocadas entre toda a equipe e elenco”. Três anos depois desse acontecimento, o assunto ainda é um tabu. “Jamais falaria sobre isso”, diz o cineasta.

Para Selton, seu diferencial é ser um ator que dirige. “Já fui dirigido por gente atenciosa, meticulosa, sem paciência ou que me destratou. Sei como rendo melhor. Conheço as minhas limitações e também as de outros atores. Sei quem é absolutamente intuitivo, quem precisa de conversa, quem não gosta de ensaio. Existem vários tipos de atores e eu conheço esses tipos”, explica.

Outra marca de Selton é o costume de trabalhar com amigos. Em quase todos os seus projetos, pode-se encontrar na ficha técnica o roteirista Marcelo Vindicatto e os atores Álvaro Diniz, Oberdan Jr. e Hossen Minussi. Os quatro, Selton e mais alguns outros se conheceram com pouco menos de 20 anos, no fim da década de 1980, quando cursavam teatro no tradicional O Tablado, do Rio de Janeiro. Desde então, o diretor mantém as mesmas amizades e, sempre que pode, as leva para seus projetos. Isso já era evidente no programa Tarja Preta, dirigido e apresentado por ele no Canal Brasil, de 2004 a 2009, com um intervalo em 2008. Os colegas apareciam em diferentes quadros que entrecortavam as entrevistas.


Selton Mello já disse inúmeras vezes que sua escola de direção foi o Tarja Preta. A afirmação é justificada pelos cinco anos testando linguagens e pelas entrevistas com mais de 100 profissionais do cinema nacional: “Eu sempre brincava que, depois desse tempo, poderia participar de um quiz sobre a cinematografia brasileira”. O interesse pela direção, no entanto, pode ter surgido bem antes. Seus amigos contam que era comum vê-lo com uma filmadora, registrando improvisações e brincadeiras. Ainda na adolescência, chegou a dirigir um filme com Oberdan Jr. no elenco. “Selton era o nosso Glauber. Já perdi as contas de quantas vezes o vi com uma câmera nas mãos”, diz Vindicatto.

Foi também depois de uma das entrevistas realizadas no programa do Canal Brasil que Selton resolveu rodar seu primeiro curta-metragem, em 2006, chamado Quando o Tempo Cair. A história de um velho aposentado, que precisa arrumar emprego para sustentar a família e não consegue retornar ao mercado de trabalho, foi roteirizada após a declaração do ator e comediante Jorge Loredo de que não fazia mais cinema por não ser convidado – no curta, ele é o protagonista. O humorista tornou-se famoso ao criar o personagem Zé Bonitinho, que hoje está no elenco de A Praça É Nossa, no SBT.

Em O Palhaço, Loredo interpreta o dono de uma loja de ventiladores. O ator, que também foi sondado para fazer Feliz Natal, mas na época não pôde participar por um problema de agenda, junta-se a muitos outros colegas que Selton está se habituando a garimpar – ora redescobrindo profissionais afastados do métier, ora dando papéis inesperados a atores que pareciam condenados a um único gênero, ora reafirmando parcerias antigas. Para o diretor, o resgate, além de uma homenagem a pessoas que admira, é um ato de resistência: “Quando o Loredo me diz que o maior fantasma para um ator não é a morte, mas a morte em vida, isso me comove. Eu posso ser ele daqui a 40 anos”.

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São Paulo - Em um pequeno auditório, no bairro carioca da Gávea, uma menina de cabelos longos e loiros está diante do ator e diretor Selton Mello. Depois de esperar por mais de uma hora ao lado de dezenas de outras crianças, Larissa Manoela segue as instruções do cineasta: pega uma espada e age como se fosse integrante de um circo, acostumada a esbarrar em palhaços e acrobatas. Um mês depois desse encontro, no dia de seu aniversário (28 de dezembro de 2009), a garota atende o telefone de casa, em São Paulo.

Do outro lado da linha, Selton lhe daria um presente e tanto: a confirmação de que havia passado no teste para viver a pequena Guilhermina no filme O Palhaço. O longa-metragem estreou em outubro e já fez mais de 1,4 milhão de espectadores, tornando-se uma das surpresas cinematográficas de 2011.

O fato de a notícia chegar a Larissa pouco antes de começar a sua festa de 9 anos não foi uma coincidência. Selton esperou mesmo a data, uma atenção que pode ser interpretada como excessiva, mas não excepcional. O diretor manteve uma relação de intensa proximidade com cada ator de seu elenco. Eram trocas de presentes, elogios, cumplicidades, enfim, toda a sorte de delicadezas. Foi numa visita ao ator e amigo Paulo José, por exemplo, que a atriz Teuda Bara encontrou um pacote de cor parda, com o roteiro de O Palhaço.

Junto ao texto, um bilhete: “Dona Zaíra foi escrita para você. Espero que goste. Beijos, Selton Mello”. Já o convite a Tonico Pereira, colega de longa data, começou com os seguintes dizeres: “Luís da Gama, 23 anos, estudante de engenharia. Tenho muito apreço por seu pai”. Tonico proferia as frases no filme Guerra de Canudos (1997), de que Selton também participou. Mais de dez anos depois, o cineasta ainda recorda a fala e a repete sempre que vê o amigo. “É uma brincadeira maravilhosa. Algo muito carinhoso da parte dele”, diz Tonico.


Tamanho cuidado com a equipe de O Palhaço revelou-se uma das marcas mais fortes de Selton na direção. Por meio de tais demonstrações de afeto, ele acabou criando relacionamentos que sobreviveram ao término das filmagens. Se alguns cineastas obtêm o controle com atitudes intimidadoras ou autoritárias, Selton prefere alcançá-lo por meio da sedução – estratégia que já se insinuava em Feliz Natal, seu primeiro longa, de 2008. “É mais fácil desrespeitar um diretor que vive dando esporro. O Selton te desarma e, se acontece alguma coisa de que ele não gosta, é só um olhar e acabou. Todo mundo respeita”, diz o ator Paulo Guarnieri, que trabalhou em Feliz Natal.

Para esta reportagem, Bravo! conversou com 15 atores que já foram dirigidos por ele. Todos ainda mantêm contato frequente com o cineasta. No documentário Palhaço.Doc, de Marcelo Pontes, sobre o novo filme, Selton expõe o quanto se sente responsável pela atmosfera no set: “Dizem que o humor do palhaço dita o humor do circo. Eu acho que, da mesma forma, o humor do diretor dita o humor do filme”.

Mapa Astral

Desde a criação da página de O Palhaço no Facebook, Selton se encarrega pessoalmente de quase todas as postagens. Dos 184 posts publicados nos últimos três meses, 63 são reverências do diretor aos envolvidos no processo. Diariamente, ele se lembra de sua equipe, com escritos que vão de felicitações de aniversário a agradecimentos pela participação no longa. Selton compartilhou, por exemplo, um vídeo dos cantores Moacyr Franco e Nelson Ned de 1976 e escreveu: “Moacyr não canta no filme. Preferi assim. Ele já está soberbo no papel de delegado”. Quando O Palhaço atingiu 1 milhão de espectadores, um texto de comemoração seguia a mesma linha: “Fabiana Karla, queria que 1 milhão de pessoas soubessem que você antes de tudo é uma verdadeira atriz”.


“Muitos integrantes da equipe comentaram que sentiram algo inédito durante as filmagens. Parecia que a Vânia (Catani, produtora) e o Selton tinham contratado um astrólogo e consultado o mapa astral de cada um para saber se ia dar certo”, conta Álamo Facó, um dos irmãos Lorota, dupla de músicos do circo fictício Esperança. Para gravar uma das cenas mais delicadas do longa, na qual Benjamin – incorporado pelo próprio Selton – decide abandonar o circo, o diretor pediu que os atores fossem mais cedo para o set.

Quando chegaram, tocava a música Ausência, cantada por Cesaria Evora. Selton os abraçou coletivamente e, partindo desse abraço, cada um contou histórias que julgavam importantes para sua vida. “Acho que o Selton queria que víssemos que não somos tão diferentes dos personagens de circo que interpretávamos”, relembra Álamo.

Em grande parte das entrevistas que concedeu sobre O Palhaço, Selton Mello mencionou a importância de Paulo José para a realização do trabalho (no filme, o veterano ator e diretor gaúcho vive o dono do circo, Valdemar). Sua contribuição pode ser entendida pelo que aconteceu justamente naquela sequência de despedida do personagem Benjamin. Embalado por Cesaria Evora, Selton estava bastante emocionado, e isso transpareceu em sua atuação.

No dia seguinte, durante o café da manhã, Paulo lhe perguntou: “Quando você fez a cena, será que era aquilo mesmo?” Foi o suficiente para que Selton filmasse tudo novamente, de forma mais comedida. “O Paulo foi elegante... Ele tem também um olhar de diretor e, na hora, entendi que eu havia feito mais do que precisava”, diz o cineasta.


“Jamais falaria sobre isso”

Nem sempre, porém, essa atmosfera unânime de cumplicidade imperou na recente carreira de Selton como diretor. Um episódio polêmico envolveu Feliz Natal, seu primeiro longa. Em 2008, pouco antes do lançamento do filme, o ator Pedro Cardoso leu na abertura de uma sessão do Festival do Rio um manifesto contra a nudez no cinema e na televisão. Em seu discurso, disse ser “frequente que cineastas de primeiro filme exibam para seus amigos, em sessões privê, as cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz”. E declarou que o fato de namorar uma intérprete acentuou sua preocupação, por ver a mulher que amava “ter de se defender diariamente no trabalho contra a pornografia reinante”.

Sua namorada na época era Graziella Moretto (hoje os dois estão casados), atriz que fez sua primeira cena de nudez no filme de Selton. Em resposta, o diretor publicou no site do longa: “Feliz Natal foi concebido e realizado em um ambiente de harmonia, com todos os envolvidos trabalhando com respeito mútuo e delicadeza. Delicadeza é o sentimento que reinou antes, durante e mesmo depois das filmagens, com manifestações carinhosas trocadas entre toda a equipe e elenco”. Três anos depois desse acontecimento, o assunto ainda é um tabu. “Jamais falaria sobre isso”, diz o cineasta.

Para Selton, seu diferencial é ser um ator que dirige. “Já fui dirigido por gente atenciosa, meticulosa, sem paciência ou que me destratou. Sei como rendo melhor. Conheço as minhas limitações e também as de outros atores. Sei quem é absolutamente intuitivo, quem precisa de conversa, quem não gosta de ensaio. Existem vários tipos de atores e eu conheço esses tipos”, explica.

Outra marca de Selton é o costume de trabalhar com amigos. Em quase todos os seus projetos, pode-se encontrar na ficha técnica o roteirista Marcelo Vindicatto e os atores Álvaro Diniz, Oberdan Jr. e Hossen Minussi. Os quatro, Selton e mais alguns outros se conheceram com pouco menos de 20 anos, no fim da década de 1980, quando cursavam teatro no tradicional O Tablado, do Rio de Janeiro. Desde então, o diretor mantém as mesmas amizades e, sempre que pode, as leva para seus projetos. Isso já era evidente no programa Tarja Preta, dirigido e apresentado por ele no Canal Brasil, de 2004 a 2009, com um intervalo em 2008. Os colegas apareciam em diferentes quadros que entrecortavam as entrevistas.


Selton Mello já disse inúmeras vezes que sua escola de direção foi o Tarja Preta. A afirmação é justificada pelos cinco anos testando linguagens e pelas entrevistas com mais de 100 profissionais do cinema nacional: “Eu sempre brincava que, depois desse tempo, poderia participar de um quiz sobre a cinematografia brasileira”. O interesse pela direção, no entanto, pode ter surgido bem antes. Seus amigos contam que era comum vê-lo com uma filmadora, registrando improvisações e brincadeiras. Ainda na adolescência, chegou a dirigir um filme com Oberdan Jr. no elenco. “Selton era o nosso Glauber. Já perdi as contas de quantas vezes o vi com uma câmera nas mãos”, diz Vindicatto.

Foi também depois de uma das entrevistas realizadas no programa do Canal Brasil que Selton resolveu rodar seu primeiro curta-metragem, em 2006, chamado Quando o Tempo Cair. A história de um velho aposentado, que precisa arrumar emprego para sustentar a família e não consegue retornar ao mercado de trabalho, foi roteirizada após a declaração do ator e comediante Jorge Loredo de que não fazia mais cinema por não ser convidado – no curta, ele é o protagonista. O humorista tornou-se famoso ao criar o personagem Zé Bonitinho, que hoje está no elenco de A Praça É Nossa, no SBT.

Em O Palhaço, Loredo interpreta o dono de uma loja de ventiladores. O ator, que também foi sondado para fazer Feliz Natal, mas na época não pôde participar por um problema de agenda, junta-se a muitos outros colegas que Selton está se habituando a garimpar – ora redescobrindo profissionais afastados do métier, ora dando papéis inesperados a atores que pareciam condenados a um único gênero, ora reafirmando parcerias antigas. Para o diretor, o resgate, além de uma homenagem a pessoas que admira, é um ato de resistência: “Quando o Loredo me diz que o maior fantasma para um ator não é a morte, mas a morte em vida, isso me comove. Eu posso ser ele daqui a 40 anos”.

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