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As seguradas perderam executivos importantes. E estão na mão

Aquecimento no setor financeiro faz seguradoras perderem pessoas e, com cadeiras vazias, reavaliarem estratégias para atrair e reter profissionais

Luis Maurette, presidente da Liberty: a empresa decidiu ser a seguradora oficial da Copa de 2014 para atrair e reter mais pessoas (Omar Paixão)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2013 às 18h19.

São Paulo - No primeiro semestre deste ano, Icatu, Zurich , ACE e Metlife , quatro das principais seguradoras no país, ficaram acéfalas. Maria Silvia, primeira mulher na presidência de uma seguradora, deixou a Icatu Seguros em março para assumir em agosto a Autoridade Olímpica Municipal, estatal recém-criada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Pedro Purm, que comandou a Zurich Brasil por 17 anos, trocou o posto em abril para iniciar a operação da Argo Group International Holdings, subscritora internacional de produtos de seguros especiais e resseguros.

Marcos Couto, que presidiu a ACE por cinco anos, também foi seduzido por um projeto desafiador, proposto pelos acionistas da holding Tempo Assist, um dos maiores grupos de saúde a assistências 24 horas do Brasil, com faturamento estimado em 1,1 bilhão de reais para este ano.  Já José Roberto Marmo Loureiro, que comandou a Metlife por dez anos, deixou em outubro de 2010 o grupo americano para ser o COO da Laureate International Education, em janeiro deste ano.

O movimento de troca-troca visto no topo tem descido para outros níveis nas seguradoras. O motivo é um velho conhecido de outros setores da economia: faltam profissionais disponíveis. Apesar de se falar há anos que o Brasil seria uma das maiores economias do mundo, pouco se fez para preparar profissionais num dos setores mais beneficiados pela expansão da economia — o mercado financeiro.

O resultado de tal inércia é um apagão de talentos num momento em que a demanda pelo crédito e por seguros é gigantesca, com a expansão das vendas muito acima do previsto. Para ter uma ideia, a participação de crédito no produto interno bruto (PIB) passou de 41% para 46% em 2010, e a de seguros de 3,1% para 5%, segundo dados da Confederação das Seguradoras (CNSeg).

Para Ricardo Barcelos, sócio da Havik, consultoria de recrutamento com foco em bancos, seguradoras e serviços financeiros, a falta de recursos humanos é generalizada no Brasil, mas no mercado financeiro a situação está crítica, especialmente no mercado de seguros. Isso porque, simplesmente, o Brasil está crescendo.

O cenário, segundo diversas fontes de pesquisas, é de que o país deve manter nos próximos anos um crescimento do PIB na casa dos 4%, o que significa projetar a geração de mais de 2 milhões de novas vagas ao ano. Aliado a isso (oupor causa disso), um enorme contingente de pessoas acredita que chegou o momento de arriscar e partir para o negócio próprio. Somam-se a esse aquecimento, dois grandes projetos que demandam profissionais financeiros para organizar os orçamentos, os financiamentos e os seguros necessários para garantir eficiência mesmo diante de imprevistos: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.


Por tudo isso, a movimentação na indústria de seguros brasileira, que conviveu com a monotonia do monopólio por quase 70 anos, nunca foi tão intensa. A abertura do resseguro trouxe ao Brasil mais de 90 resseguradoras, que “roubaram” profissionais das seguradoras. Elas, por sua vez, estão suando para preencher suas vagas. Max Thiermann, CEO da Allianz Brasil, subsidiária local da maior seguradora do mundo, preocupado com o apagão saiu a campo para ajudar a equipe de RH. “Estamos precisando de um diretor comercial. Quem souber de alguém, por favor, pode me contatar”, apelou Thiermann durante um coquetel com clientes e corretores realizado em junho na inauguração da Casa Cor.

Em alguns casos, executivos estão acumulando funções, enquanto as pessoas certas não chegam, como Kati de Almeida Braga, acionista e presidente do conselho da Icatu, que também assumiu a presidência executiva assim que Maria Silvia deixou o posto, em março.

Por outro lado, executivos com anos de casa estão assumindo novos desafios, como Antonio Cássio dos Santos, que presidiu a Mapfre por 11 anos e deixou o grupo após ter consolidado o processo de integração com o Banco do Brasil. “Colocar a Zurich entre as cinco maiores é um bom desafio”, diz o executivo, que desde maio assumiu o comando das operações de seguros gerais do grupo suíço na América Latina. Seu antecessor, Pedro Purm, que comandou a Zurich por 17 anos, assumiu um desafio ainda maior: abrir a operação da Argo Group International Holdings, um grupo jovem sediado nas Bermudas.

A saída tradicional para driblar o assédio da concorrência é equilibrar o pacote de benefícios e remuneração fixa e variável dentro da oferta e demanda do mercado. Na Aon Hewitt, o CEO José Felipe Vieira orgulha-se de não ter perdido nenhum de seus 35 diretores nos últimos dois anos. “Temos um programa de bônus imbatível, capaz de realizar o sonho de trocar de residência ou comprar uma casa de veraneio”, diz.

Só que o rouba-monte, com elevação de salários e benefícios, esgotou-se rapidamente e a necessidade de atrair profissionais com projetos e investir em treinamento se tornou urgente. A Liberty Seguros apostou em ser a seguradora oficial da Copa de 2014 para tornar a marca mais conhecida e também reter e atrair talentos.

“Os profissionais não querem mais só um bom salário e um pacote de benefícios atraente. Eles desejam um projeto que emocione e traga resultado para a carreira e para a sociedade. Isso foi um dos fatores que pesou na decisão de investirmos no patrocínio da Copa”, afirma Luis Maurette, presidente da seguradora.


Além de projetos que signifiquem uma causa, ter experiência no exterior e contar com líder que priorize uma gestão transparente e se preocupe com a sustentabilidade têm sido os principais atrativos de talentos. “Essa nova safra de jovens quer um líder para seguir o exemplo, que seja ético e respeite o tripé indivíduo, sociedade e meio ambiente”, diz Marcelo Munerato, vice-presidente da Aon Hewitt.

Um exemplo de busca desses valores pode ser visto no Itaú-Unibanco, um dos dez maiores bancos do mundo, que divulgou lucro líquido de 13,3 bilhões de reais em 2010, o maior da história dos bancos no país.

Ao ter sido eleito o banco mais sustentável do mundo pelo prêmio 2011 FT/IFC Sustainable Finance Awards, concedido pelo jornal britânico Financial Times e pelo International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial, em junho deste ano, o Itaú conseguiu atrair 40 000 jovens interessados em uma das 100 vagas de seu programa de trainee. “Ter políticas sustentáveis é um aliado e tanto dentro do nosso desafio”, diz Marcelo Luís Orti Celli, diretor de cultura e gente do Itaú-Unibanco.

Para suprir o aquecimento do mercado, o que se vê é uma corrida das empresas para fazer parcerias e subsidiar cursos como MBA e pós-graduação, no Brasil e no exterior, a fim de formar profissionais no setor. Seguradoras como Bradesco e SulAmérica criaram universidades para treinar profissionais em diversas áreas. O mesmo aconteceu com os bancos.

A Federação Brasileirade Bancos ( Febraban ) tem uma grade extensa de cursos dedicados aos profissionais do setor. No Itaú-Unibanco, por exemplo, a equipe de recursos humanos desenvolveu cursos para treinar funcionários em especialidades antes mesmo de começar a faltar profissionais. “Acompanhamos os nichos de negócios nos quais o banco aposta suas fichas e começamos a traçar um plano de treinamento focado”, conta Celli. A instituição também passou a recrutar estagiários fora do eixo São Paulo-Rio. “Há ótimas faculdades no interior e em outros estados, com pessoas com muita garra para crescer.”

Focada apenas no treinamento de corretores, a Escola Nacional de Seguros lançou, em 2006, o curso superior de administração com linha de formação em seguros e previdência, o primeiro do país com essas características. Em 2008, criou o MBA Executivo em seguros e resseguros, hoje presente no Rio de Janeiro, em São Paulo e Goiânia, e fez parcerias com instituições internacionais.

Em 2010, segundo a Confederação das Seguradoras, o setor investiu mais de 2 bilhões de reais em capacitação dos funcionários. Dos 29 940 empregados que trabalham em seguradoras, 11% são pós-graduados e 43% do total estão na faixa dos 26 aos 35 anos. A percepção é de que a globalização de seguros, com a entrada de grupos estrangeiros, o investimento em programas de liderança e a divulgação massiva do setor, contribuiu para atrair não só mais jovens, como jovens com mais talento.

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São Paulo - No primeiro semestre deste ano, Icatu, Zurich , ACE e Metlife , quatro das principais seguradoras no país, ficaram acéfalas. Maria Silvia, primeira mulher na presidência de uma seguradora, deixou a Icatu Seguros em março para assumir em agosto a Autoridade Olímpica Municipal, estatal recém-criada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Pedro Purm, que comandou a Zurich Brasil por 17 anos, trocou o posto em abril para iniciar a operação da Argo Group International Holdings, subscritora internacional de produtos de seguros especiais e resseguros.

Marcos Couto, que presidiu a ACE por cinco anos, também foi seduzido por um projeto desafiador, proposto pelos acionistas da holding Tempo Assist, um dos maiores grupos de saúde a assistências 24 horas do Brasil, com faturamento estimado em 1,1 bilhão de reais para este ano.  Já José Roberto Marmo Loureiro, que comandou a Metlife por dez anos, deixou em outubro de 2010 o grupo americano para ser o COO da Laureate International Education, em janeiro deste ano.

O movimento de troca-troca visto no topo tem descido para outros níveis nas seguradoras. O motivo é um velho conhecido de outros setores da economia: faltam profissionais disponíveis. Apesar de se falar há anos que o Brasil seria uma das maiores economias do mundo, pouco se fez para preparar profissionais num dos setores mais beneficiados pela expansão da economia — o mercado financeiro.

O resultado de tal inércia é um apagão de talentos num momento em que a demanda pelo crédito e por seguros é gigantesca, com a expansão das vendas muito acima do previsto. Para ter uma ideia, a participação de crédito no produto interno bruto (PIB) passou de 41% para 46% em 2010, e a de seguros de 3,1% para 5%, segundo dados da Confederação das Seguradoras (CNSeg).

Para Ricardo Barcelos, sócio da Havik, consultoria de recrutamento com foco em bancos, seguradoras e serviços financeiros, a falta de recursos humanos é generalizada no Brasil, mas no mercado financeiro a situação está crítica, especialmente no mercado de seguros. Isso porque, simplesmente, o Brasil está crescendo.

O cenário, segundo diversas fontes de pesquisas, é de que o país deve manter nos próximos anos um crescimento do PIB na casa dos 4%, o que significa projetar a geração de mais de 2 milhões de novas vagas ao ano. Aliado a isso (oupor causa disso), um enorme contingente de pessoas acredita que chegou o momento de arriscar e partir para o negócio próprio. Somam-se a esse aquecimento, dois grandes projetos que demandam profissionais financeiros para organizar os orçamentos, os financiamentos e os seguros necessários para garantir eficiência mesmo diante de imprevistos: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.


Por tudo isso, a movimentação na indústria de seguros brasileira, que conviveu com a monotonia do monopólio por quase 70 anos, nunca foi tão intensa. A abertura do resseguro trouxe ao Brasil mais de 90 resseguradoras, que “roubaram” profissionais das seguradoras. Elas, por sua vez, estão suando para preencher suas vagas. Max Thiermann, CEO da Allianz Brasil, subsidiária local da maior seguradora do mundo, preocupado com o apagão saiu a campo para ajudar a equipe de RH. “Estamos precisando de um diretor comercial. Quem souber de alguém, por favor, pode me contatar”, apelou Thiermann durante um coquetel com clientes e corretores realizado em junho na inauguração da Casa Cor.

Em alguns casos, executivos estão acumulando funções, enquanto as pessoas certas não chegam, como Kati de Almeida Braga, acionista e presidente do conselho da Icatu, que também assumiu a presidência executiva assim que Maria Silvia deixou o posto, em março.

Por outro lado, executivos com anos de casa estão assumindo novos desafios, como Antonio Cássio dos Santos, que presidiu a Mapfre por 11 anos e deixou o grupo após ter consolidado o processo de integração com o Banco do Brasil. “Colocar a Zurich entre as cinco maiores é um bom desafio”, diz o executivo, que desde maio assumiu o comando das operações de seguros gerais do grupo suíço na América Latina. Seu antecessor, Pedro Purm, que comandou a Zurich por 17 anos, assumiu um desafio ainda maior: abrir a operação da Argo Group International Holdings, um grupo jovem sediado nas Bermudas.

A saída tradicional para driblar o assédio da concorrência é equilibrar o pacote de benefícios e remuneração fixa e variável dentro da oferta e demanda do mercado. Na Aon Hewitt, o CEO José Felipe Vieira orgulha-se de não ter perdido nenhum de seus 35 diretores nos últimos dois anos. “Temos um programa de bônus imbatível, capaz de realizar o sonho de trocar de residência ou comprar uma casa de veraneio”, diz.

Só que o rouba-monte, com elevação de salários e benefícios, esgotou-se rapidamente e a necessidade de atrair profissionais com projetos e investir em treinamento se tornou urgente. A Liberty Seguros apostou em ser a seguradora oficial da Copa de 2014 para tornar a marca mais conhecida e também reter e atrair talentos.

“Os profissionais não querem mais só um bom salário e um pacote de benefícios atraente. Eles desejam um projeto que emocione e traga resultado para a carreira e para a sociedade. Isso foi um dos fatores que pesou na decisão de investirmos no patrocínio da Copa”, afirma Luis Maurette, presidente da seguradora.


Além de projetos que signifiquem uma causa, ter experiência no exterior e contar com líder que priorize uma gestão transparente e se preocupe com a sustentabilidade têm sido os principais atrativos de talentos. “Essa nova safra de jovens quer um líder para seguir o exemplo, que seja ético e respeite o tripé indivíduo, sociedade e meio ambiente”, diz Marcelo Munerato, vice-presidente da Aon Hewitt.

Um exemplo de busca desses valores pode ser visto no Itaú-Unibanco, um dos dez maiores bancos do mundo, que divulgou lucro líquido de 13,3 bilhões de reais em 2010, o maior da história dos bancos no país.

Ao ter sido eleito o banco mais sustentável do mundo pelo prêmio 2011 FT/IFC Sustainable Finance Awards, concedido pelo jornal britânico Financial Times e pelo International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial, em junho deste ano, o Itaú conseguiu atrair 40 000 jovens interessados em uma das 100 vagas de seu programa de trainee. “Ter políticas sustentáveis é um aliado e tanto dentro do nosso desafio”, diz Marcelo Luís Orti Celli, diretor de cultura e gente do Itaú-Unibanco.

Para suprir o aquecimento do mercado, o que se vê é uma corrida das empresas para fazer parcerias e subsidiar cursos como MBA e pós-graduação, no Brasil e no exterior, a fim de formar profissionais no setor. Seguradoras como Bradesco e SulAmérica criaram universidades para treinar profissionais em diversas áreas. O mesmo aconteceu com os bancos.

A Federação Brasileirade Bancos ( Febraban ) tem uma grade extensa de cursos dedicados aos profissionais do setor. No Itaú-Unibanco, por exemplo, a equipe de recursos humanos desenvolveu cursos para treinar funcionários em especialidades antes mesmo de começar a faltar profissionais. “Acompanhamos os nichos de negócios nos quais o banco aposta suas fichas e começamos a traçar um plano de treinamento focado”, conta Celli. A instituição também passou a recrutar estagiários fora do eixo São Paulo-Rio. “Há ótimas faculdades no interior e em outros estados, com pessoas com muita garra para crescer.”

Focada apenas no treinamento de corretores, a Escola Nacional de Seguros lançou, em 2006, o curso superior de administração com linha de formação em seguros e previdência, o primeiro do país com essas características. Em 2008, criou o MBA Executivo em seguros e resseguros, hoje presente no Rio de Janeiro, em São Paulo e Goiânia, e fez parcerias com instituições internacionais.

Em 2010, segundo a Confederação das Seguradoras, o setor investiu mais de 2 bilhões de reais em capacitação dos funcionários. Dos 29 940 empregados que trabalham em seguradoras, 11% são pós-graduados e 43% do total estão na faixa dos 26 aos 35 anos. A percepção é de que a globalização de seguros, com a entrada de grupos estrangeiros, o investimento em programas de liderança e a divulgação massiva do setor, contribuiu para atrair não só mais jovens, como jovens com mais talento.

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