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Trabalhe menos, faça mais. O cérebro precisa descansar

É provável que seu conceito de produtividade esteja ultrapassado. Você pode passar menos horas no trabalho e ainda assim ser mais eficiente

Pedro Henrique de Cristo, proprietário da +D Design com Propósito (Marcelo Correa /VOCÊ S/A)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2014 às 13h56.

São Paulo - Em algum momento da vida corporativa, a ideia de que trabalhar muitas horas significa produzir na mesma medida virou uma verdade inquestionável. A justificativa é boa: vivemos na era da urgência, do fazer mais com menos, e aprendemos que chegar tarde em casa e passar os fins de semana ligados à empresa, mesmo que apenas mentalmente, é o preço que se paga por uma carreira bem-sucedida.

Mito. As últimas pesquisas científicas mostram que o cérebro precisa de descanso para ser mais eficiente. E a experiência comprova que dá para trabalhar menos e chegar a resultados melhores.

“A produtividade sempre foi uma questão importante no ambiente de trabalho”, afirma em entrevista a VOCÊ S/A a cientista americana Jennifer Deal, pesquisadora da área de liderança corporativa e conflito de gerações da Universidade do Sul da Califórnia e da consultoria Center for Creative Leadership, nos Estados Unidos.

“A diferença é que, ultimamente, a perda de tempo virou uma questão endêmica nas organizações. Gastam-se horas em reuniões, distrações e processos mal definidos”, diz Jennifer, que, para mudar esse quadro, sugere que as pessoas repensem as próprias atitudes e descubram como podem contribuir para uma jornada mais eficiente, que no fim do mês pode, sim, significar trabalhar menos.

1.Treine o foco

Quando um engenheiro cético e racional cria um programa corporativo voltado para o autoconhecimento, vira guru na multinacional em que trabalha e cativa personalidades como Dalai Lama, Barack Obama, Jimmy Carter e Al Gore, é porque ali existe algo diferente.

O engenheiro é Chade-Meng Tan, do Google nos Estados Unidos, e a façanha dele foi trazer para o cotidiano da empresa, em 2007, uma prática que para muitos parecia estar reservada aos iniciados: meditar. O programa de ChadeMeng fez tanto sucesso que virou livro em 2012, lançado em fevereiro deste ano no Brasil com o título Busque Dentro de Você (Editora Novas Ideias).

Há lista de espera para participar do curso, não exatamente porque os profissionais descobriram da noite para o dia uma vocação zen. É que, tanto no Google quanto na maioria das empresas, a pressão por resultados aumenta na mesma medida que o estresse e a falta de habilidade emocional para lidar com situações difíceis.

Meditar é uma das maneiras de encontrar um ativo escasso no mundo do trabalho hoje: foco. Daí o sucesso de Chade-Meng.

Passamos os últimos anos ouvindo que ser multitarefa era uma das qualidades mais desejadas em um profissional eficaz, até que a ciência desafinou esse discurso. Pesquisas mostram que fazer mais de uma atividade por vez pode diminuir a capacidade cerebral em até 40%.

E que manter a concentração aumenta a qualidade do que é produzido e reduz a quantidade de horas necessárias para a conclusão de cada projeto. Parece simples de resolver, mas monopolizar a atenção em tempos de conexão máxima é um desafio.

O que Chade-Meng propõe são pequenos intervalos com exercícios simples de meditação, que podem ser feitos até mesmo na mesa do escritório. Com a prática, o foco vira um hábito.

“Meditar aciona o córtex pré-frontal, região cerebral que processa a força de vontade. Quanto mais estímulos nessa área, mais capacidade produtiva você vai ter”, diz Chade-Meng. “O cérebro trabalha em ciclos de 90 minutos e requer intervalos de 10 minutos.”

Essas paradas não podem ser preenchidas com outras tarefas ou com um passeio pelas redes sociais. Para funcionar, é preciso mudar o foco de atenção. É possível conseguir um efeito semelhante ao da meditação olhando a paisagem da janela do escritório.

“Sem descanso, os neurônios são privados da quantidade ideal de oxigênio, o metabolismo desacelera e a produtividade cai”, afirma o psiquiatra e consultor organizacional Frederico Porto, de Belo Horizonte. É por isso que quem passa muitas horas no trabalho tende a compensar a falta de descanso com açúcares e outros carboidratos e tomando café para ter mais energia. Essa é uma saída de curto prazo.

Os efeitos desses alimentos no organismo são como os das drogas: primeiro eles jogam você lá em cima, depois entram em queda, fazendo subir sua vontade pelo próximo lanchinho. Resultado: nova lentidão no sistema e nova interrupção para turbinar o cérebro mais uma vez.

2.Crie um método

Outra questão fundamental é que todos nós temos um ritmo biológico, chamado de ciclo circadiano. Alguns produzem melhor pela manhã, outros à tarde ou à noite. Evidentemente, não dá para escolher em qual turno trabalhar, mas é possível planejar as tarefas mais difíceis ou complexas para o período em que você rende mais.

E, nessas horas, é útil ter um método que o ajude a desligar os gatilhos da distração, como desativar mensagens de aviso que aparecem na tela do computador a cada e-mail que chega e fechar janelas do navegador de internet, principalmente as das redes sociais.

As estratégias encontradas por Fábio Serra, de 28 anos, gerente de tecnologia da DP6, empresa de marketing digital em São Paulo, fizeram com que ele reduzisse a jornada de 12 horas diárias para 8. Ele só lê e-mails duas vezes por dia — pela manhã e depois do almoço — e avisa colegas e clientes que as reuniões devem começar no horário, ser objetivas e durar no máximo meia hora.

Se elas estão marcadas no fim do expediente, precisam terminar antes das 17 horas, a tempo de ele pegar o ônibus fretado a caminho de Jundiaí, a 57 quilômetros da capital paulista, onde mora com a esposa. Para não correr o risco de perder mensagens importantes, Fábio usa filtros na caixa de correio para direcioná-las a uma pasta com nível de prioridade.

“O sistema está configurado para entender um e-mail interno e endereçado para várias pessoas como prioridade normal, já que mais gente verá e poderá dar andamento. Se é de um cliente externo e está direcionado apenas para mim, significa que depende da minha leitura para alguma providência — então, é urgente.

Nesse caso, recebo um aviso no celular e posso entrar para ler.” Por incrível que pareça, o engenheiro de dados não se dá bem com aplicativos de produtividade.

“Já testei vários, mas prefiro usar a agenda e o calendário do smartphone integrados com o computador e compartilhados com a empresa.” Portanto, ser mais produtivo passa pela necessidade de prestar atenção nos fatores que causam desperdício de horas e comunicar regras. “No começo, as pessoas estranham. Depois, se acostumam”, afirma Fábio.

3.Saiba engajar

A terceira estratégia é reunir profissionais em torno de uma causa comum. Dividir tarefas e garantir coesão entre o objetivo de cada um do grupo leva à conclusão mais rápida de um projeto. Chade-Meng, do Google, aproveitou 20% de seu tempo no trabalho para desenvolver o programa de treinamento na companhia de profissionais como o psicólogo Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional (1996) e Foco (2013), de quem é amigo, de um mestre zen-budista e de um cientista da Universidade Stanford.

Com esse time, conseguiu criar seu método. O paraibano Pedro Henrique de Cristo, de 30 anos, fez algo parecido. Filho de arquitetos, ele se formou em administração e ganhou uma bolsa para estudar economia na Universidade de Leeds, na Inglaterra. Depois, conseguiu outra, para um mestrado em políticas públicas em Harvard.

Estava obstinado a trabalhar no que considera um dos maiores desafios do Brasil: a segurança pública. Para ele, a violência mina as oportunidades da população ao inibir a educação, que é fundamental para a capacidade produtiva.

“Em Harvard, as pessoas das áreas de tecnologia e de políticas públicas, com as quais eu trabalhava, direcionavam seus esforços para integrar dados e serviços. E o pessoal da arquitetura focava em espaços. Eu resolvi pensar nas pessoas — e elas precisam de todas essas soluções juntas”, diz. Dos Estados Unidos, Pedro embarcou para o Rio de Janeiro, onde fundou o movimento Cidade Unida.

O objetivo era ver de perto a realidade nas favelas e fazer ações que melhorassem a vida dos moradores. “Fui até a Rocinha, Cidade de Deus, Maré, Alemão, Cantagalo, Santa Marta. Conheci muita gente e abri vários canais com ONGs. Sabia que só poderia fazer a diferença se juntasse o que aprendi de políticas públicas e de arquitetura com meus pais ao conhecimento que o pessoal das comunidades tinha.”

Assim nasceu o Parque Sitiê, no morro do Vidigal — onde Pedro mora hoje —, em um espaço de 8 500 metros quadrados que antes abrigava um lixão. A população passou oito anos limpando a área e tentando, sem sucesso, subsídios do governo para construir um espaço verde.

Quando Pedro se juntou aos cinco moradores que lideravam as obras, mobilizou em dois anos mais de 120 voluntários, incluindo estudantes de Harvard e arquitetos do Japão e dos Estados Unidos, e conseguiu patrocínio de empresas privadas para fazer do espaço um parque ecológico que hoje é referência em questões ambientais.

Parte do dinheiro que entra vai para o salário da equipe que mantém a área, projetada para abrigar escola, sala interativa com computadores, horta orgânica com distribuição gratuita dos alimentos, locais para oficinas de gastronomia e artes.

“A produtividade é fruto de três coisas: criatividade para buscar soluções em situações difíceis e conseguir o engajamento das pessoas; coragem para enfrentar o medo de fazer e errar; e propósito, que mantém você focado em uma missão”, diz Pedro, que abriu uma empresa, a +D Design com Propósito, para gerir esse e outros projetos na área social.

4.Reforce o desempenho

De fato, a educação explica parte da estagnação da produtividade brasileira. De 2000 a 2012, o PIB per capita subiu 29,4% — no mesmo período, a produtividade média do trabalhador, que é a relação entre o PIB e a população ocupada no país, subiu apenas 19%, aponta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Houve um breve período de crescimento de 2000 a 2008. Mas, como caiu muito nos anos 80, esse aumento posterior não foi suficiente para a recuperação”, afirma Fernanda de Negri, diretora do Ipea. Na década de 80, a produtividade nos países desenvolvidos era 180% maior do que a brasileira.

Hoje, é 300% maior. “Fizemos uma pesquisa com 500 empresas brasileiras para que apontassem os obstáculos para o crescimento. Para 70% delas, a principal questão é a falta de qualificação da mão de obra”, diz Fernanda. “Mas não basta apenas ter uma formação.

É preciso se especializar naquilo que o mercado necessita”, afirma Diana Coutinho, diretora de projetos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. O órgão está mapeando as iniciativas públicas a favor da produtividade brasileira e pretende apresentar os resultados na próxima reunião de cúpula dos países dos Brics — com líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul.

A gerente de comércio eletrônico da TAM Viagens, Fátima Bana, de 32 anos, de São Paulo, acredita que a educação contínua é importante na hora de entregar mais resultados, com mais qualidade e em menos tempo.

Não só porque profissionais bem preparados tendem a executar as tarefas com mais facilidade mas também porque costumam conquistar mais autonomia, fundamental para quem deseja ter controle sobre as horas dedicadas à empresa.

“Meu chefe entende que tenho alto desempenho e nunca me cobra por presença”, diz ela, que é mestre em comportamento digital do consumidor e doutoranda em marketing digital pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), nos Estados Unidos, além de ter várias especializações e MBAs no currículo.

5.Encare os fatos

Mesmo com baixos índices de produtividade, trabalhamos mais do que a média observada em países desenvolvidos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), os brasileiros dedicam 40,8 horas por semana à profissão, sendo que 33,7% das pessoas passam das 44 horas e 19,1% superam as 48 horas semanais. Na Alemanha, são 38 horas. Na França, 35.

Dependendo da cultura e dos valores estabelecidos em um país e dentro de uma empresa, ser produtivo pode ter um significado diferente. “No Brasil, convencionou-se que ficar até mais tarde no escritório é sinal de eficiência”, diz Frederico Porto, psiquiatra e consultor organizacional.

“Observe, por exemplo, uma multinacional europeia. Se você ligar depois do expediente para a sede lá fora, dificilmente será atendido. Já os escritórios da mesma companhia por aqui ficam cheios fora do horário comercial.” Por isso, fazer hora extra ou responder a e-mails corporativos à noite e nos fins de semana parecem deveres inquestionáveis.

Só que negociar prazos, alinhar expectativas e saber dizer “não” a mais uma tarefa também são habilidades do profissional competente. Talvez, para você, trabalhar menos horas dependa de uma boa conversa com seu gestor. Mas pode ser que essa decisão não esteja nas mãos dele.

Hoje, não é incomum dedicar muito tempo à carreira por vontade própria. Antigamente, quando o sol se punha, o trabalhador ia para casa. As máquinas da indústria eram desligadas e a jornada acabava. Pela primeira vez na história, as demandas não têm mais um relógio biológico indicando o começo, o meio e o fim das atividades.

Elas viraram permanentes na tela dos celulares, dos tablets e dos computadores. Perceber isso é entender que o trabalho não acaba nunca — e que é preciso deixar de lado o desejo utópico de dar conta dele antes de o dia terminar.

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São Paulo - Em algum momento da vida corporativa, a ideia de que trabalhar muitas horas significa produzir na mesma medida virou uma verdade inquestionável. A justificativa é boa: vivemos na era da urgência, do fazer mais com menos, e aprendemos que chegar tarde em casa e passar os fins de semana ligados à empresa, mesmo que apenas mentalmente, é o preço que se paga por uma carreira bem-sucedida.

Mito. As últimas pesquisas científicas mostram que o cérebro precisa de descanso para ser mais eficiente. E a experiência comprova que dá para trabalhar menos e chegar a resultados melhores.

“A produtividade sempre foi uma questão importante no ambiente de trabalho”, afirma em entrevista a VOCÊ S/A a cientista americana Jennifer Deal, pesquisadora da área de liderança corporativa e conflito de gerações da Universidade do Sul da Califórnia e da consultoria Center for Creative Leadership, nos Estados Unidos.

“A diferença é que, ultimamente, a perda de tempo virou uma questão endêmica nas organizações. Gastam-se horas em reuniões, distrações e processos mal definidos”, diz Jennifer, que, para mudar esse quadro, sugere que as pessoas repensem as próprias atitudes e descubram como podem contribuir para uma jornada mais eficiente, que no fim do mês pode, sim, significar trabalhar menos.

1.Treine o foco

Quando um engenheiro cético e racional cria um programa corporativo voltado para o autoconhecimento, vira guru na multinacional em que trabalha e cativa personalidades como Dalai Lama, Barack Obama, Jimmy Carter e Al Gore, é porque ali existe algo diferente.

O engenheiro é Chade-Meng Tan, do Google nos Estados Unidos, e a façanha dele foi trazer para o cotidiano da empresa, em 2007, uma prática que para muitos parecia estar reservada aos iniciados: meditar. O programa de ChadeMeng fez tanto sucesso que virou livro em 2012, lançado em fevereiro deste ano no Brasil com o título Busque Dentro de Você (Editora Novas Ideias).

Há lista de espera para participar do curso, não exatamente porque os profissionais descobriram da noite para o dia uma vocação zen. É que, tanto no Google quanto na maioria das empresas, a pressão por resultados aumenta na mesma medida que o estresse e a falta de habilidade emocional para lidar com situações difíceis.

Meditar é uma das maneiras de encontrar um ativo escasso no mundo do trabalho hoje: foco. Daí o sucesso de Chade-Meng.

Passamos os últimos anos ouvindo que ser multitarefa era uma das qualidades mais desejadas em um profissional eficaz, até que a ciência desafinou esse discurso. Pesquisas mostram que fazer mais de uma atividade por vez pode diminuir a capacidade cerebral em até 40%.

E que manter a concentração aumenta a qualidade do que é produzido e reduz a quantidade de horas necessárias para a conclusão de cada projeto. Parece simples de resolver, mas monopolizar a atenção em tempos de conexão máxima é um desafio.

O que Chade-Meng propõe são pequenos intervalos com exercícios simples de meditação, que podem ser feitos até mesmo na mesa do escritório. Com a prática, o foco vira um hábito.

“Meditar aciona o córtex pré-frontal, região cerebral que processa a força de vontade. Quanto mais estímulos nessa área, mais capacidade produtiva você vai ter”, diz Chade-Meng. “O cérebro trabalha em ciclos de 90 minutos e requer intervalos de 10 minutos.”

Essas paradas não podem ser preenchidas com outras tarefas ou com um passeio pelas redes sociais. Para funcionar, é preciso mudar o foco de atenção. É possível conseguir um efeito semelhante ao da meditação olhando a paisagem da janela do escritório.

“Sem descanso, os neurônios são privados da quantidade ideal de oxigênio, o metabolismo desacelera e a produtividade cai”, afirma o psiquiatra e consultor organizacional Frederico Porto, de Belo Horizonte. É por isso que quem passa muitas horas no trabalho tende a compensar a falta de descanso com açúcares e outros carboidratos e tomando café para ter mais energia. Essa é uma saída de curto prazo.

Os efeitos desses alimentos no organismo são como os das drogas: primeiro eles jogam você lá em cima, depois entram em queda, fazendo subir sua vontade pelo próximo lanchinho. Resultado: nova lentidão no sistema e nova interrupção para turbinar o cérebro mais uma vez.

2.Crie um método

Outra questão fundamental é que todos nós temos um ritmo biológico, chamado de ciclo circadiano. Alguns produzem melhor pela manhã, outros à tarde ou à noite. Evidentemente, não dá para escolher em qual turno trabalhar, mas é possível planejar as tarefas mais difíceis ou complexas para o período em que você rende mais.

E, nessas horas, é útil ter um método que o ajude a desligar os gatilhos da distração, como desativar mensagens de aviso que aparecem na tela do computador a cada e-mail que chega e fechar janelas do navegador de internet, principalmente as das redes sociais.

As estratégias encontradas por Fábio Serra, de 28 anos, gerente de tecnologia da DP6, empresa de marketing digital em São Paulo, fizeram com que ele reduzisse a jornada de 12 horas diárias para 8. Ele só lê e-mails duas vezes por dia — pela manhã e depois do almoço — e avisa colegas e clientes que as reuniões devem começar no horário, ser objetivas e durar no máximo meia hora.

Se elas estão marcadas no fim do expediente, precisam terminar antes das 17 horas, a tempo de ele pegar o ônibus fretado a caminho de Jundiaí, a 57 quilômetros da capital paulista, onde mora com a esposa. Para não correr o risco de perder mensagens importantes, Fábio usa filtros na caixa de correio para direcioná-las a uma pasta com nível de prioridade.

“O sistema está configurado para entender um e-mail interno e endereçado para várias pessoas como prioridade normal, já que mais gente verá e poderá dar andamento. Se é de um cliente externo e está direcionado apenas para mim, significa que depende da minha leitura para alguma providência — então, é urgente.

Nesse caso, recebo um aviso no celular e posso entrar para ler.” Por incrível que pareça, o engenheiro de dados não se dá bem com aplicativos de produtividade.

“Já testei vários, mas prefiro usar a agenda e o calendário do smartphone integrados com o computador e compartilhados com a empresa.” Portanto, ser mais produtivo passa pela necessidade de prestar atenção nos fatores que causam desperdício de horas e comunicar regras. “No começo, as pessoas estranham. Depois, se acostumam”, afirma Fábio.

3.Saiba engajar

A terceira estratégia é reunir profissionais em torno de uma causa comum. Dividir tarefas e garantir coesão entre o objetivo de cada um do grupo leva à conclusão mais rápida de um projeto. Chade-Meng, do Google, aproveitou 20% de seu tempo no trabalho para desenvolver o programa de treinamento na companhia de profissionais como o psicólogo Daniel Goleman, autor de Inteligência Emocional (1996) e Foco (2013), de quem é amigo, de um mestre zen-budista e de um cientista da Universidade Stanford.

Com esse time, conseguiu criar seu método. O paraibano Pedro Henrique de Cristo, de 30 anos, fez algo parecido. Filho de arquitetos, ele se formou em administração e ganhou uma bolsa para estudar economia na Universidade de Leeds, na Inglaterra. Depois, conseguiu outra, para um mestrado em políticas públicas em Harvard.

Estava obstinado a trabalhar no que considera um dos maiores desafios do Brasil: a segurança pública. Para ele, a violência mina as oportunidades da população ao inibir a educação, que é fundamental para a capacidade produtiva.

“Em Harvard, as pessoas das áreas de tecnologia e de políticas públicas, com as quais eu trabalhava, direcionavam seus esforços para integrar dados e serviços. E o pessoal da arquitetura focava em espaços. Eu resolvi pensar nas pessoas — e elas precisam de todas essas soluções juntas”, diz. Dos Estados Unidos, Pedro embarcou para o Rio de Janeiro, onde fundou o movimento Cidade Unida.

O objetivo era ver de perto a realidade nas favelas e fazer ações que melhorassem a vida dos moradores. “Fui até a Rocinha, Cidade de Deus, Maré, Alemão, Cantagalo, Santa Marta. Conheci muita gente e abri vários canais com ONGs. Sabia que só poderia fazer a diferença se juntasse o que aprendi de políticas públicas e de arquitetura com meus pais ao conhecimento que o pessoal das comunidades tinha.”

Assim nasceu o Parque Sitiê, no morro do Vidigal — onde Pedro mora hoje —, em um espaço de 8 500 metros quadrados que antes abrigava um lixão. A população passou oito anos limpando a área e tentando, sem sucesso, subsídios do governo para construir um espaço verde.

Quando Pedro se juntou aos cinco moradores que lideravam as obras, mobilizou em dois anos mais de 120 voluntários, incluindo estudantes de Harvard e arquitetos do Japão e dos Estados Unidos, e conseguiu patrocínio de empresas privadas para fazer do espaço um parque ecológico que hoje é referência em questões ambientais.

Parte do dinheiro que entra vai para o salário da equipe que mantém a área, projetada para abrigar escola, sala interativa com computadores, horta orgânica com distribuição gratuita dos alimentos, locais para oficinas de gastronomia e artes.

“A produtividade é fruto de três coisas: criatividade para buscar soluções em situações difíceis e conseguir o engajamento das pessoas; coragem para enfrentar o medo de fazer e errar; e propósito, que mantém você focado em uma missão”, diz Pedro, que abriu uma empresa, a +D Design com Propósito, para gerir esse e outros projetos na área social.

4.Reforce o desempenho

De fato, a educação explica parte da estagnação da produtividade brasileira. De 2000 a 2012, o PIB per capita subiu 29,4% — no mesmo período, a produtividade média do trabalhador, que é a relação entre o PIB e a população ocupada no país, subiu apenas 19%, aponta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Houve um breve período de crescimento de 2000 a 2008. Mas, como caiu muito nos anos 80, esse aumento posterior não foi suficiente para a recuperação”, afirma Fernanda de Negri, diretora do Ipea. Na década de 80, a produtividade nos países desenvolvidos era 180% maior do que a brasileira.

Hoje, é 300% maior. “Fizemos uma pesquisa com 500 empresas brasileiras para que apontassem os obstáculos para o crescimento. Para 70% delas, a principal questão é a falta de qualificação da mão de obra”, diz Fernanda. “Mas não basta apenas ter uma formação.

É preciso se especializar naquilo que o mercado necessita”, afirma Diana Coutinho, diretora de projetos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. O órgão está mapeando as iniciativas públicas a favor da produtividade brasileira e pretende apresentar os resultados na próxima reunião de cúpula dos países dos Brics — com líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul.

A gerente de comércio eletrônico da TAM Viagens, Fátima Bana, de 32 anos, de São Paulo, acredita que a educação contínua é importante na hora de entregar mais resultados, com mais qualidade e em menos tempo.

Não só porque profissionais bem preparados tendem a executar as tarefas com mais facilidade mas também porque costumam conquistar mais autonomia, fundamental para quem deseja ter controle sobre as horas dedicadas à empresa.

“Meu chefe entende que tenho alto desempenho e nunca me cobra por presença”, diz ela, que é mestre em comportamento digital do consumidor e doutoranda em marketing digital pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla), nos Estados Unidos, além de ter várias especializações e MBAs no currículo.

5.Encare os fatos

Mesmo com baixos índices de produtividade, trabalhamos mais do que a média observada em países desenvolvidos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ), os brasileiros dedicam 40,8 horas por semana à profissão, sendo que 33,7% das pessoas passam das 44 horas e 19,1% superam as 48 horas semanais. Na Alemanha, são 38 horas. Na França, 35.

Dependendo da cultura e dos valores estabelecidos em um país e dentro de uma empresa, ser produtivo pode ter um significado diferente. “No Brasil, convencionou-se que ficar até mais tarde no escritório é sinal de eficiência”, diz Frederico Porto, psiquiatra e consultor organizacional.

“Observe, por exemplo, uma multinacional europeia. Se você ligar depois do expediente para a sede lá fora, dificilmente será atendido. Já os escritórios da mesma companhia por aqui ficam cheios fora do horário comercial.” Por isso, fazer hora extra ou responder a e-mails corporativos à noite e nos fins de semana parecem deveres inquestionáveis.

Só que negociar prazos, alinhar expectativas e saber dizer “não” a mais uma tarefa também são habilidades do profissional competente. Talvez, para você, trabalhar menos horas dependa de uma boa conversa com seu gestor. Mas pode ser que essa decisão não esteja nas mãos dele.

Hoje, não é incomum dedicar muito tempo à carreira por vontade própria. Antigamente, quando o sol se punha, o trabalhador ia para casa. As máquinas da indústria eram desligadas e a jornada acabava. Pela primeira vez na história, as demandas não têm mais um relógio biológico indicando o começo, o meio e o fim das atividades.

Elas viraram permanentes na tela dos celulares, dos tablets e dos computadores. Perceber isso é entender que o trabalho não acaba nunca — e que é preciso deixar de lado o desejo utópico de dar conta dele antes de o dia terminar.

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