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Quer se comunicar com clareza? Então, não faça como o técnico Tite

Diogo Arrais, professor de Português, analisa um trecho de entrevista concedida pelo técnico Tite, da Seleção Brasileira

Tite, técnico da Seleção Brasileira (Sergio Moraes/Reuters)

Tite, técnico da Seleção Brasileira (Sergio Moraes/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2018 às 15h10.

Última atualização em 15 de maio de 2018 às 15h29.

Analisemos um trecho da entrevista do técnico Tite aos jornalistas Renata Vasconcellos e William Bonner:

Renata: A CBF vive um momento conturbado politicamente. Os três últimos presidentes são investigados por corrupção. José Maria Marin está preso nos Estados Unidos. O último presidente Marco Polo del Nero foi banido do Futebol pela Fifa. De que forma essas questões interferem no futebol da Seleção?

Técnico Tite: O grande marco e a grande relação de união que o Esporte dá, que o Futebol se dá é com a educação. Ela estabelece princípios que são importantes: ele é da qualidade, ele é não do jeitinho, mas do ser mais competente e ser melhor no enfrentamento, de vencer e ser leal, uma série de outros atributos que eles estão mais ligados à educação.

A parte política, eu não sou nenhum ingênuo, eu sei que ela acontece, mas eu quero deixar ela à margem, eu quero deixar ela com foco naquilo que a gente pode fazer de melhor.

Essa resposta possui o espírito da prolixidade, principalmente no primeiro parágrafo. Prolixo é o discurso (falado ou escrito) demasiadamente longo; que faz uso de palavras em excesso ao falar ou escrever; é aquilo muito demorado em explicações simples; que se torna cansativo aos ouvintes ou leitores.

Além de ser prolixa, a resposta do técnico Tite apoia-se linguisticamente no anacoluto. Esse recurso consiste na mudança de construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível. Vejamos:

"A parte política, eu não sou nenhum ingênuo, eu sei que ela acontece."

Na ordem natural de nossa Língua (sujeito-verbo-complemento), a sentença seria:

"Eu sei que acontece a parte política; eu não sou nenhum ingênuo."

No entanto, não pensemos que é um "erro" o anacoluto. É um recurso da língua; pode ser desagradável quando prejudicar a compreensão. Sendo excessiva, qualquer ferramenta linguística causará danos à fala, ao texto, à comunicação.

Explica o estudioso linguista Maurice Dessaintes sobre tal anacoluto:

"Depois de uma pausa, aquele que fala ou escreve abstrai-se do começo do enunciado e continua a exprimir-se como se iniciasse uma nova frase. "

Ademais, exagero e confusão veem-se quando o atual técnico da Seleção usa os pronomes pessoais do caso reto: ela, ele, eu, eu, ela.

Não são recentes os comentários sobre a peculiaridade da retórica de Tite. Cunharam até a expressão "titebilidade" - em referência ao seu jeito típico de usar o vocabulário.

Para se ter clareza na comunicação, é preciso treinar e estar atento às quatro linhas gramaticais. Afinal de contas, se derrubar o vocábulo na área, pênalti será.

Um grande abraço, até a próxima e inscreva-se no meu canal!

Diogo Arrais
@diogoarrais
YouTube: MesmaLíngua
Professor de Língua Portuguesa
Autor Gramatical pela Editora Saraiva

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