Alison Fragale, da Universidade da Carolina do Norte: em seu mais recente estudo, ela investiga as relações entre poder e respeito (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2013 às 18h45.
Chapel Hill - Todos os anos, Alison Fragale, pesquisadora na área de comportamento organizacional e professora da Kenan-Flager, escola de negócios da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, recebe uma média de 800 alunos que participam de treinamentos na instituição.
Um assunto recorrente é a discussão sobre a melhor forma de ser promovido. O conselho de Alison é sempre o mesmo: esqueça a promoção. "Em vez de se preocupar em crescer rápido, as pessoas deveriam cuidar de trabalhar da melhor maneira possível", diz Alison.
Em seu mais recente estudo, ela investiga as relações entre poder e respeito, e conclui que as pessoas que ascendem a cargos importantes sem cultivar um nome entre os colegas tendem a ser malvistas no trabalho. E não basta ser bom político. A melhor solução para esse dilema, diz Alison, é desenvolver conhecimento, o que levará a uma liderança natural e mais referendada pelo grupo.
Sua pesquisa diferencia poder e status. O que isso significa?
Alison Fragale - Quando o assunto é status, estamos falando sobre como as pessoas veem, valorizam e respeitam as outras. As pessoas conferem algum tipo de status às outras de maneira informal e invisível. Em última instância, os outros decidem o quanto você é valorizado ou respeitado. O poder tem outra lógica. Ele é concedido também, no sentido de que as empresas promovem funcionários e dão a eles controle sobre recursos ou pessoas. Mas o poder pode ser tirado, o status não. Em minha pesquisa, uma conclusão resumida definiria como poder a habilidade de controlar recursos e, como status, o fato de um indivíduo ser altamente considerado entre um grupo de pessoas. isso é importante porque, numa empresa, as pessoas podem recorrer tanto a um quanto a outro para liderar, mas obterão resultados diferentes.
Na verdade, nenhum dos dois pode ser controlado totalmente?
Fragale - Sim. Em psicologia tratamos o desejo de ter poder e status como elementos fundamentais, coisas que todo mundo quer. todo mundo quer ter amigos, por exemplo. Gostamos de ter controle sobre nossa vida. Se você não tem absolutamente nenhum status ou poder, pode se angustiar. Especialmente no início da carreira, que é uma fase intensa de conquista e ao mesmo tempo de carência. Mas, se o plano é crescer na carreira, é preciso descobrir de que depende a ascensão. Ao fazer isso, chega-se à conclusão de que o crescimento depende diretamente do que as pessoas pensam a seu respeito. Elas lhe valorizam ou admiram? A expectativa é de que, conforme você seja promovido, consiga mais respeito e mais controle. Ou seja, desenvolver status é, digamos, mais sustentável do que desenvolver poder.
O poder não pode ser controlado. E o status, pode?
Fragale - É difícil dominar tanto um quanto outro, mas ao menos algumas dimensões do status podem ser controladas. Ambos são determinados pelo grupo no qual se está inserido. Se você troca de empresa, o poder ou o status mudam. Conforme um executivo transita em sua carreira, pode ter mais ou menos status ou poder. Podemos ser um peixe grande num aquário pequeno, ou um peixe pequeno num aquário grande. O status pode ser gerenciado minimamente, já que a pessoa carrega consigo seu prestígio.
Como os executivos em início de carreira podem adquirir status?
Fragale - A primeira sugestão é mudar o pensamento padrão. O raciocínio de carreira geralmente é: "Se ao menos eu pudesse ser promovido, teria mais status". Até pode acontecer, mas a promoção não garante status. O conselho é não focar simplesmente em conseguir a promoção. Na universidade, leciono para diversos executivos que mal começaram a carreira e já pensam em como ser promovidos desde o primeiro dia de trabalho o importante é focar em como fazer para desenvolver relações fortes com os colegas de trabalho, independentemente de quem tem poder e quem não tem. assim, quando o poder chegar, têm-se os dois.
E como administrar o status?
Fragale - Muitas coisas desenvolvem o status, mas sobre algumas não temos qualquer controle. Por exemplo, as características demográficas. Homens têm mais status que mulheres, brancos têm mais status que negros, pessoas mais velhas têm mais status que jovens. Não estou dizendo que está certo, pelo contrário, mas socialmente essas coisas são mais difíceis de mudar. Mas há coisas passíveis de melhoramento, como a maneira como você se veste, a linguagem e o vocabulário que utiliza e a maneira de demonstrar que detém conhecimento sobre determinado assunto. O que mais está ao alcance dos profissionais é ser bom no que faz. Se você faz algo que os outros não conseguem, passa a ser reconhecido por isso e a ter mais valor.
Existe mesmo alguém que seja insubstituível?
Fragale - Sim e não. Não existe uma pessoa que traria o fim de uma empresa ao deixá-la. Se existem chefes com muito poder e pouco status, também existem aqueles com muito dos dois. E se eles saem a empresa fica em apuros. você pode substituí-los, mas, no fundo, eles são necessários. É assim que você quer que as pessoas se sintam a seu respeito. Se você focar nisso todos os dias, terá certo controle do status. Não é possível gerenciar uma provável promoção ou um aumento de salário. Pode-se, sim, influenciar para que essas coisas aconteçam. Mas você tem total controle sobre a qualidade de seu trabalho.