true detective (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2015 às 08h19.
Em uma entrevista recente, Nic Pizzolatto, roteirista e produtor executivo de True Detective, afirmou que tudo que escreve é sobre o amor. Segundo o autor, a única forma de não nos perdemos em uma existência sem sentido é amando alguma coisa. Após a primeira temporada da série criada por Pizzolatto, é fácil perceber que ela fala exatamente sobre pessoas que não seguiram esse conselho. Indivíduos perdidos, que não conseguem mais encontrar o amor ou foram abandonados por ele. Basta lembrar Rusty Cohle, um sujeito que passa a questionar o sentido da vida após perder seu filho de maneira trágica.
Talvez este seja o único elemento que é mantido na segunda temporada de True Detective, que estreia na HBO no próximo domingo (21). Esqueça a química irresistível entre Matthew McCaughahey e Woody Harreleson, os diálogos poéticos (também chamados pelos detratores da série de filosofia de botequim), os pântanos e rituais sombrios da Louisiana. Agora estamos na Califórnia, mas não aquela mostrada nos filmes de Hollywood.
A segunda temporada de True Detective se passa em Vinci, uma cidade ocupada por fábricas que exploram imigrantes, ruas repletas de traficantes e prostitutas e uma prefeitura marcada por autoridades corruptas. A melhor representação de Vinci é Frank Velcoro (Colin Farrell), um policial que entra em uma espiral de autodestruição após sua mulher ser estuprada. Sua fome de vingança acaba ligando-o a um ex-mafioso e agora empreiteiro Frank Semyon (Vince Vaughn, ele mesmo). Quando o burocrata que viabiliza um contrato bilionário para Semyon é encontrado morto, e em circunstancias grotescas, Velcoro recebe de Semyon a tarefa de cuidar do caso --- mas não necessariamente para resolvê-lo.
As diferentes jurisdições do local do crime acabam colocando outros dois investigadores no caminho de Velcoro: Ani Bezzerides (Rachel McAdams), uma detetive que gosta de seguir à risca os limites da lei, e Paul Woodrugh (Taylor Kitsch), um policial rodoviário que sofre com os efeitos pós-traumáticos da guerra ao voltar de uma temporada como militar no Iraque.
Cada um dos policiais tem diferentes interesses e demônios pessoais para exorcizar. Mas todos eles são marcados por uma profunda ausência de amor. Amor próprio e amor pelos outros. Velcoro alienou sua única ligação com algo humano: seu próprio filho; Semyon sofre com seu passado, além de viver com uma esposa fria e inescrupulosa; Woodrugh é incapaz de demonstrar carinho, seja com sua mãe ou a namorada; e Bezzerides, cujo primeiro nome é Antígona (crie sua própria teoria sobre o nome da personagem), é marcada pela infância triste em uma comunidade hippie e um casamento fracassado.
A barra é pesada na segunda temporada de True Detective. Até demais. Não há alívio ou concessão, pelo menos nos três primeiros episódios assistidos pela INFO, e esse é o principal problema da segunda temporada. O tom é monocromático: apenas a dor que une os protagonistas em uma jornada na qual tudo parece que irá dar errado. Talvez por não existir uma dupla de personagens como Rusty e Hart, com diálogos que permitiam ao espectador dar um sorriso no meio de tanta tristeza.
Não que seja culpa do elenco, que se sai surpreendentemente bem. O personagem de Farrell funciona como o protagonista moral da série e Vaughn convence como mafioso atormentado. A personagem mais forte é a de McAdams, interpretada com uma raiva contida que não deve demorar a explodir até o final da série. Kitsch, e sua incurável falta de carisma, é o elo mais fraco no quarteto de protagonistas.
O fato é que apenas três episódios depois, é impossível dizer se a segunda temporada é mais satisfatória do que a primeira. A única garantia que eles nos dão é que a jornada pela escuridão será a mesma do ano passado, apesar dos diferentes cenários e companheiros de viagem. No mundo sem amor ou sentido de True Detective, já é um consolo encontrar alguma certeza.