Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.
Luiz Eduardo, vice-presidente de uma empresa do Rio de Janeiro (que pediu para ter seu nome trocado), está diante de uma chance de vingança. Ele pediu demissão de seu último posto, há cerca de dois anos, porque se considerou traído. Na empresa em que trabalhava, havia surgido uma vaga para vice-presidente. Luiz tinha todas as qualificações e se preparava havia alguns meses para assumir o posto. Mas, na hora H, a promoção foi dada a outro diretor, que tinha ligações pessoais mais próximas com um dos principais acionistas da empresa. "Não pude suportar o favorecimento e fui à luta. Rapidamente consegui uma colocação em outra empresa de outro ramo, como vice-presidente", diz ele.
Mas o que aconteceu nesses anos fez a situação mudar. Luiz era um diretor fundamental para a antiga empresa e sua saída acabou gerando impactos negativos. As coisas começaram a piorar e agora ele está sendo chamado de volta -- para o cargo de presidente da empresa. Ele está em dúvida. "Volto para o antigo ninho por cima, dando as cartas, ou permaneço onde estou, com chances de em algum tempo ocupar a presidência? Voltar seria uma vingança e tanto contra aqueles que não quiseram me dar a promoção no passado..."
Diz o ditado que a vingança é um prato que se come frio. Na vida profissional, é melhor ainda mudar o cardápio e não provar desse prato. As razões para voltar ou não à antiga empresa não devem incluir o desejo de desforra. Luiz deveria se concentrar objetivamente nos ganhos e nos horizontes que a nova proposta envolve.
O que seria da vida profissional dele num retorno ao antigo ninho? Antes de mais nada, é preciso considerar que ele voltaria a uma empresa que está em crise. Em vez de dar continuidade a um trabalho vitorioso, pegaria agora uma companhia que precisa dar a volta por cima. Luiz entraria com um grau de responsabilidade e expectativa em alta voltagem. Seria presidente, é verdade, mas numa posição de risco: sempre haveria alguém para dizer que "tê-lo chamado de volta talvez tenha sido um erro", caso os resultados não começassem a aparecer rapidamente.
Por outro lado, na atual empresa, ele está em rota ascendente. Pode atingir o posto de presidente como conseqüência de sua trajetória de êxitos. É uma perspectiva de crescimento. Ele próprio avalia que ainda tem muita coisa a aprender e a fazer na empresa em que está.
Ver as coisas dessa forma evita também a tentação de recusar por vingança. Seria também, afinal, um jeito de se vingar: "Se eles não me quiseram antes, agora quem não quer sou eu". Ora, se a antiga empresa não estivesse em crise, se a proposta representasse uma ampliação de horizontes em relação ao momento profissional que ele vive hoje, o retorno poderia ser positivo.
A perspectiva mais produtiva, nesse caso, é avaliar os prós e os contras, pesar o presente e as perspectivas de futuro, e deixar o passado em seu lugar -- como algo que precisa ser digerido, assimilado como experiência e exorcizado, para que não fique como um fantasma a assombrar as decisões profissionais.
Isso vale para qualquer fase de nossa trajetória profissional. Agir em função do passado -- seja como "Aqui eu não piso mais" ou "Um dia eu volto por cima" -- significará apenas carregar um peso inútil, que não ajudará em nada a tomar as melhores decisões e construir, realmente, uma carreira vitoriosa.