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48 horas em Paris (sem entrar em museus)

Dois dias passeando pelas ruas e praças da capital da França indo muito além dos inúmeros museus da Cidade Luz

Paris é o destino turístico mais visitado do planeta, com atrações para todos os gostos e bolsos (n_willsey/ Cretiave Commons)

Paris é o destino turístico mais visitado do planeta, com atrações para todos os gostos e bolsos (n_willsey/ Cretiave Commons)

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Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2012 às 10h54.

São Paulo - Na década de 1960, jogadores de futebol iugoslavos - forçadamente reclusos dentro das fronteiras comunistas de seu país - receberam permissão para jogar um torneio em Paris. Para muitos, era a primeira vez que visitavam um país estrangeiro. Para todos, as luzes, o clima de festa e a agitação da avenida Champs-Elysées formariam a lembrança de uma viagem inesquecível.

Passados mais de cinquenta anos, este ainda é o efeito que a Cidade Luz provoca nas dezenas de milhões de turistas que lotam seus hotéis, restaurantes e museus. Destino turístico mais visitado do planeta, Paris possui atrações para todos os gostos e bolsos, para aqueles que procuram perfumes e gravatas de grife, os que alimentam a mente com a Mona Lisa e os quadros de Picasso, ou simplesmente procuram um passeio despretensioso sobre a Pont Neuf ou às margens do rio Sena.

Como nosso desafio é fazer um roteiro de apenas 48 horas, ignoraremos os museus – mesmo porque poderíamos passar um dia inteiro no Louvre, mais quatro horas no d’Orsay e mais um tempinho extra no Carnavalet e no l’Orangerie. Vamos então ao mínimo do mínimo, com muito preparo físico e algumas saborosas calorias no caminho. Se quiser dicas para mais dias, veja um roteiro no final da matéria.

Dia 1

Vamos começar o dia como fazem os franceses, nativos e adotados. Os cafés de Paris são uma instituição, tanto pela cozinha bem ajustada como pelo ambiente propício ao relaxamento. É o primeiro pequeno luxo do passeio, um momento só seu. O Deux Magots, no Boulevard Saint Germain, é uma opção um tanto turística, mas, é bom lembrar, você é um turista. Aqui você terá um café rejuvenescedor, croissants macios e manteiga na temperatura certa. É uma ótima forma de despertar.


Suba agora a rue Bonaparte até dar de cara com o rio Sena. Caminhe uns poucos quarteirões – você está na famosa Rive Gauche! – até chegar na Pont Neuf, a ponte nova, curiosamente a mais velha da cidade. Use-a para chegar à Île de la Cité, a ilha fluvial que foi o primeiro núcleo habitado na região e bastião da colônia fundada pelas legiões de Júlio César, Lutécia. Invista sua manhã explorando o local. Atrações é o que não faltam.

Aqui está o marco zero das estradas francesas, na praça em frente à venerável (para alguns, sinistra) Catedral de Notre Dame. Repare nas gárgulas em suas torres, na característica rosácea gótica em sua fachada e no elaborado sistema de arcobotantes que sustentam a abside.

Outra atração imperdível na área é a Saint Chapelle, a igreja construída por São Luís (o rei Luis IX) para servir de relicário para a suposta coroa de espinhos de Cristo. A verticalidade de sua estrutura, combinada com o magistral colorido de seus vitrais, são de arrebatador encanto.

Para os bravos agora há uma boa caminhada de 3 quilômetros. Porém, pontos de parada e vistas esplêndidas não faltarão. Antes, porém, vamos almoçar. Nas cercanias estão alguns bons restaurantes, como o outrora premiadíssimo Tour d’Argent (com seu emblemático pato com molho de laranja a €140), o simpático bistrô Le Tournebièvre (menus com entrada, prato principal e sobremesa a € 31) ou o despretensioso vegetariano Le Grenier Notre Dame (menus a € 18,50).

Caminhando agora pela margem do Sena você chegará ao Museu do Louvre. Não é hoje que entraremos nele, mas, como aperitivo, aproveite para tirar uma foto da pirâmide de vidro do arquiteto sino-americano I.M. Pei. Polêmica à época de sua inauguração, em 1989, hoje é um marco popular da cidade. Repare no monumental eixo que trespassa a cidade, iniciando no antigo palácio real do Louvre e cruzando, sucessivamente, uma série de ícones urbanos: o arco do Carrossel, o obelisco da praça da Concórdia, a avenida Champs-Elysées, o Arco do Triunfo e, mais ao longe, o contemporâneo e minimalista (mas gigantesco) Grande Arche, no futurístico distrito financeiro-comercial de La Défense. Antes de visitar parte destas atrações, não deixe de caminhar pelos jardins do Palais-Royal, o antigo palácio do cardeal Richelieu – aquele mesmo das aventuras de Alexandre Dumas.


Vagueie então pelos agradáveis Jardins das Tulherias, contornando o obelisco da Praça da Concórdia (era aqui que o Terror guilhotinava os inimigos da Revolução; no final, tanto o rei Luís XVI como o reacionário-revolucionário Robespierre perderam a cabeça). Siga então para a igreja La Madeleine, onde a cada dois domingos, sempre às 16h, concertos em seus poderosos órgãos são abertos ao público. Simplesmente obrigatório se você estiver na cidade. A próxima parada é na übber-chique Place Vendôme. Nesta praça projetada por Jules Hardouin-Mansart orbitam em torno da coluna de Napoleão (inspirada na de Trajano, em Roma) os veneráveis hotel Ritz (onde viveu a estilista Coco Chanel) e joalherias como Chaumet, Bvlgari, Mikimoto e Cartier. Uma ou outra grife interessante, como a Maison Dior e a própria Chanel, completam o colar.

Subindo a rua de la Paix, chegamos à esplendorosa Ópera Garnier, que inspirou o projeto do Municipal do Rio.

Daqui você pode pegar o metrô ou alongar sua caminhada até a mais famosa avenida do mundo, a Champs-Elysées. Alegre e divertida, colorida e agradável, aqui os parisienses celebram a vida e as grandes datas, como a Queda da Bastilha (14 de Julho), a final da Volta da França - a mais importante competição ciclística do mundo, e a conquista da Copa do Mundo de 1998 (aquela em que Ronaldo e todo o resto do time tiveram um colapso).

A cereja do bolo é conhecer o Arco do Triunfo, a megalomaníaca estrutura que Napoleão Bonaparte construiu para glorificar suas conquistas. O tom nada pacífico do monumento está gravado em suas paredes: lá estão eternizados os nomes de seus generais e batalhas vencidas. Não perca tempo procurando a palavra Waterloo. A nota um pouco mais amena está na tumba do soldado desconhecido, uma marcante homenagem àqueles que tombaram na I Guerra Mundial.


O dia chegou ao fim, mas, como diria Ernest Hemingway, Paris é uma festa. Aliás, um dos bares favoritos do escritor era o Harry's Bar. Se quiser conhecer os célebres cabarés da cidade, há dois na região: o Crazy Horse e o Lido. Em Montmartre estão o Foliers-Bergère e o famigerado Moulin Rouge. Se você já foi num daqueles shows de tango de Buenos Aires, o esquema é muito parecido: caro, comida decepcionante, mas até que o show vale a pena. Belas dançarinas e coreografias pirotécnicas fazem parte do menu.

Dia 2

Paris tem um dos mais amplos sistemas de transportes públicos do mundo. Dentro dos distritos mais centrais, diz-se que você nunca está a mais de quinhentos metros de distância de uma estação de metrô. Mas hoje, como ontem, o negócio é bater perna.

Vamos conhecer melhor a Rive Gauche, o bairro dos intelectuais, filósofos e das cabeças pensantes da Sorbonne. Prepare-se, são cerca de 4 quilômetros de caminhada, mas em passo bem lento e calmo que lhe tomará umas 3h30.

Comecemos conhecendo a arquitetura vanguardista do Instituto do Mundo Árabe. Ex-metrópole de colônias muçulmanas no norte da África, como Marrocos e Argélia, a França é lar para milhares de seguidores do Islã. Este inovador prédio projetado por Jean Nouvel é um pequeno símbolo do intercâmbio entre estas duas culturas. Albert Camus e Zinedine Zidane agradecem.

Não longe dali está um dos últimos vestígios do legado romano na cidade, a pequena Arena da Lutécia. Não, você não encontrará um coliseu aqui; aliás, parece mais um playground de crianças. O que resta foi salvo pelos esforços de Victor Hugo, ciente do valor histórico do local. A visita vale pela curiosidade de imaginar que um dia aqui lutaram gladiadores e bestas para deleite dos romanos e fúria dos gauleses.

Seguindo agora pela rue Clovis, faça uma pausa no Panteão, onde estão sepultados franceses célebres como Voltaire, Victor Hugo e Rousseau.


Quando suas pernas começarem a pedir um refresco você já estará junto aos Jardins de Luxemburgo. Sede do senado francês, o parque do palácio foi construído por ordens da rainha Maria de Médicis no século 17, saudosa de sua Florença natal.

Caminhe dois quarteirões ao norte e encontre as torres assimétricas da igreja de Saint Sulpice, tornada célebre por conta de seu meridiano. Ela sempre esteve lá, mas com a ajuda do tresloucado Código da Vinci, de Dan Brown, o local passou a atrair mais que os usuais fiéis católicos.

Um pouco mais ao norte e você terá um encontro com outra igreja de grande valor histórico, Saint Germain de Prés. Suas origens remontam à época dos francos e dos reis merovíngios do século 6. Destruída pelos normandos, foi reconstruída no início do século 11 em estilo românico. O túmulo de René Descartes está aqui, tal como uma escultura de Picasso.

Cansado? Então vamos parar para o almoço. Você pode optar pelos muitos bistrôs e restaurantes nos arredores do bulevar Saint Germain, que oferecem menus fixos a preços convidativos (com entrada, prato principal, sobremesa e talvez até um vinho da casa). Se quiser esbanjar um pouco, tente o Le Procope, o restaurante mais antigo de Paris, frequentado por Diderot e Benjamin Franklin. Aliás, se você pedir o menu do dia nem sai tão caro. Por € 35 você pode provar escargots de entrada, truta ao molho de amêndoas e sobremesa, tudo em um ambiente muito simpático.

Para uma tarde mais preguiçosa, rume para o bairro boêmio de Montmartre. Aqui, arte, música e vinho se misturaram para provocar o gênio artístico de Toulose-Lautrec, Picasso e Renoir. Para conhecer esta agradável colina não existem roteiros possíveis, somente um pouco de intuição. Só não deixe de passar por alguns marcos importantes, como a basílica de Sacré-Coeur, a animada praça du Tertre (repleta de artistas de rua) e o lendário cabaré Au Lapin Agile (frequentado por impressionistas e modernistas). Na frente dele, uma visão inusitada: um dos últimos vinhedos de Paris.


Para terminar o dia, tome o caminho para o Trocadéro a tempo de ver a noite começar a deitar sobre o Palais Chaillot e a Torre Eiffel. Se quiser terminar o dia com um baguette ou num restaurante três estrelas - como o Le Jules Verne, na própria torre -, não importa, a vista da praça, tendo o Campo de Marte como pano de fundo, já ganhará o seu dia. Seja você um craque iugoslavo ou não.

Paris em uma semana:

É óbvio que não dá para conhecer Paris em apenas dois dias. Então vamos deixar de cometer sacrilégios e conhecer alguns de seus museus (e umas coisinhas mais). Segue aqui nossa sugestão para uma semana completa:

Dia 3 – dedique-se ao Museu do Louvre e a checar as ofertas e últimos lançamentos das lojas da rua Saint-Honoré, que conta com marcas como Zara, Jimmy Choo, Guess, Prada, Dolce et Gabbana e Commes de Garçons.

Dia 4 – entre numa excursão e passe o dia nos jardins e palácio de Versalhes. Na volta, considere assistir uma peça na Comédie Française.

Dia 5 – explore um pouco mais a margem esquerda do Sena:o complexo do Hotel des Invalides (com a tumba de Napoleão e o Musée de l'Armée), o Museu Rodin e o Museu d’Orsay. Aproveite para subir até o observatório da Tour Montparnasse, com excelentes vistas da urbe.

Dia 6 – programe o dia com visitas às regiões de Les Halles e Marais. Destaques: o Centro Pompidour, a Place des Vosges, a igreja Saint Eustache e o Museu Carnavalet. Para os que tem gostos mais exotéricos, há também as catacumbas, os didáticos esgotos e o célebre cemitério Père-Lachaise.

Dia 7 – escolha alguns dos bons museus e igrejas que ficaram faltando em seu roteiro. Sugestões: o Quai Branly, o l’Orangerie, o Picasso e o Cluny. Vale a pena também fazer um passeio nos barcos bateaux-mouches, deslumbrando-se com a bem ornada ponte Alexandre III e tudo aquilo que você já bem conhece.

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