The Frame (Le Cadre), de Frida Kahlo: a mexicana conheceu Bartolí em Nova York (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2015 às 20h11.
Nova York - A casa de leilões Doyle de Nova York leiloará na próxima segunda-feira um lote de 25 cartas inéditas enviadas pela artista mexicana Frida Kahlo ao seu amante Josep Bartolí, desenhista e pintor espanhol exilado na "Big Apple".
Foi nesta cidade que Bartolí e a artista se conheceram e iniciaram o intenso romance, revelado pela correspondência, desconhecida até agora, e que tem valor estimado entre US$ 80 mil e US$ 120 mil.
A mexicana conheceu Bartolí por meio de sua irmã Cristina, enquanto aguardava para enfrentar uma complicada operação na coluna vertebral em um hospital de Nova York, onde foi visitada pelo pintor catalão, para quem escreveu estas mais de cem páginas entre agosto de 1946, quando tinha 39 anos, e novembro de 1949.
A operação foi uma das muitas intervenções cirúrgicas à que Kahlo se submeteu por causa do grave acidente de ônibus que sofreu quando tinha 18 anos, em que fraturou a coluna vertebral e que a deixou prostrada na cama durante longos períodos.
A biógrafa de Frida Kahlo Hayden Herrera destacou que as mensagens que serão leiloadas "choram com uma solidão que parte o coração e com a miséria da dor física", já que foram escritas enquanto ela se recuperava no México após esta última operação.
"Suas cartas a Bartolí falam sobre se sentir fechada, isolada e imóvel. Mas tanto em suas cartas como em seus autorretratos, Kahlo nos mira com seu olhar desafiante e com sua determinação para superar sua miséria", diz Herrera.
Estas 25 cartas falam da doença, de sua tempestuosa relação com o marido, Diego Rivera, e de sua dificuldade para pintar, mas são principalmente declarações de amor que imortalizaram o romance entre a mexicana e Bartolí.
"Meu Bartolí... Não sei como escrever cartas de amor. Mas queria te dizer que meu inteiro ser está aberto para ti. Desde que me apaixonei tudo se transformou e está cheio de beleza... O amor é como um aroma, como uma corrente, como a chuva. Saiba, meu céu, que chove em mim e eu, como a terra, te recebo. Mara", diz uma delas.
Kahlo assinava suas cartas como "Mara", um diminutivo de "maravilhosa", como era chamada por seu amante, e ela chamava Bartolí com de "Sonja", para que Rivera não suspeitasse de sua infidelidade, já que o pintor mexicano não tinha problemas com as relações de sua esposa com outras mulheres, mas era ciumento com os homens.
Embora estivesse profundamente ligada a Diego Rivera, Herrera afirmou que as cartas sugerem que a mexicana teria deixado seu marido por Bartolí se tivesse tido oportunidade, porque ele dava "um amor que nunca tinha experimentado, apaixonado, carnal, suave e maternal".
Em algumas das primeiras mensagens, Kahlo contou a Bartolí que tinha sofrido um atraso em sua menstruação, o que a fez pensar em uma gravidez que desejaria se sua coluna permitisse: "Se não estivesse na condição em que estou e fosse realidade, nada me faria mais feliz. Pode imaginar um pequeno Bartolí ou uma Mara?".
Bartolí guardou a correspondência em casa até a morte, em Nova York em 1995, e mais tarde sua família a vendeu ao dono que agora leiloa também documentos que contêm lembranças, como alguns desenhos, flores prensadas e fotografias.