Alemã muçulmana lança livro sobre radicalização de seu filho
O livro tenta explicar como aconteceu a radicalização e de indagar as razões pelas quais a família não pôde evitá-la
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2016 às 12h19.
Berlim - O processo de radicalização jihadista de um jovem a partir da perspectiva de sua mãe é o tema do livro "Mein Sohn, der salafist: Wie sich mein Kind radikalisierte und ich es nicht verhindern konnte" (Meu filho, o salafista: Como meu filho se radicalizou e eu não consegui impedi-lo) apresentado em Berlim por Neriman Yaman, muçulmana , de raízes turcas e nascida no Vale do Ruhr, no oeste da Alemanha.
Neriman foi à coletiva de imprensa com a cabeça coberta com um lenço e falou com o sotaque próprio dessa região onde nasceu em 1979. Seu avô chegou da Turquia nos anos 60 como trabalhador. Ela pertence a terceira geração de imigrantes e faz parte dos mais de 3 milhões de cidadãos do país com origens turcas. Seu caso exemplifica o que o ex-presidente alemão Christian Wulff quis dizer com a frase: "O islã pertence à Alemanha".
Yousef é o filho de Neriman. Ele já pertence a quarta geração de imigrantes e é o personagem da história que ela conta no livro sobre uma radicalização que o fez cometer um atentado , aos 16 anos, junto com dois cúmplices quase da mesma idade contra um casal sikh na cidade de Essen, no mesmo Vale do Ruhr. O livro tenta explicar como aconteceu a radicalização e de indagar as razões pelas quais a família não pôde evitá-la.
Tudo começou quando Yousef, com 14 anos, subitamente começou a se interessar pelo islã e a perguntar por interpretações do Corão. As respostas dadas pelos pais - muçulmanos, mas liberais - não o satisfaziam e ele percebeu que a maioria dos imames na Alemanha realizavam as cerimônias religiosas em turco ou em árabe, idiomas que ele não entendia suficientemente bem.
Foi então que se lembrou de um imã que predicava em alemão e de quem ele tinha ouvido falar certa vez. A pessoa em questão era Pierre Vogel, um ex-boxeador convertido ao islã e considerado altamente perigoso pelas autoridades da Alemanha.
Apesar do resultado, Neriman ainda acredita: "É salafista, mas não acho que seja radical nem perigoso", diz sobre o homem, que a Alemanha classifica como "predicador do ódio".
As visitas às cerimônias de Vogel só duraram dois meses. Depois, seguiram outros predicadores e outras mesquitas e o jovem começou a distribuir exemplares do Corão pelas ruas.
O alerta dos pais se acendeu quando, após uma fase em que Yousef recitava o Corão em árabe durante as refeições, sua interpretação da religião se politizou e ele começou a falar das injustiças que seus irmãos muçulmanos sofriam no mundo e da Prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Pouco tempo depois, o jovem começou a usar uma túnica argumentando que o profeta Maomé também tinha usado uma vestimenta do tipo.
Neriman procurou ajuda e recorreu a, pelo menos, 15 mesquitas e centros de assistência psicológica. Nos templos - onde ela e seu marido buscavam pessoas para passar ao filho uma visão não radical do islã - a resposta costumava ser que se tratava de uma fase de rebelião juvenil. Já nos centros de assistência psicológica ela ouvia que as equipes só poderiam agir com o consentimento de Yousef, que sempre recusava.
O auge veio quando, em uma discussão sobre o Oriente Médio na escola, Yousef ameaçou "quebrar a cabeça" de uma colega que era judia.
Em 2015, Neriman recorreu a um programa para desertores do islã radical, mas não conseguiu resultados. O filho seguiu seu processo de radicalização, aprendeu a fabricar explosivos e a família começou a receber visitas da Polícia. Cometer o atentado foi apenas o passo seguinte.
"Tentamos de tudo, mas nosso filho já não nos ouvia. O outro lado era mais forte. Sou muçulmana, mas os outros também se intitulam muçulmanos", disse ela nesta sexta-feira.
Neriman lembra que o filho e seus amigos compraram os itens necessários para fabricar a bomba através do site Amazon e depois prepararam os explosivos seguindo instruções que encontraram no YouTube.
"Tem coisas que deviam ser proibidas, já que não se trata só de terroristas islâmicos, existe gente suficientemente doente que pode querer fabricar uma bomba", argumenta.
Yousef se casou com uma menina que conheceu na internet e que agora decidiu se separar dele depois que o jovem decidiu cooperar com as autoridades.
"Ela usa burca e quando foi a nossa casa usava luvas pretas", responde Neriman à pergunta sobre se a menina é radicalizada.
Ele também escreveu um pedido de desculpas formal para a comunidade sikh. Seu processo na Justiça, no entanto, continua correndo, e em 17 de dezembro ele e seus amigos se apresentarão para um juiz. A acusação é por tentativa de homicídio.
Berlim - O processo de radicalização jihadista de um jovem a partir da perspectiva de sua mãe é o tema do livro "Mein Sohn, der salafist: Wie sich mein Kind radikalisierte und ich es nicht verhindern konnte" (Meu filho, o salafista: Como meu filho se radicalizou e eu não consegui impedi-lo) apresentado em Berlim por Neriman Yaman, muçulmana , de raízes turcas e nascida no Vale do Ruhr, no oeste da Alemanha.
Neriman foi à coletiva de imprensa com a cabeça coberta com um lenço e falou com o sotaque próprio dessa região onde nasceu em 1979. Seu avô chegou da Turquia nos anos 60 como trabalhador. Ela pertence a terceira geração de imigrantes e faz parte dos mais de 3 milhões de cidadãos do país com origens turcas. Seu caso exemplifica o que o ex-presidente alemão Christian Wulff quis dizer com a frase: "O islã pertence à Alemanha".
Yousef é o filho de Neriman. Ele já pertence a quarta geração de imigrantes e é o personagem da história que ela conta no livro sobre uma radicalização que o fez cometer um atentado , aos 16 anos, junto com dois cúmplices quase da mesma idade contra um casal sikh na cidade de Essen, no mesmo Vale do Ruhr. O livro tenta explicar como aconteceu a radicalização e de indagar as razões pelas quais a família não pôde evitá-la.
Tudo começou quando Yousef, com 14 anos, subitamente começou a se interessar pelo islã e a perguntar por interpretações do Corão. As respostas dadas pelos pais - muçulmanos, mas liberais - não o satisfaziam e ele percebeu que a maioria dos imames na Alemanha realizavam as cerimônias religiosas em turco ou em árabe, idiomas que ele não entendia suficientemente bem.
Foi então que se lembrou de um imã que predicava em alemão e de quem ele tinha ouvido falar certa vez. A pessoa em questão era Pierre Vogel, um ex-boxeador convertido ao islã e considerado altamente perigoso pelas autoridades da Alemanha.
Apesar do resultado, Neriman ainda acredita: "É salafista, mas não acho que seja radical nem perigoso", diz sobre o homem, que a Alemanha classifica como "predicador do ódio".
As visitas às cerimônias de Vogel só duraram dois meses. Depois, seguiram outros predicadores e outras mesquitas e o jovem começou a distribuir exemplares do Corão pelas ruas.
O alerta dos pais se acendeu quando, após uma fase em que Yousef recitava o Corão em árabe durante as refeições, sua interpretação da religião se politizou e ele começou a falar das injustiças que seus irmãos muçulmanos sofriam no mundo e da Prisão de Abu Ghraib, no Iraque. Pouco tempo depois, o jovem começou a usar uma túnica argumentando que o profeta Maomé também tinha usado uma vestimenta do tipo.
Neriman procurou ajuda e recorreu a, pelo menos, 15 mesquitas e centros de assistência psicológica. Nos templos - onde ela e seu marido buscavam pessoas para passar ao filho uma visão não radical do islã - a resposta costumava ser que se tratava de uma fase de rebelião juvenil. Já nos centros de assistência psicológica ela ouvia que as equipes só poderiam agir com o consentimento de Yousef, que sempre recusava.
O auge veio quando, em uma discussão sobre o Oriente Médio na escola, Yousef ameaçou "quebrar a cabeça" de uma colega que era judia.
Em 2015, Neriman recorreu a um programa para desertores do islã radical, mas não conseguiu resultados. O filho seguiu seu processo de radicalização, aprendeu a fabricar explosivos e a família começou a receber visitas da Polícia. Cometer o atentado foi apenas o passo seguinte.
"Tentamos de tudo, mas nosso filho já não nos ouvia. O outro lado era mais forte. Sou muçulmana, mas os outros também se intitulam muçulmanos", disse ela nesta sexta-feira.
Neriman lembra que o filho e seus amigos compraram os itens necessários para fabricar a bomba através do site Amazon e depois prepararam os explosivos seguindo instruções que encontraram no YouTube.
"Tem coisas que deviam ser proibidas, já que não se trata só de terroristas islâmicos, existe gente suficientemente doente que pode querer fabricar uma bomba", argumenta.
Yousef se casou com uma menina que conheceu na internet e que agora decidiu se separar dele depois que o jovem decidiu cooperar com as autoridades.
"Ela usa burca e quando foi a nossa casa usava luvas pretas", responde Neriman à pergunta sobre se a menina é radicalizada.
Ele também escreveu um pedido de desculpas formal para a comunidade sikh. Seu processo na Justiça, no entanto, continua correndo, e em 17 de dezembro ele e seus amigos se apresentarão para um juiz. A acusação é por tentativa de homicídio.