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Use a IA para gerar talento. Inclusive o seu, RH

Ainda há tempo para liderar as mudanças que ganham força com essa nova ferramenta, desde que não banque o ludista 4.0

Adriano Lima: Vale dizer que a IA que vem causando medo, choro e ranger de dentes é a mesma IA que traz consigo algumas soluções para essas dores (metamorworks/Getty Images)
Adriano Lima

Autor do livro "Você em Ação"

Publicado em 13 de setembro de 2023 às 10h18.

Parece que voltamos no tempo ao ver que muitas pessoas se comportam contra a evolução da tecnologia. Esse filme é conhecido, porém muitos não se lembram de ter existido. Mas antes de voltar alguns séculos, voltemos ao mês de agosto deste ano.

Naquele mês, a OpenAI lançou a versão de seu produto que vem sendo a febre do momento, o ChatGPT, mas para empresas. É a versão Enterprise, com a tecnologia GTP-4, que demandou da empresa cerca de US$ 100 milhões para treinar essa ferramenta.

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De acordo com um artigo da McKinsey, mais de um milhão de usuários fizeram login na plataforma ChatGPT cinco dias após seu lançamento e esse sucesso parece estar também no mundo empresarial: a OpenAI afirma que o aplicativo é um que mais cresce, tendo sido adotado por equipes em mais de 80% das organizações listadas na Fortune 500.

Essa nova versão para empresas pode realizar as mesmas tarefas que a anterior, como escrever e-mails, redigir relatórios ou depurar códigos de computador. Mas também adiciona recursos de privacidade e de análise de dados, bem como desempenho aprimorado e opções de personalização.

Como é possível perceber, até mesmo este artigo dá um grande destaque em sua abertura para essa tecnologia. E isso nos faz pensar: será que é a IA generativa que está liderando a mudança sozinha, como se já tivesse vida própria? Onde estão as lideranças da sua empresa, em especial de RH nessa história?

Meu único receio é que muitos gestores de recursos humanos banquem os ludistas na época da Revolução Industrial na Inglaterra. Eram trabalhadores da indústria têxtil que se revoltaram contra os teares novos que estavam entrando em cena. Por acreditar que essas máquinas estavam tirando seus empregos e piorando suas condições de vida, eles invadiam as fábricas e destruíam as máquinas com martelos, machados e fogo. O nome ludista vem de Ned Ludd, um suposto operário que teria quebrado as máquinas de seu patrão e que inspirou os demais. Mas o fim dessa história veremos mais adiante.

Uma questão de dose

Espero que os atuais líderes das empresas não banquem os ludistas 4.0, em especial os gestores de RH. É preciso que o pessoal de recursos humanos perceba que se trata de um caminho sem volta e uma grande oportunidade de tomar as rédeas dessa mudança e se transformar em uma área geradora contínua de talentos.

Vale dizer que a IA que vem causando medo, choro e ranger de dentes é a mesma IA que traz consigo algumas soluções para essas dores. É como remédio: em grego, a palavra poison serve tanto para curar quanto para matar – vai depender da dose.

Se as reações em relação a essa tecnologia foi além do considerado saudável, é um veneno que vai, aos poucos, corroendo carreiras e empresas. Mas se a IA for encarada na dose certa, como um meio, uma aliada das pessoas, a história pode bem diferente.

A pergunta é: as pessoas, de fato estão com tanto medo assim? Tudo que é novo causa desconforto, isso todo mundo sabe. Da mesma forma que muito do que temos em nosso dia a dia ou pensamos já foi novo um dia e a humanidade seguiu seu caminho.

Uma pesquisa da Randstad mostra que mais de um terço (36%) das pessoas entrevistadas considera que seu trabalho provavelmente será eliminado pela IA e 86% acredita que necessitarão de formação para aprimorar suas competências. Porém, 53% acredita que a IA levará ao crescimento e à promoção de sua própria carreira, em vez de perder o emprego. O motivo desse otimismo é o aumento expressivo de ofertas de emprego que procuram competências em IA: mais de 2.000% em maio deste ano. E para fechar a onda de dados: 47% dos entrevistados está entusiasmado com a perspectiva de ter a IA no local de trabalho. A questão é como as empresas estão lidando com isso.

O que o CEO perguntaria

Você, RH, procure perceber quão entusiasta seu CEO é da IA. Se for o caso, pergunte. A resposta tende a ser positiva, uma vez que os funcionários que usam IA são significativamente mais produtivos e eficazes. Um estudo feito para medir o impacto da IA na produtividade do desenvolvedor descobriu que esse profissional, quando usa a IA, poder implementar um servidor HTTP em JavaScript 55,8% mais rápido do que aqueles que não utilizam a ferramenta.

Outra pesquisa sobre os efeitos da IA Generativa na produtividade revelou que profissionais de diversas funções (marketing, RH, consultores e analistas de dados) relataram um aumento de 37% na velocidade e na qualidade ao usar a IA para redigir memorando e relatórios, acompanhado por um aumento na satisfação no trabalho.

Na área de suporte ao cliente, o uso de IA levou a um aumento de 13,8% no número de problemas resolvidos dos clientes por hora. E mais: um novo gerente que usou IA por apenas dois meses demonstrou habilidades equivalentes às de um agente com seis meses de experiência e sem usar IA.

Agora, imagine nessa conversa com o CEO uma pergunta dele sobre o que a IA vai impactar o papel do RH na empresa. Fique calmo, respire e aproveite para mostrar que você não é ludista e que seu olhar vai além!

Um mundo em constantes revoluções por minuto pede uma nova postura do RH, que mais do que nunca deve olhar para o agora, mas já do ponto de vista de um futuro. É como se pudesse ter uma parte de seu ser instalada em um ponto daqui a alguns anos e outra nos dias de hoje. E não digo isso influenciado pela quantidade de filmes e séries que têm essas viagens no tempo como pano de fundo.

É que nesse mundo novo de competências, saber o que a empresa possui e o que pode precisar mais adiante é fundamental. Assim, podemos imaginar que a IA que vai abalar muitos empregos, eliminando alguns e transformando radicalmente outros, é que vai ajudar o RH a encontrar a saída para isso, tornando-o um gerador de talentos por excelência.

Com toda a tecnologia já embarcada ou que ainda pode entrar no bonde do RH, é possível coletar uma enorme quantidade de dados e, a partir deles, criar as soluções mais eficientes para as demandas atuais e futuras em termos de desenvolvimento de pessoas – e o que é melhor: da forma mais customizada possível. E ainda dá tempo para não se deixar vencer pela ideia de que está tudo perdido.

Perder o bonde da história

De acordo com o “Relatório sobre o futuro do emprego 2023” do Fórum Econômico Social, 34% de todas as tarefas relacionadas com o negócio são, hoje, executados por máquinas. Esse índice é apenas um ponto porcentual maior do que o indicado na edição de 2020 do mesmo relatório.

Um terço dos trabalhadores dos EUA acredita que o seu trabalho dependerá mais da automatização do local de trabalho nos próximos cinco anos, agora segundo um levantamento feito junto a 521 trabalhadores realizados pela AmericaSpeak para a Society for Human Resource Management (SHRM), em abril deste ano. No entanto, 91% disseram que as suas funções profissionais atuais não foram afetadas pela IA...

Isso mostra que essa nova ferramenta talvez esteja ainda naquela fase de “vamos ver como pode ser usada aqui” em muitas empresas. E mostra que se o RH não se mexer e encabeçar essa mudança na empresa em relação à IA, vai perder o bonde da história e reforçar aquela imagem de ser tão somente “uma área de apoio”.

Aliás, um relatório recente da Goldman Sachs concluiu que cerca de 300 milhões de empregos em todo o mundo poderiam ser afetados pela IA e pela automação, incluindo funções de escritório e de apoio administrativo... É de se pensar.

Se tiver de quebrar alguma coisa...

Por isso, caro CRHO, arregace as mangas. Busque um conhecimento profundo das habilidades atuais que sua organização possui, como também procure antecipar como essas habilidades precisarão mudar no futuro. E mais, gere o seu próprio talento com a ajuda dessa tecnologia.

Seja visto com o responsável pela cadeia de fornecimento de talentos, papel que se torna fundamental na formação de uma força de trabalho qualificada, no alinhamento das necessidades do negócio e na promoção de um ambiente que estimula o crescimento e a satisfação dos funcionários. E mais um dado: outra pesquisa SHRM revela que aproximadamente dois terços (76%) dos funcionários têm maior probabilidade de permanecer em uma empresa desde que esta ofereça formação contínua.

Se esse não for seu caminho, desejo apenas que seu destino não se assemelhe ao dos ludistas ingleses, que foram duramente reprimidos pelo governo por meio de leis, deportação entre outras medidas. Se você tiver de quebrar alguma coisa, que sejam velhos paradigmas!

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