O diagnóstico aponta para um setor em transição, pressionado pela adoção acelerada da inteligência artificial, pela escassez de talentos e por um turnover em alta (chaofann/Getty Images)
Repórter
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 09h29.
O RH brasileiro está mudando — mas não na velocidade que a tecnologia e o mercado exigem. É o que revela a Pesquisa de Tendências de RH 2026, realizada pela HR Tech Koru em parceria com a plataforma de executivos sob demanda Chiefs.Group. O estudo ouviu 330 líderes de recursos humanos, dos quais 75% ocupam posições de coordenação, gerência, diretoria ou vice-presidência, com predominância de empresas de grande porte.
O diagnóstico aponta para um setor em transição, pressionado pela adoção acelerada da inteligência artificial, pela escassez de talentos, pela reorganização do trabalho e por um turnover em alta.
A fotografia mais contundente da pesquisa está na relação do RH com a inteligência artificial. Embora 56% das empresas digam que aumentaram investimentos em IA entre 2024 e 2025, 62% afirmam não perceber mudanças relevantes na rotina a partir da tecnologia.
Além disso, 70,2% das iniciativas de IA seguem sob liderança de TI, e não de RH — um descompasso que, segundo o CEO da Koru, Daniel Spolaor, compromete impacto e escala.
“A IA é o principal divisor de águas: ou se aposta de forma consistente, ou se recua. O RH ainda não assumiu a governança da IA, o que compromete escala, ética, impacto e conexão com decisões de gente e cultura.”
O uso predominante ainda é básico:
No geral, o RH brasileiro permanece analógico: 62% têm menos de 40% dos processos digitalizados e dependem de relatórios manuais. Só 4% atingiram o nível de excelência digital — com mais de 80% dos processos automatizados e uso de IA na tomada de decisão.
“Apesar da tecnologia estar disponível, a velocidade de adoção é baixa. Sem dados integrados, o RH fica limitado ao papel operacional, mesmo quando o discurso é estratégico”, afirma Spolaor.
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O estudo aponta para um gap estrutural de prontidão:
Em um mercado com desemprego em mínima histórica, o alerta é sobre a responsabilidade das empresas na formação contínua.
“A escassez não está só na atração, mas na capacidade de formar e redesenhar habilidades dentro de casa”, diz Spolaor.
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O investimento declarado em T&D caiu de 55% para 40% entre 2024 e 2025, justamente em um momento em que IA e automação exigem requalificação em larga escala.
Quando o investimento acontece, porém, ele vai para as áreas mais críticas:
O ecossistema de aprendizagem ainda é incipiente:
“O desafio não é ter mais treinamentos, e sim um portfólio baseado em habilidades críticas. Quando isso acontece, T&D deixa de ser centro de custo e vira alavanca de negócio”, afirma Spolaor.
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A fotografia das causas de turnover permanece consistente:
Outro ponto crítico: 73% das empresas não possuem onboarding profundo, limitado à primeira semana de trabalho. E para 42%, a política de remuneração não se conecta à estratégia do negócio.
“Não existe turnover baixo com processos desconectados”, afirma o CEO.
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A pesquisa confirma que o trabalho sob demanda deve ganhar protagonismo a partir de 2026. Atração baseada em benefícios e flexibilidade subiu de 13% para 25%, e empresas sem política formal de atração caíram de 33% para 21%.
Áreas com maior preparação para receber executivos on demand:
Para Cris Mendes, CEO da Chiefs.Group, esse modelo responde ao novo contexto do trabalho.
“A convergência entre pleno emprego, pressão por eficiência, busca por equilíbrio e avanço da IA tende a acelerar modelos híbridos. Combinações de talento fixo e talento sob demanda ganharão mais protagonismo a partir de 2026.”
A agenda de Diversidade, Equidade e Inclusão passa por uma mudança de paradigma:
A tendência é que DEI seja integrada diretamente à performance, e não tratada como ação reputacional.
“Diversidade é escala. Homogeneidade é escassez. Empresas que integrarem inclusão aos processos crescerão mais”, afirma Spolaor.
Com a atualização da NR-01, saúde integral — incluindo riscos psicossociais — passa a fazer parte da agenda regulatória das empresas. Ainda assim, quase 40% das organizações operam abaixo do patamar mínimo esperado.
Apenas 4,67% conseguem monitorar dados completos e conectar saúde diretamente à estratégia.
“A NR-1 é, hoje, uma resposta de socorro para um cenário de adoecimento coletivo, principalmente ligado à saúde mental”, afirma Yara Leal Girasole, advogada trabalhista e sócia do PK Advogados, especializada na área desde 2008.
O aumento expressivo dos afastamentos por ansiedade, depressão e burnout — muitos já reconhecidos como doenças ocupacionais pelo INSS — pressionou o poder público a ampliar a visão sobre segurança no trabalho, antes restrita quase exclusivamente aos acidentes físicos, afirma a advogada.
“A Constituição de 1988 já dizia que o empregador tem obrigação de oferecer um ambiente de trabalho seguro. Mas, por muito tempo, isso foi interpretado só pelo ponto de vista físico. Agora, a NR-1 regulamenta de forma mais clara a saúde mental".
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O estudo sintetiza sua visão em quatro imperativos:
Para Cris Mendes, CEO da Chiefs.Group, a nova era do RH passa por essas mudanças e uma atenção especial à cultura.
“O RH está passando por uma reengenharia silenciosa. Quem integrar estrutura, dados, tecnologia, cultura e flexibilidade terá vantagem competitiva sustentável. As demais continuarão operando no escuro”.