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Professor de português analisa frase sobre condenação de Rogério Flausino

Professor Diogo Arrais analisa a seguinte manchete: "Rogério Flausino é condenado a pagar indenização por ofensas a dupla sertaneja"

Rogério Flausino em vídeo de campanha da Volkswagen (foto/Reprodução)

Camila Pati

Publicado em 24 de julho de 2018 às 15h10.

Última atualização em 24 de julho de 2018 às 15h12.

Hoje, uma das principais manchetes é:

"Rogério Flausino é condenado a pagar indenização por ofensas a dupla sertaneja"

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PAGAR, à visão tradicional, é verbo que só aceita objeto indireto de pessoa. Em termos muitos simples, "pagar algo a alguém":

"Pagamos o valor àquela dupla sertaneja."
"Pagamos a dívida aos músicos."
"Pagarei o aluguel ao proprietário."

Celso Luft expõe:

"Pagar deriva de paz: apazígua-se ou pacifica-se o credor pagando-lhe."

Apesar de largo uso na fala e até na Literatura a construção "Pagar o médico", é adequada - em processos seletivos - a regência tradicional:

"Pagar ao médico."
"Pagar ao servidor federal."
"Pagar-lhes."
(lembre-se de que aí acima o oblíquo lhe tem a função de objeto indireto)

Há um outro trecho da manchete, sobre Flausino, com um desafio gramatical: por que em "ofensas a dupla sertaneja" não houve o uso do acento grave?

Simples: usemos o tira-teima da substituição por palavra masculina; no lugar de "dupla sertaneja", "conjunto sertanejo":

"... é condenado a pagar indenização por ofensas a dupla sertaneja."
"... é condenado a pagar indenização por ofensas a conjunto sertanejo."

Note como foi verificada a ausência de determinação (artigo definido ou pronome demonstrativo), uma vez que a intenção do redator é dar generalização à ideia.

Se a intenção fosse determinar, a sentença seria:

"... é condenado a pagar indenização por ofensas ao conjunto sertanejo, à dupla sertaneja."

Àquela situação textual, o acento grave não cabe.

Por fim, confesso-lhes o grande susto com o episódio do Jota Quest: Flausino e o grupo normalmente são muito elegantes em suas entrevistas, declarações.

Fica, pois, aquela professoral história do vocábulo falado ou escrito: verdade, sim; ofensa jamais.

Quanto mais o tempo passa, mais reflito sobre como é perigoso manifestar-se em um momento de ira, sobre o palco, em uma geração vigiada por câmeras.

Um abraço, até a próxima e inscreva-se no meu canal!

Diogo Arrais
http://www.ARRAISCURSOS.com.br
YouTube: MesmaLíngua
Autor Gramatical pela Editora Saraiva
Professor de Língua Portuguesa

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