Obra da Tarsila do Amaral: lances a partir de 32 mil reais (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 8 de setembro de 2020 às 12h32.
Última atualização em 9 de setembro de 2020 às 06h40.
Uma novela que se arrasta desde 2005, quando a falência do Banco Santos foi decretada, ganhou um novo capítulo nesta semana. As obras de arte remanescentes do extraordinário acervo de Edemar Cid Ferreira, que controlava a instituição financeira, poderão ser arrematadas em um leilão com lances online ou por telefone. Vencedor de um edital promovido pela Justiça, James Lisboa é o leiloeiro incumbido da missão.
As obras podem ser apreciadas no site de sua casa de leilões – www.leilaodearte.com – e as mais valiosas estão em exibição na sede do empreendimento, mediante agendamento, de 8 a 20 de setembro, das 10h às 18h. Fica na Rua Dr. Melo Alves, 397, nos Jardins, em São Paulo. O leilão vai ocorrer entre 21 de setembro e 2 de outubro, cada dia dedicado a um lote. Pinturas, esculturas e fotografias serão vendidas nos primeiros dois dias; nos outros, praticamente só retratos, que representam quase 80% do acervo em leilão. Os lances estão liberados a partir da próxima segunda-feira (14).
O acervo é composto por 1619 obras, há 14 anos aguardadas no Museu de Arte Contemporâneo da USP (MAC-USP). O item mais valioso é a coloridíssima pintura “The Foundling N#6”, da série Kleist Novellas, do artista plástico americano Frank Stella. Lance mínimo: 3 milhões de reais. De Tarsila do Amaral está à venda "Estudo para Operários". Trata-se de um desenho a grafite sobre papel de 1933. Será de quem desembolsar no mínimo 32 mil reais. Também há trabalhos mais em conta, a exemplo das litogravuras de Amilcar de Castro, que partem de 800 reais. Tunga, Mira Schendel e David Hockney são outros nomes que fazem parte da coleção de Edemar, que nos áureos tempos chegou a somar 12 mil obras.
Estima-se que o leilão vá amealhar perto de 10 milhões de reais. O dinheiro arrecadado será usado para cobrir um naco da dívida de mais de 3 bilhões de reais que o banqueiro deixou com a quebra do Santos com cerca de 2 mil credores – ainda há 1,2 bilhão de reais em aberto. Edemar foi condenado em 2006 a 21 anos de prisão por crimes como gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. Em 2015, a condenação chegou a ser anulada, mas o processo continua.
O leilão trará algum alívio para os credores, mas deixou o MAC-USP contrariado. Segundo Ana Magalhaes, diretora do museu, a instituição gastou 20 milhões de reais para armazenar e catalogar as obras que pertenceram ao banqueiro. E não é de hoje que pleiteia o ressarcimento desse valor em obras. Mas tudo que conseguiu foi 37 mil reais, quantia determinada por uma decisão judicial do ano passado.