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Com a pandemia, ela decidiu que não compraria praticamente nada

Muita gente está ciente de como o impacto do consumo e do desperdício está contribuindo para a crise climática

Liz Chai e seu cachorro em  Portland, nos Estados Unidos (Nils Ericson/The New York Times)

Liz Chai e seu cachorro em Portland, nos Estados Unidos (Nils Ericson/The New York Times)

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Daniel Salles

Publicado em 11 de janeiro de 2021 às 13h26.

Última atualização em 15 de janeiro de 2021 às 10h07.

Elizabeth Chai decidiu que não compraria nada em 2020, com exceção de comida, café, artigos de higiene pessoal (se ela ficasse sem algo essencial) e um ou outro serviço ocasional, como um corte de cabelo. Resistiria à vontade de ampliar seu guarda-roupa ou comprar qualquer artigo para casa. Consertou as coisas ou as pegou emprestadas, em vez de comprar novas, e se livrou do que já tinha; 2.020 itens vendidos, doados ou jogados fora era seu objetivo.

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Seu compromisso de "não comprar" foi inspirado pelo desejo de minimizar seu impacto no planeta e de apreciar melhor o que já possui. Ela contou a alguns amigos sobre o projeto e fez uma lista de regras para não cair em tentação.

Isso foi antes de a pandemia forçar muita gente em todo o mundo a ficar em casa durante grande parte de 2020. Três meses depois de iniciar seu projeto, Chai, de 40 anos, que trabalha como designer gráfica em Portland, no Oregon, viu-se cercada apenas por seus pertences, sem o escape ou a variedade de sua vida normal.

Ela manteve seu compromisso, regularmente doando ou vendendo coisas de que não precisava e resistindo à tentação de comprar novas. O que aprendeu é que as tentações desaparecem surpreendentemente rápido.

No início do shutdown da covid-19, os gastos totais dos consumidores caíram, mas as compras on-line aumentaram. (Roupas confortáveis para ficar em casa, equipamentos para se exercitar e aspiradores de pó robôs são alguns dos produtos que venderam bem em 2020.)

Mr. B, o pet de Chai (Nils Ericson/The New York Times)

Mesmo assim, alguns começaram a achar o ato de consumir mais estressante do que nunca. Muita gente está ciente de como o impacto do consumo e do desperdício está contribuindo para a crise climática, e há um ressentimento crescente em relação às corporações que vão enriquecendo num momento em que tantas pessoas passam por dificuldades. Comprar qualquer coisa já parecia um dilema moral. A pandemia introduziu questões adicionais de como e o que comprar sem potencialmente colocar outros em perigo.

Nivi Achanta, que mora em Seattle, no estado de Washington, estava especialmente curiosa sobre como ser uma consumidora melhor. Em agosto, teve de reexaminar seus gastos habituais quando perdeu o emprego em uma consultoria de tecnologia, na qual estava desde 2017; foi seu primeiro emprego depois da faculdade e o dinheiro era bom. Mas Achanta, de 25 anos, disse que muitas vezes se sentia frustrada com a desconexão entre os valores declarados da empresa e o que esta realmente priorizava. Falava em destacar questões sociais, mas na hora H o lucro sempre vinha em primeiro lugar. "E eu estava apenas deixando as pessoas ricas mais ricas", afirmou.

Achanta achou que primeiro ganharia dinheiro e se concentraria em fazer a diferença depois. A perda do emprego, porém, acelerou essa mudança. Em setembro, começou a trabalhar em tempo integral no Soapbox Project, plataforma para informar e orientar ações sobre uma série de questões de justiça social.

Em um artigo que escreveu para o Soapbox Project sobre presentes sustentáveis, Achanta, em vez de fazer uma lista de produtos ecológicos que as pessoas podem ofertar, escreveu: "A melhor maneira de ser sustentável é parar de comprar." Suas sugestões de presentes incluem assinaturas digitais, recursos educacionais e alguns produtos que substituem versões descartáveis. (Isso também é uma questão prática: Achanta passou de um salário anual de seis dígitos para um de algumas centenas de dólares por mês, e precisou usar suas economias para viver.)

Por meio do Soapbox Project, seu objetivo é educar os leitores sobre formas práticas de diminuir seu impacto no planeta, quer estejam ou não com problemas financeiros. Por exemplo, ela escreve muito sobre comprar coisas de segunda mão. "Agora estou realmente seguindo esse conselho, porque é uma atitude ambiental e financeiramente responsável", comentou.

Parte da decoração da casa de Chai (Nils Ericson/The New York Times)

Por ter se dedicado a usar seu dinheiro mais deliberadamente em 2020, Chai foi capaz de ajudar parentes que perderam o emprego e tinham dificuldade para pagar o aluguel. E quando os protestos eclodiram em resposta à morte de George Floyd, ela doou para fundos de fiança: "Não precisei pensar duas vezes nisso."

Apesar de sua promessa de não comprar nada, ela ainda apoia pequenas empresas, como cafeterias independentes, ao comprar seu café, ou com doações.

Quando uma amiga cinegrafista fez um pequeno vídeo sobre seu projeto sem compras e o compartilhou no Instagram, Chai começou a receber muitas perguntas de pessoas querendo tentar algo semelhante.

Ela considerou compartilhar sua lista de regras. (Pode-se comprar: filtros de café, itens tecnológicos se algo estiver quebrado, presentes. Não se pode comprar: utensílios de cozinha, caixas de armazenamento, cadernos.) "Mas isso é uma coisa complicada, porque as regras que estabeleci são específicas para mim", ressaltou.

Chai conseguiu se livrar de 2.020 coisas até o fim de 2020 com a ajuda de uma planilha. Agora, está pensando em estender o experimento para 2021, e talvez assim ela seja capaz de oferecer mais conselhos, porque certamente não se arrepende. "Olho ao redor e tudo que vejo são coisas que quero que estejam aqui", afirmou.

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