Você é bom de origami? Mande o seu currículo para a Nasa
A agência espacial precisa dobrar um escudo de radiação — e abriu um concurso para quem mais entende de dobradura ajudar
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de julho de 2017 às 15h34.
Última atualização em 22 de julho de 2017 às 15h37.
São Paulo - As aulas de cálculo — e os US$ 60 mil anuais — de um curso de engenharia no MIT são demais para você? Chegou a hora da redenção: ainda dá para mandar seu currículo para a Nasa , a agência espacial norte-americana, e participar da construção de um veículo espacial .
Você só precisa ser um gênio do origami. O que, eu preciso admitir, é quase tão difícil quanto matemática de nível universitário — ou alguém aqui já realmente conseguiu fazer algo mais complicado que um barquinho só com uma folha de papel?
A missão dos nipônicos e entusiastas de plantão é dobrar um escudo de radiação da forma mais eficiente possível para encaixá-lo no interior de uma nave que decolará rumo a Marte. Detalhe: com tripulação dentro, e em um futuro mais ou menos próximo.
“Na teoria, há muitas pessoas que são experts em técnicas de dobragem e origami, e a Nasa quer encontrar um jeito realmente eficiente de armazenar um escudo de radiação”, declarou Matt Barrie, fundador do site Freelancer, onde a Nasa publicou sua oferta. Você pode se inscrever aqui.
A plataforma costuma atrair jornalistas, designers ou desenvolvedores em busca de um aluguel pago em dia, mas já havia se unido ao governo americano antes para oferecer jobs mais exóticos — é o caso deste concurso para a solução de problemas em um braço robótico da Estação Espacial Internacional (ISS), que está encerrado.
Raios cósmicos (que na verdade são partículas com altíssima energia) e outros tipos menos conhecidos de radiação eletromagnética que estão a solta no espaço fazem mal tanto para equipamentos de medição delicados quanto para pessoas, que estão sujeitas a mutações genéticas sem a proteção fornecida pela atmosfera e o campo magnético da Terra.
Na teoria, é possível proteger uma missão espacial virar o Quarteto Fantástico (e render um filme péssimo a cada 10 anos). Basta usar escudos protetores de alumínio — que são enormes e difíceis de guardar e levar por aí.
Quanto maior a nave, mais difícil e caro é colocá-la no espaço. Dobrar essa enorme “tenda” protetora para levá-la ao planeta vermelho ou qualquer outro destino no vácuo é mais do que um capricho: é um jeito de liberar espaço no interior do veículo, que pode ser usado para carregar mais equipamento científico.
Não é a primeira vez que a Nasa chama gênios do origami para suas fileiras. “O origami se aplica naturalmente a muitos problemas que envolvem a implementação de tecnologia no espaço, e a Nasa trabalhou com artistas de origami — eu mesmo e outros — com o passar dos anos”, afirmou ao The Guardian Robert Lang, especialista na matemática das dobraduras que já foi físico com carteira assinada na agência.
Se papel não é sua praia, não se preocupe: outros freelas espaciais comuns envolvem o design dos brasões de missões espaciais e até o desenvolvimento da interface de aplicativos que serão usados pelos astronautas lá fora. Afinal, um portfólio alienígena não tem preço.