Ilustração - Investimentos (Jonatan Sarmento/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2013 às 16h49.
São Paulo - Já foi a época em que era preciso ter muito dinheiro para desfrutar de boas oportunidades de investimentos com baixas taxas de administração. Agora, com 50 reais na conta bancária é possível acessar mais de 500 fundos de investimentos de diferentes instituições financeiras e escolher o que melhor lhe convém. E tudo pela internet.
Esses sites são popularmente chamados de “supermercado de investimentos” ou, na linguagem técnica, arquitetura aberta de aplicações. Pioneira nesse campo, a carioca XP Investimentos, em dez anos de vida, saiu de uma sala de 30 metros quadrados voltada para cursos sobre educação financeira para se tornar o maior “supermercado de investimentos” do Brasil, com mais de 400 fundos na prateleira, desenvolvidos por cerca de 100 gestores parceiros, além de opções em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e ações. Com o sucesso da XP, outras butiques de investimentos, como Mirae e Órama, estão entrando nesse mercado.
Mas o que é exigido para entrar em um desses supermercados? Mesmo com estruturas distintas em tamanho e oferta de produtos, o que todos os sites têm em comum é a possibilidade de operação plena do investimento por meio da internet nos próprios portais. Todas as corretoras, bem como os gestores dos fundos, são registrados e autorizados a operar pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Entre os grandes bancos, apenas o Citibank oferece plataforma aberta de produtos de terceiros, mas exclusivamente para seus clientes. “É uma estratégia global iniciada há dez anos, para clientes de alta renda”, diz Ennio Ferreira de Moraes, diretor executivo de investimentos do Citibank.
Uma vez escolhida a corretora, o interessado preenche os dados solicitados e os envia também por e-mail. A aprovação costuma ser feita em menos de um dia e o cliente recebe um login e um número de conta para operar. É importante, nesse momento, antes de realizar o seu primeiro aporte, preencher um questionário conhecido como Análise de Perfil do Investidor, que irá definir em que classe você se encaixa — conservador, moderado ou agressivo (mais sujeito a riscos).
A aplicação do questionário está em fase de normatização pela CVM, que defende que nenhuma empresa de serviços financeiros poderá apresentar um produto incompatível com o perfil do investidor. Aí, é só fazer uma transferência da grana de sua conta para a da instituição. As corretoras não cobram taxa de abertura de conta ou mensalidades. O ganho vem por meio do reparte das taxas com os gestores.
Segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo, o modelo de arquitetura aberta é interessante tanto para o investidor como para o gestor do fundo. “O investidor comum passa a ter à disposição produtos até então oferecidos a clientes private, e os gestores têm a possibilidade de ampliar a base de investidores em seus fundos”, afirma.
O cuidado maior, diz Fabio, é quanto à transparência das taxas cobradas, principalmente a de performance aplicada nos fundos multimercado, que impactam na rentabilidade do produto. A VOCÊ S/A acessou os principias sites que oferecem os melhores produtos e dá as dicas do que encontrar e por onde navegar.
Como migrar sem medo
Se você está acostumado a associar os nomes dos grandes bancos a seus investimentos, talvez estranhe em um primeiro momento que corretoras pouco conhecidas do grande público possam abrigar produtos de pesos-pesados do mercado financeiro, como JP Morgan, BTG Pactual e BNP Paribas, bancos que exigem aportes acima de três dígitos apenas para abrir uma conta. Mas é isso mesmo.
Aos 36 anos, o economista Guilherme Benchimol comanda hoje uma equipe de 700 pessoas e 2 000 agentes distribuidores na XP Investimentos. São cerca de 70 000 clientes, sendo 30 000 com aplicações em fundos, com taxas de administração mais em conta do que as ofertadas pelos grandes bancos.
“Oferecemos produtos que antes eram exclusivos da alta renda e que na XP são acessíveis a pequenos e médios investidores. Por sua vez, as grandes casas enxergam na XP um canal de visibilidade e exposição”, afirma Guilherme.
Daí a parceria interessar para as duas pontas do negócio. Na XP, o investidor pode iniciar com 50 reais em um fundo referenciado DI, com taxa de 0,3%, ou, se tiver um pouco mais de grana, a partir de 5 000 reais dá para aplicar no fundo DI do BTG Pactual, que rende 95% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), em fundos imobiliários, operar na bolsa por home broker ou até investir em Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ou Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), papéis que, assim como a poupança, são isentos de Imposto de Renda.
Desconfiança inicial
Descontente com o atendimento de seu banco e com a elevada taxa de administração cobrada em seu fundo multimercado, o engenheiro de petróleo Norton Torres atendeu a sugestão de amigos e, há nove meses, aplicou 50 000 em um fundo multimercado do BTG Pactual, com taxa de administração de 0,6%, por meio da corretora Órama. “No começo, fiquei meio desconfiado”, admite.
Surpreso com a rentabilidade, transferiu todas as suas aplicações para o supermercado de investimentos e diversificou os produtos com fundo de ações, multimercado e renda fixa. Apesar do pouco tempo, Norton estima que seus ganhos atuais estão entre 15% e 20% superiores ao que teria obtido caso deixasse seus recursos no banco.
Com cerca de 7 000 clientes, a Órama concentra todo o atendimento aos investidores diretamente de seu escritório no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro. Segundo Guilherme Horn, CEO da corretora, o uso mais intenso da internet em operações financeiras está proporcionado uma pulverização geográfica dos investidores. “Hoje, 20% dos clientes são do Nordeste”, revela.
Ex-sócio da Ágora (vendida para o Bradesco em 2008), Guilherme acredita que a arquitetura aberta é uma forma de desconcentrar a indústria de fundos e contribui para a melhor educação financeira da população. A Órama trabalha com 15 gestores independentes (como BNY Mellon, JGP, Gávea e Opportunity) e possui três fundos próprios, com taxa de 0,3%. O tíquete de entrada na corretora é maior do que o da concorrência, e está em 5 000 reais.
Pesquise a melhor opção
Falta de informação não foi o caso do analista de sistemas Cristian Tetzener, que percorreu longo caminho até chegar ao supermercado de investimentos. Há 15 anos, começou a aplicar em poupança e renda fixa em um grande banco de varejo. “Não estava satisfeito nem com o retorno nem com a atenção que recebia da instituição e fui pesquisar várias corretoras até chegar à Mirae.
O que me chamou a atenção foi a baixa tarifa do home broker, que hoje é de 2,90 reais por operação, e a rentabilidade dos fundos”, recorda, destacando que optou por dois produtos que rendem “bem acima” do CDI.
Com uma estrutura mais enxuta, a corretora sul-coreana entrou nesse tipo de operação em janeiro de 2011 e conta hoje com 7 000 investidores, dos quais 30% têm a grana aplicada nesses fundos.
A corretora oferece 50 fundos de cinco gestores diferentes. São desde produtos populares, como o fundo multimercado Mapfre Inversion, com aplicação inicial a partir de 200 reais e taxa de 1,2%, até investimentos com tíquete mínimo de 50 000 reais.
De acordo com Luciana Pazos, diretora de gestão de fortunas da Mirae, a corretora mantém reuniões mensais com os gestores e a equipe faz contatos frequentes com os investidores para recomendar investimentos. Sediada em São Paulo, a Mirae tem 13 profissionais 100% dedicados a esse tipo de atendimento.
No primeiro semestre, o fundo Mirae Asset IMA-B, com taxa de 0,3% e aplicação mínima de 25 000 reais, conseguiu ganhos de 12,72%, enquanto o Ibovespa declinou 4,23% no mesmo período.