Universidades tradicionais do Reino Unido é um dos motivos que está atraindo brasileiros (Travelpix Ltd/Getty Images)
Repórter
Publicado em 23 de maio de 2024 às 07h30.
O Reino Unido é o segundo país mais buscados por brasileiros para estudar e/ou trabalhar, segundo levantamento realizado pela Belta (Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio) que ouviu mais de 600 empresas brasileiras de viagem e intercâmbio e quase mil estudantes foram entrevistados.
Após muitos anos em terceiro lugar, o país britânico ganhou o segundo lugar que até então era dos Estados Unidos, ficando atrás apenas do Canadá que lidera o ranking desde 2017. O motivo da mudança, segundo Alexandre Argenta, CEO da Belta, pode estar relacionado à dificuldade de emissão do visto para entrada no país norte-americano.
“Acreditamos que essa mudança pode ter sido gerada por causa do visto consular. No Reino Unido, por exemplo, não precisa de visto para programas de curta duração, já os EUA exigem taxas e processo de visto burocrático para qualquer tipo de viagem”
A procura pelo país britânico segue em evidência, segundo Christina Bicalho, vice-presidente do STB. “Vimos um crescimento de brasileiros buscando cursos no Reino Unido de 30% em relação ao primeiro quadrimestre deste ano com o do ano passado”.
Para a executiva, os programas que mostram esse número expressivo não estão relacionados com o trabalho, mas sim com os estudos. Entre os mais buscados, Bicalho cita:
“Vale reforçar que desta lista de cursos apenas cursos superiores, realizados em universidades, dão permissão de trabalho no Reino Unido”, afirma Bicalho que reforça que quem busca trabalhar e estudar um idioma vale avaliar outros destinos como Canadá, Austrália, Irlanda, Emirados Árabes, Espanha, Nova Zelândia e Malta.
Além da procura por estudo, Bicalho afirma que o Reino Unido está sendo mais buscado do que os EUA pelos seguintes motivos:
“O Reino Unido é muito bom em termos de promoção do país. Promoveram muito bem o inglês britânico, valorizam a parte turística com muitos museus e musicais, além de oferecerem uma mobilidade entre os países, mesmo após o Brexit”, diz Bicalho.
Outra estratégia de mercado também ajudou o Reino Unido a atrais mais brasileiros: os cursos profissionalizantes curtos.
“Como uma adaptação pós-pandemia, as escolas britânicas perceberam que poderiam oferecer certificados mais curtos de 2 a 3 semanas e com isso se destacaram no mercado de intercâmbio”, diz a executiva da STB que acaba de fechar uma parceria com a London School of Economics and Political Science (LSE) para cursos de executivos para 5 dias.
A alta procura de estudantes internacionais, que era para ser um motivo de alegria para o governo britânico, se tornou motivo de preocupação. Com o aumento de imigrantes e emigrantes no país, o governo do Reino Unido anunciou neste ano algumas restrições para estudantes que chegam de outros países.
Para Barry Wolfe, advogado britânico de imigração residente no Brasil há mais de 30 anos, o fato do Reino Unido ter subido no ranking da Belta tem mais relação com as restrições dos EUA do que com as oportunidades de ingresso no país britânico.
“As regras estão mais rígidas, especialmente para estudantes de inglês e vistos de trabalho”, diz. “No caso de vistos de família e trabalho o governo exigirá comprovação financeira robusta e qualificações específicas”, afirma o advogado.
Para vistos de família, por exemplo, a renda mínima aumentou para 29.000 libras, podendo chegar a 38.700 libras.
“Com a mudança das leis neste ano, estudantes de doutorado podem trazer dependentes, enquanto estudantes de graduação e mestrado não podem mais”, diz o advogado que reforça que estudantes de ensino superior como graduação, mestrado e doutorado também podem trabalhar até 20 horas por semana e em tempo integral durante as férias.
Para brasileiros que buscam apenas estudar inglês no país, o advogado afirma que existe um limite de tempo e que essa atividade não permite trabalho no país e muito menos imigração.
“Brasileiros podem estudar inglês sem visto por até seis meses, mas sem direito a trabalho. Após esse período, tem o visto de estudo de até 11 meses, que exige um visto especial, mas que não dá direito a trabalho e exige comprovação financeira.”
Para quem se forma em uma universidade britânica, seja ela graduação, mestrado ou doutorado, o governo libera dois anos para a pessoa trabalhar no país.
Outra opção que permite com que o brasileiro possa viver por mais tempo no país é casando-se com um britânico (a) e assim adquirir o visto de família.
“Para cônjuges, parceiros civis ou parceiros que vivem juntos há pelo menos dois anos, é possível solicitar o visto de cônjuge ou parceiro. O patrocinador deve ser um cidadão britânico ou ter residência permanente no Reino Unido”, afirma o advogado.
Após cinco anos com visto de trabalho ou família, pode-se solicitar a permanência e posteriormente a cidadania britânica.
Seja para estudar ou imigrar, Wolfe afirma que é importante o brasileiro ter documentos em ordem, respeitar os prazos e leis do país e ter um bom planejamento financeiro para evitar recusas de visto.
“O brasileiro é visto com bons olhos no mercado de trabalho britânico. Costumam ser engajados com as oportunidades que oferecem, mas o perfil do brasileiro que o governo britânico quer atrair hoje é aquele que vai estudar e que tenham condições financeiras de se manter e crescer profissionalmente no país”, afirma o advogado britânico.