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Você deveria fazer o currículo do jeito que Leonardo da Vinci fez em 1482

Em 1482, o inventor e pintor ainda não tinha criado suas maiores obras – e procurava emprego. No seu currículo fez o que muita gente tem vergonha

Leonardo Da Vinci: será que ele foi contratado? (Domínio público/Wikimedia Commons)

Luísa Granato

Publicado em 8 de maio de 2018 às 06h00.

Última atualização em 17 de setembro de 2020 às 10h00.

São Paulo — Antes de ser o pintor de algumas das obras mais famosas do mundo, como a "Mona Lisa" e "A Última Ceia", Leonardo da Vinci também era engenheiro, arquiteto e inventor; e, em 1482, o gênio renascentista estava em busca de um emprego .

Então, ele precisou escrever seu currículo . A carta de Da Vinci enviada ao Duque de Milão, Ludovico Sforza, é considerada o primeiro registro de um currículo da história.

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Na carta, o inventor não conta sobre sua proficiência em línguas estrangeiras ou qual foi a universidade em que se formou. No lugar de uma narrativa cronológica de suas conquistas, Da Vinci faz uma lista dos serviços que podia oferecer ao duque.

Da Vinci fez o que muitos profissionais hoje têm vergonha de fazer: vender seu produto. Segundo José Augusto Minarelli, CEO da Lens & Minarelli e autor do livro “Venda seu peixe!”, a carta do renascentista mostra a lógica de mercado que todos que procuram emprego deveriam entender.

“É o princípio da oferta e procura”, diz ele. Quem procura um emprego oferece sua capacidade de resolver um problema e quem contrata está atrás dessa solução.

Se a procura é por soluções, Leonardo da Vinci oferecia todas para o duque. Minarelli destaca que ele se comunica diretamente com quem tem o poder de contratá-lo e apela para suas necessidades.

Sabendo que o aristocrata precisava defender seu território e posses, o artista lista suas invenções, armas, carruagens e outras estruturas que poderiam auxiliar seu possível patrono. Em caso de uma batalha no mar, ele poderia construir embarcações. Em tempos de paz, ele oferece pinturas, estátuas, prédio e dutos de água.

Minarelli elogia o discurso intuitivo que mostra o profissional versátil que era Da Vinci e a necessidade de seus serviços no presente e no futuro.

“Ele mostra ao duque o benefício proporcionado pelos seus conhecimentos, ele fala em pontes, barcos, catapultas. Quando a pessoa oferece algo que corresponde com a necessidade do outro, gera interesse e curiosidade”, explica ele.

Seguir o modelo do currículo de Da Vinci pode ser uma maneira de se diferenciar. No entanto, para ser bem sucedido, o especialista alerta que é preciso que o candidato seja consistente no conteúdo.

Segundo ele, existem dois modelos de currículo. O mais tradicional é no estilo biográfico, que mostra na ordem cronológica as experiências do profissional. O outro, no estilo da carta de 1482, é redigido visando um objetivo do profissional, como uma área ou cargo específico de seu desejo.

O primeiro é mais esperado pelos recrutadores, pois permite encontrar as informações com mais eficiência. Para Minarelli, o profissional com uma boa trajetória e bagagem suficiente pode organizar as informações para melhor comunicar os serviços que pode oferecer.

Ele estimula seus clientes a fazer um inventário de suas carreiras, pensando em realizações significativas, não apenas nos lugares onde trabalhou. Assim, eles sabem suas habilidades e podem escolher o que define seu perfil profissional.

“Acredito que todo profissional produz algo que é útil e que pode ajudar alguém”, fala Minarelli. Parte de valorizar e aprender a vender seu trabalho, para ele, é ter um interesse genuíno em ajudar a outra pessoa a solucionar seus problemas.

Com essa motivação, o profissional fica na memória de forma positiva e vira uma referência por suas habilidades.

Após sua carta, Leonardo da Vinci se mudou de Florença para Milão à serviço do duque como engenheiro, arquiteto, escultor e pintor. Sob sua patronagem, o artista criou a famosa obra"A Última Ceia", em 1495.

Leia aqui a transcrição da carta (em inglês).

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