Escola na região rural da Índia: deficiências no sistema educativo não divide crescimento econômico com todos (Brent Stirton/Getty Images)
Talita Abrantes
Publicado em 5 de abril de 2011 às 15h41.
São Paulo – De um lado, o mercado de trabalho em ebulição. Do outro, falta gente com qualificação suficiente para responder a crescente demanda. Detalhe: não estamos falando do Brasil. Mas sim de outro membro dos BRIC, a Índia.
De acordo com reportagem publicada na edição dessa terça-feira do Wall Street Journal, o país asiático vive um processo bastante semelhante ao brasileiro: há uma multidão de oportunidades em aberto, mas poucos profissionais aptos para preenchê-las.
Segundo empresas ouvidas pela reportagem, está difícil encontrar pessoas qualificadas até para trabalhar nas empresas de call center.
A companhia 24/7 Customer Pvt. Ltd, especializada no setor, por exemplo, teve que enviar unidades para Filipinas e Nicarágua para encontrar gente mais bem preparada – para responder telefonemas e escrever e-mails.
O paradoxo dessa história é que, segundo dados oficiais, mais indianos estão chegando às faculdades, graças a incentivos governamentais como barateamento das mensalidades, entre outros.
Só nas faculdades de engenharia, segundo com a Associação Nacional das Companhias de Software e Serviços, há 1,5 milhão de vagas para estudantes.
No entanto, 85% dos indianos graduados estão sem emprego.
O problema é que, segundo a reportagem, o sistema de ensino indiano tropeça em qualidade. De acordo com outro levantamento, metade dos alunos do 5º ano do equivalente ao nosso ensino fundamental não tem habilidades de leitura compatíveis com ao ideal de um aluno do segundo ano.
Na faculdade, os estudantes relatam que as exigências não são muitas e que, pior, há casos até de pagamento de propina durante os exames finais.
Mas não é só isso. Como os brasileiros, os indianos ainda engasgam na fluência do inglês.
Ao todo, o país tem cerca de 28 idiomas oficiais – entre eles, o inglês. Mesmo assim, no ranking da EF de países com melhor proficiência no idioma, a Índia arrematou a 30ª posição, entre 44 nações, com nota considerada baixa pela instituição. O Brasil ficou em 31º lugar.
Junto com Rússia e China, os dois países devem alcançar um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de 25 trilhões de dólares ainda nesta década, segundo previsão de Jim O'Neill, presidente da gestora de ativos da Goldman Sachs na Grã-Bretanha e criador do termo BRIC.
Atualmente, os quatro países somam PIB de 11 trilhões de dólares. No início do século, esse valor era de 3 trilhões de dólares.