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Quer deixar o país? 6 pontos de uma expatriação de sucesso

João Marques, presidente-fundador da EMDOC, fala sobre os principais cuidados para que expatriação dê certo

Mala de viagem: é fundamental se informar sobre trâmites para liberação de mudança (FABIO MANGABEIRA)

Camila Pati

Publicado em 17 de abril de 2015 às 15h30.

São Paulo – O mau humor que tomou conta do mercado brasileiro tem gerado maior interesse em oportunidades de carreira fora do país. Palestras sobre imigração para o Canadá, por exemplo, têm apresentado recorde de público nos últimos meses.

Com habilidades valorizadas no mercado mundial, o Brasil é um dos celeiros de executivos para multinacionais. Em 2014, apenas a consultoria EMDOC foi responsável pela transferência de mais de 200 brasileiros por mês para o exterior.

Se o movimento de saída do país tem sido intenso, por outro lado, estrangeiros também têm encontrado as portas abertas no Brasil. Entre 2011 e 2013, o número de estrangeiros no mercado formal saltou mais 50%. Apenas no ano passado foram mais 51 mil autorizações de trabalho, segundo balanço do Ministério do Trabalho.

E tanto para quem planeja deixar o Brasil, como para quem está vindo trabalhar aqui, alguns cuidados são essenciais para que a expatriação dê certo, segundo João Marques, presidente-fundador da EMDOC. Confira os principais:

1. Pré-visita

“Empresas organizadas, quando convidam estrangeiros para trabalhar, permitem que o profissional faça uma pré-visita à cidade”, diz Marques. Segundo ele, esta estada de reconhecimento é importante para “quebrar” um pouco do efeito do choque cultural que mudança pode causar.

“Empresas desorganizadas geralmente pulam esta etapa que é tão importante para o profissional se familiarizar com o local”, diz o presidente da EMDOC.

2. Visto

A EMDOC não recomenda que profissionais comprem passagens ou fechem contratos de moradia antes de conseguirem o visto de trabalho. São comuns casos de executivos que começam a trabalhar ainda com visto de turismo - enquanto o processo de visto de trabalho está em tramitação. Isso não é permitido e, se houver fiscalização, o profissional pode ser deportado e a empresa e seus representantes legais punidos.

Para estrangeiros que vão começar a trabalhar no Brasil, marques explica que a lei não permite que o visto de trabalho seja retirado aqui. “Um americano que venha de Nova York para trabalhar em São Paulo recebe o visto no consulado de Nova York, entra no Brasil quando já tem o visto e aí vem a etapa no Brasil, quando retira o RNE, CPF, carteira de habilitação”, diz.

3. Estudo das diferenças culturais

“As diferenças culturais precisam ser levadas em conta”, diz Marques. E elas podem ser enormes. Por isso, investigar a cultura é uma das dicas mais importantes, segundo Marques.

“Uma vez fui receber um francês que havia trabalhado na Tailândia e estava de mudança para o Brasil. Ele me disse que por estar vindo de um país tão diferente como a Tailândia, tinha certeza de que se adaptaria facilmente no Brasil”, diz Marques. Este executivo, conta, não ficou mais do que oito meses por aqui porque não se adaptou.

4. Mudança

Com o visto em mãos e a transferência regularizada, o próximo passo é pensar nas principais providências: a mudança, o curso de idiomas, inclusive para os familiares, além do cancelamento das contas de consumo e contas bancárias.

Nesta etapa é fundamental se informar sobre trâmites para liberação de mudança, caso o profissional deseje levar móveis para a sua nova residência. “No Brasil, a Polícia Federal libera apenas com a apresentação do visto”, diz Marques.

5. Adaptação

Mais crítica do que toda a burocracia da expatriação é a questão familiar, segundo o especialista. É preciso levar em conta o potencial de adaptação de filhos, mulher, marido.

“Problemas de ordem familiar afetam a capacidade dos profissionais de se incorporarem definitivamente ao negócio”, diz Marques. Se a família está infeliz, a produtividade é afetada e pode comprometer o sucesso da movimentação.

6. Preparação da equipe

A aceitação e o empenho da nova equipe em receber o expatriado vão facilitar o trabalho do expatriado. “As empresas organizadas fazem essa preparação, informando para a equipe os ganhos da contratação do estrangeiro”, diz Marques.

Importante para o expatriado é transmitir aos seus subordinados os conhecimentos que ele vai trazer para a empresa. A aproximação com colegas de trabalho deve ser uma das primeiras atitudes do expatriado no seu novo local de trabalho.

São Paulo - Esqueça a ladainha sobre caipirinha, futebol e carnaval. Estrangeiros que atuam em empresas brasileiras têm percepções aguçadas e sensíveis sobre o nosso jeito de ser - e, claro, trabalhar. Ouvimos 13 profissionais que saíram de países como Itália, Rússia, Espanha e Irlanda para fazer carreira em terras brasileiras. Das intermináveis reuniões ao hábito de escovar os dentes no escritório, quase nada escapa ao olhar dos gringos. Clique nas fotos para conhecer suas histórias e observações.
  • 2. A sagrada hora do almoço

    2 /12(Thinkstock/tiverylucky)

  • Veja também

    Nascida em Moscou, Alla Ryabova trabalha em São Paulo como analista de mídias digitais na agência New Vegas. "É interessante ver como a hora de almoço é sagrada no Brasil. As pessoas já chegam e começam a pensar onde vão comer, conversam, saboreiam o assunto”, diz a russa. Proveniente de uma cultura mais “fria”, Alla relata ter tido dificuldades para se adaptar, sobretudo no começo da sua experiência. “Antes era difícil seguir todas as normas de etiqueta brasileira em e-mails, por exemplo”, diz a russa, que com o tempo aprendeu a ser mais "política" em sua comunicação com os nativos.
  • 3. Ajuda com o português

    3 /12(Thinkstock/Creatas)

  • De origem indiana, a britânica Natasha Patel sempre trabalhou na Inglaterra. Em 2006, desembarcou em São Paulo. Ela se diz surpresa com a paciência do brasileiro com o estrangeiro que está aprendendo português. “As pessoas são gentis e se esforçam para compreender você, ensinar o idioma”, diz a inglesa, que trabalha como diretora da Hays. De forma geral, as diferenças culturais não foram um motivo de desgaste para Natasha. “É claro que algumas adaptações são necessárias, mas não enxergo isso de forma negativa”, afirma. “O próprio brasileiro também é muito flexível a outras culturas e formas de trabalhar”.
  • 4. Como foi o seu fim de semana?

    4 /12(Thinkstock/Jacob Wackerhausen)

    Nascida em Milão, na Itália, Vanessa Milnitzky trabalha na área de responsabilidade social da Samsung, em São Paulo. Ela relata que, no início, estranhava passar a segunda-feira respondendo a perguntas sobre seu fim de semana. “Demorei um pouco para entender que é um modo de expressar carinho, demonstrar que você se importa”, diz ela. “Ser colega no Brasil é muito mais que ser funcionário da mesma empresa”. Vanessa pondera que o jeito afetivo do brasileiro nem sempre é o mais eficiente para conduzir um projeto, reunião ou ligação profissional. "Mesmo assim, é muito mais rico do ponto de vista humano”, afirma. “Hoje, se não tivesse mais isso, eu sentiria muita falta”.
  • 5. Fio dental no escritório

    5 /12(Thinkstock/Ryan McVay)

    A parisiense Emilie Pezet trabalha como analista de risco econômico no Banco Cetelem, do BNP Paribas. Residente na capital paulistana desde 2013, ela nota que o brasileiro não hesita em misturar vida pessoal e profissional. “Não há problema em discutir a sua vida de casal em pleno escritório”, diz a francesa. Emilie também se espanta com o hábito brasileiro de escovar os dentes no escritório depois do almoço. “Na França, as pessoas que escovam os dentes no trabalho são raras. É uma questão de pudor, porque há pasta de dente para todos os lados, temos que cuspir, enxaguar a boca...”, diz ela. “Já os brasileiros passam até o fio dental, entre cada um dos dentes, na frente dos colegas!”.
  • 6. Ouvidos apurados

    6 /12(Thinkstock/Brian Jackson)

    David Curran veio de Dublin, na Irlanda, para presidir o site Love Mondays. No Brasil desde 2013, ele também teve experiências profissionais em diversos países do Oriente Médio, como Arábia Saudita e Kuwait. Ele diz que brasileiros e árabes têm muito em comum no ambiente profissional. “São dois povos que valorizam muito o relacionamento no trabalho, ao contrário dos anglo-saxões”, comenta David. Ele também diz que o brasileiro tem uma “grande expectativa” de virar amigo de seus colegas, e que se comunica de forma menos direta do que os irlandeses. “Você precisa ouvir com muita atenção, porque as pessoas fazem rodeios para falar certas coisas”, afirma.
  • 7. As muitas traduções de “amanhã”

    7 /12(Divulgação)

    Stefan Rehm saiu da pequena cidade de Villingen-Schwenningen, na Alemanha, para trabalhar em São Paulo em 2012. Co-fundador da plataforma Intelipost, ele adora as roupas informais e o hábito do cafezinho antes das reuniões no Brasil. Mas o alemão também tem suas críticas. “É muito difícil ouvir um ‘não’ no Brasil. Os gringos precisam interpretar outros sinais para entender que algo não vai funcionar”, afirma. Stefan também se impressiona com o emprego complexo da palavra “amanhã”. “Na Alemanha, se alguém diz que vai mandar um email amanhã, realmente vai mandar amanhã. No Brasil, são raras as vezes em que essa palavra realmente significa o dia seguinte. Pode significar ‘nunca’, ‘talvez’, ‘não quero’, ‘no ano que vem’, ‘vamos mudar de assunto’...”, diz ele.
  • 8. Papelada e burocracia

    8 /12(Thinkstock/Nomadsoul1)

    O engenheiro australiano Matt Barrie, CEO do site freelancer.com, nunca teve um trabalho fixo no Brasil, mas teve contato frequente com os brasileiros em São Paulo, cidade onde tem reuniões frequentes e até ministrou palestras. Ele define o ambiente de trabalho no país como sensacional. “Os brasileiros são muito versáteis e facilmente adaptáveis para trabalhar em outros lugares e com outras culturas”, diz o australiano. Por outro lado, ele lamenta nossa burocracia. “A papelada para incorporar uma empresa ou para fazer câmbio monetário é algo que poderia ser mudado facilmente, atraindo mais investimentos estrangeiros”.
  • 9. Machismo no trabalho

    9 /12(Getty Images)

    O espanhol Javier Gómez, gerente de afiliados na zanox, está há dois anos em São Paulo e se diz fã da proverbial receptividade do brasileiro. “Nunca tive problemas para me integrar nem na minha vida profissional, nem pessoal”, diz ele. Entre suas críticas, está a desigualdade entre gêneros no ambiente profissional. “Na empresa onde trabalho não existe isso, mas acho que o país em geral ainda precisa melhorar muito nesse ponto”, comenta o espanhol. "E não falo apenas da questão salarial".
  • 10. Longas reuniões

    10 /12(Flickr/Creative Commons/aussigall)

    Natural de Nümberg, na Alemanha, Eric Schall mora atualmente em São Paulo, onde trabalha como assistente administrativo da Audi do Brasil. Em seus oito meses aqui, ele notou que os paulistanos têm uma grande tendência ao atraso. “É culpa do trânsito da cidade”, diz o alemão. Ele também se diz surpreso com a quantidade e a duração das reuniões no Brasil. “As discussões costumam demorar mais. Hoje, por exemplo, estou em reuniões desde as 8 da manhã”, afirma. Por outro lado, Eric elogia a capacidade de improvisação e a abertura à mudança do brasileiro. “Na Alemanha, se você propõe uma mudança num processo tradicional, você encontra bem menos flexibilidade”, diz ele.
  • 11. Clima de time de futebol

    11 /12(Scott Heavey/Getty Images)

    O norte-americano Derek Hall, fundador do portal Torcedores.com, já morou em Santa Catarina e em São Paulo, e acredita que os brasileiros são ótimos em separar trabalho e lazer. “Aqui eu posso trabalhar 10 horas seguidas com os meus sócios e funcionários, e depois do expediente nós saímos e nos divertimos, sem falar necessariamente sobre o trabalho”, afirma Derek. “Isso fortalece os relacionamentos e cria um laço parecido com o de um time de futebol”.
  • 12. Agora veja quantos dias de descanso profissionais têm pelo mundo

    12 /12(Getty Images)

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