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"A Forma da Água" mostra o poder do amor, diz Guillermo do Toro

O longa alcançou o maior sucesso, começando pelo Leão de Ouro, no Festival de Veneza, seguido por dois Globos de Ouro e mais 13 indicações ao Oscar

A forma da água: "quebra tudo como a água, se introduz por onde pode e toma a forma daquilo em que entra", filosofou o diretor (The Shape Of Water/Facebook/Divulgação)

A forma da água: "quebra tudo como a água, se introduz por onde pode e toma a forma daquilo em que entra", filosofou o diretor (The Shape Of Water/Facebook/Divulgação)

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EFE

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 14h54.

Madri - Num mundo onde políticos insistem em ressaltar as diferenças entre as pessoas, o diretor mexicano Guillermo do Toro tenta mostrar em "A Forma da Água" o poder do amor, que não tem forma, gênero ou religião.

"Quebra tudo como a água, se introduz por onde pode e toma a forma daquilo em que entra", filosofou o diretor, em entrevista à Agência Efe.

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É isso que "A Forma da Água" conta, uma preciosa e delicada fábula com a qual Del Toro alcançou o maior sucesso da sua carreira, começando pelo Leão de Ouro, no Festival de Veneza, conquistado em setembro do ano passado, seguido por dois Globos de Ouro, entregues há um mês, e mais 13 indicações ao Oscar, incluindo filme, direção e atriz.

No longa, ele utiliza a figura de um monstro como símbolo do amor e reflexo do racismo, machismo e preconceito social que dominavam os Estados Unidos em 1962 e continuam a existir, segundo ele.

"Não avançamos muito e a ideia era essa. Vivemos num tempo em que os políticos enfatizam o que nos diferencia, o que nos separa e o que não nos une. Queria muito mostrar o poder do amor", explicou.

Uma história protagonizada pela atriz britânica Sally Hawkins, uma faxineira muda que trabalha num centro de pesquisa do governo americano. Lá, ela conhece um monstro marinho com quem vive uma doce e complexa história de amor. Um monstro que, como ressalta Del Toro, não tem conotação negativa.

Claramente inspirado na figura pré-histórica de "O monstro da Lagoa Negra", de 1954, o cineasta dota o monstrengo de maior doçura e de uma beleza tão incompreensível quanto arrasadora, tal qual a que seduziu tantos espectadores em "O Labirinto do Fauno", o maior sucesso dele até hoje.

"A ideia para mim é que dentro do monstruoso está o belo e dentro do normal está o monstruoso. Esta ideia não está apenas no 'Labirinto', está em 'Hellboy' e está em 'Cronos'", detalhou.

O que se reflete no seu cinema, repleto de monstros e criaturas que exibiram a grande imaginação de um cineasta que sempre foi um hábil misturador de gêneros e que em "A Forma da Água" leva essa caraterística ao extremo.

É evidente o seu amor pelos monstros e a sua combinação de contos de fadas e a estética do horror. Desta vez, a ideia era combinar suspense, musical, romance, filme de tolerância e de monstros.

"Tudo isso misturado torna o financiamento muito difícil, mas ao mesmo tempo faz o trabalho artístico ser muito gratificante", afirmou.

E mesmo depois de três anos de trabalho para conseguir o desenho perfeito do monstro, interpretado pelo ator americano Doug Jones, ele disse estar satisfeito.

"A humanidade do filme é o que me interessa, mas esteticamente todo o filme, o centro dele, é o monstro, e por isso tínhamos que criar todo um universo para que ele respire", explicou.

Um universo estético que fez com que ele criasse uma atmosfera repleta de cores e de lendas, com um elenco espetacular, e não à toa ele contou que o escreveu o filme para Sally Hawkins.

"O ator não é só um reator de emoções, é alguém que escuta e olha, e Sally Hawkins tem um olhar espetacular. Certamente é um desafio enorme, muito difícil em nível técnico e estético, mas vale a pena porque existe um contato entre ela é o mostro que é lindo", resumiu Del Toro.

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