Artista brasileiro trocou moedas em museu britânico como forma de protesto. (SOPA Images/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 23 de julho de 2024 às 08h16.
O artista brasileiro Ilê Sartuzi trocou uma moeda da guerra civil inglesa por uma réplica falsa no Museu Britânico como parte de um projeto artístico. A intervenção, realizada no mês passado, busca evidenciar a quantidade de objetos estrangeiros presentes no acervo da instituição. Sartuzi documentou a troca em um vídeo que integra seu mestrado na Goldsmiths, University of London. As informações são do The Guardian.
A ideia surgiu quando Sartuzi observou um voluntário do museu entregando moedas aos visitantes para que pudessem manuseá-las. Ele pediu uma moeda de prata do século XVII, uma das poucas peças britânicas no museu, e criou uma distração para realizar a troca pela réplica. Depois, ele depositou a moeda original na caixa de doações do museu.
Sartuzi registrou toda a ação em vídeo e a apresentou como parte de seu mestrado na Goldsmiths, University of London. Ele afirmou ter planejado a intervenção por mais de um ano. O vídeo, gravado por três amigos do artista, mostra Sartuzi sendo interceptado por um voluntário antes de conseguir realizar a troca no dia seguinte.
Para evitar ser reconhecido pela segurança do museu, Sartuzi disse ter raspado a barba e aproveitou uma distração momentânea para realizar a troca. O Museu Britânico informou que notificaria a polícia sobre o incidente, classificando a ação como uma violação de um serviço conduzido por voluntários, que visa proporcionar aos visitantes a oportunidade de manusear itens reais e interagir com a história.
O museu ressaltou que serviços como este dependem de um nível básico de decência e confiança humana, e que seria lamentável ter que revisar a oferta desses serviços devido a ações desse tipo.
Sartuzi criticou instituições como o Museu Britânico e o Louvre, alegando que se consideram "guardas dos tesouros da humanidade", mas que na realidade são fundações de culturas imperialistas que saquearam muitos desses objetos do sul global e do mundo. A moeda em questão, datada de 1645 e cunhada em Newark, na Inglaterra, não está registrada no banco de dados do museu, mas faz parte da coleção de manuseio, criada em 2000 para oferecer aos visitantes a chance de tocar em objetos históricos sob supervisão de voluntários.
O artista e seu advogado argumentam que suas ações não violam as políticas do museu que proíbem o manuseio ou a remoção de objetos, nem infringem o Theft Act de 1968. O incidente ocorre quase um ano após o roubo de centenas de objetos, incluindo moedas e joias, do acervo do Museu Britânico, o que levou à demissão de um funcionário e à renúncia do diretor do museu, Hartwig Fischer, que não estava implicado no roubo. O museu também ordenou uma revisão de sua segurança.
Sartuzi afirmou que o escândalo foi uma "coincidência infeliz" e destacou que o Museu Britânico é "uma parte fundamental do sistema colonial e imperialista". Ele observou que a moeda que trocou era a única de origem britânica disponível para manuseio na época.
O Museu Britânico tem sido alvo de críticas pela forma como adquiriu alguns de seus artefatos, com vários países solicitando a devolução de peças. Entre esses artefatos estão os mármores do Partenon e os bronzes saqueados por tropas britânicas em 1897 do antigo reino de Benin, na África Ocidental.