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A playlist de Zuza Homem de Mello para a pandemia

Sua lista inclui Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e também Xênia França e Tchella, conta o musicólogo durante a Fliss

O musicólogo Zuza Homem de Mello: decepção com o cenário musical atual (Fliss/Divulgação)

O musicólogo Zuza Homem de Mello: decepção com o cenário musical atual (Fliss/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 29 de agosto de 2020 às 11h14.

Última atualização em 29 de agosto de 2020 às 12h40.

O jornalista, escritor e musicólogo Zuza Homem de Mello não deixou o humor se abater pela pandemia do coronavírus. Quem o salva é a música, “que rejuvenesce e provoca bom humor”, explicou durante papo no segundo dia da Fliss, a Festa Literária Internacional de São Sebastião, na sexta-feira 28. “Ainda hoje vi uma gravação no YouTube logo de manhã de uma Orquestra de Jovens lá da Bahia tocando Tico-Tico no Fubá. Chorei, me emocionei e ganhei o dia”, confidenciou à Exame.

Zuza acredita que a música tem o poder de nos ajudar a atravessar momentos difíceis como o atual, de trazer leveza. “Como ficamos aprisionados dentro de casa, a música soa como uma boa sugestão.”

Ao lado da esposa Ercília, Zuza escuta música à noite. “Aqui está cheio de long play, o que não falta é coisa boa para ouvir”, conta, apontando para a sala cheia de discos de vinil.

Antes de recomendar o que ouvir durante esses tempos de pandemia, o especialista em música popular brasileira faz uma observação. “Deve-se ouvir música da melhor forma possível. E a melhor forma possível não é ouvir música através do celular. Você tem que tentar obter uma forma mais abrangente, cuja qualidade sonora consiga se aproximar da música ao vivo. A música ao vivo é incomparável”, ensina.

Mas, afinal, o que ouvir? A lista de Zuza começa com Tom Jobim, João Gilberto, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Edu Lobo, Paulinho da Viola e Milton Nascimento. Segue para Marcos Valle, Carlos Lyra e Djavan. “Ouça os grandes craques da música popular. Aqueles que o mundo inteiro admira e tire fora aqueles que não fazem parte desse universo.”

Embora tenha definido o século 20 como o “século da canção”, Zuza não tem críticas ou se sente decepcionado com a cena musical brasileira do século 21. “Há coisas muito boas para se ouvir. O problema é o acesso a essas canções. Você deve correr atrás e não esperar que venham até você como vieram em outras épocas. Você tem que cavucar e achar seu nicho”, aconselha, relembrando um pouco de sua história.

Ainda menino, os ouvidos Zuza foram atrás dos sons que acreditavam. Foi assim que ele procurou por Pixinguinha, Mário Reis e Luiz Gonzaga. Este foi o caminho que o permitiu encontrar nomes maravilhosos do passado até hoje. “Eu procuro mostrar essa gente toda no programa que eu tenho na Rádio USP, chamado de Playlist do Zuza.”.

Em determinados programas de tevê, no entanto, ele lembra que será difícil encontrar essas novas vozes. É nesse ambiente, opina Zuza, que a música brasileira empobreceu. De uma certa forma, isso sempre existiu. Só que as músicas ruins ficaram para trás, foram esquecidas. As boas são lembradas até hoje.

Da cena musical atual, Zuza destaca primeiramente as vozes femininas como as da baiana Xênia França, da paulistana Tchella, da americana Lívia Nestrovski (filha do compositor e violonista brasileiro Arthur Nestrovski), da carioca Mariana Baltar, da mineira Clara Castro,

da paranaense Janaina Fellini e da americana Alexia Bomtempo (filha de pai brasileiro). Já nas vozes masculinas, ele recomenda o mineiro Renato Luciano, o pernambucano Almério, o maranhense radicado em São Paulo Bruno Batista e o cantor, compositor e violonista paulistano Gabriel de Almeida Prado. “Todos eles apresentam propostas que valem a pena. Vê-se que eles têm talento”, comenta.

De grupos musicais, Zuza destaca nomes como o grupo de rock e reggae BaianaSystem, de Salvador, e a banda paulista Garotas Suecas

A música popular não empobreceu, garante Zuza. O mesmo já não se pode dizer de sua veiculação. “É aí que o tubo se estreita como um funil. Por ele, passam muitos que não valem a pena. Essa gente passa por razões que não são a música propriamente dita. Há fatores como beleza, corpo escultural, facilidade do encontro e, de vez em quando, até mesmo uma graninha. Esses são os artifícios que cercam a carreira de alguns arrivistas”, alerta Zuza.

Autor de livros como Copacabana: a trajetória do samba-canção, Zuza lembra que até fazer parceria com Vinícius de Moraes, Tom Jobim era arranjador, pianista de boite e autor de samba-canção. “Isso foi tão significativo que resolvi escrever um livro sobre samba-canção. Eu, um paulistano da gema fazendo um livro sobre a turma lá do Rio, especificamente de Copacabana.” Para se precaver, escreveu sobre Copacabana para mostrar que também era conhecedor da Cidade Maravilhosa dos anos 50. “Eu tinha intimidade, frequentava os bares de lá.”

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