Carreira

Pouco discutida, menopausa atinge mercado de trabalho

A representação das mulheres dessa faixa etária na força de trabalho vem subindo consistentemente nas últimas três décadas e atualmente representa 11% no Grupo dos Sete, que reúne os países mais industrializados

Olivia Garfield, CEO da companhia de água Severn Trent, em 2011. (Foreign and Commonwealth Office/Flickr)

Olivia Garfield, CEO da companhia de água Severn Trent, em 2011. (Foreign and Commonwealth Office/Flickr)

B

Bloomberg

Publicado em 18 de junho de 2021 às 12h17.

Não é todo dia que a presidente de uma das maiores corporações britânicas fala das ondas de fogacho que sente toda noite.

Mas para Liv Garfield, 45 anos e CEO da companhia de água Severn Trent, esta é uma forma de desmistificar um fenômeno natural que afeta as mulheres na menopausa — que correspondem a uma parcela crescente da força de trabalho no mundo inteiro. Como a menopausa retira muita gente do mercado de trabalho, é fundamental endereçar essa questão, alertou Garfield.

“Não empregar grandes números de mulheres de 45 a 60 anos precisa ser visto como um problema real — caso contrário, perde-se todo o conhecimento daquela geração específica”, disse ela em entrevista. Sua empresa, componente do índice FTSE 100 da bolsa londrina, foi uma das pioneiras em “educação sobre menopausa” em 2018.

Os sintomas começam em mulheres entre 45 e 55 anos, ou mesmo antes em casos raros. A menopausa — que se configura após 12 meses sem ciclo menstrual — pode provocar fogachos, suor noturno, insônia e alterações de humor.

O quadro pode levar a episódios constrangedores na frente de colegas, menor capacidade de concentração e até comportamento errático. Algumas mulheres passam sem sintomas ou com sintomas leves. Para outras, os efeitos são debilitantes.

A representação das mulheres dessa faixa etária na força de trabalho vem subindo consistentemente nas últimas três décadas e atualmente representa 11% no Grupo dos Sete, que reúne os países mais industrializados.

Globalmente, as perdas de produtividade relacionadas ao climatério podem passar de US$ 150 bilhões por ano, de acordo com Reenita Das, sócia e vice-presidente sênior da área de saúde e biociências da consultoria Frost & Sullivan.

Quando somadas as despesas adicionais para o sistema de saúde, o custo total da menopausa pode ser superior a US$ 810 bilhões, calcula ela. Das avisa que esses números continuarão a aumentar, uma vez que um quarto da população feminina mundial estará na menopausa em 2030.

Alguns governos e empresas estão começando a prestar atenção.

O Reino Unido está na linha de frente. A menopausa está no radar do comandante do banco central. Em abril, Andrew Bailey disse que, embora anteriormente não fosse considerada “parte do mundo do trabalho”, a menopausa não pode mais ser ignorada. Na quarta-feira, a parlamentar Carolyn Harris defendeu uma “revolução da menopausa” e a formação de um grupo parlamentar suprapartidário por “direitos, prerrogativas e educação sobre menopausa”.

O Japão também passou a endereçar a questão, mas esse crescente grupo demográfico ainda é geralmente ignorado em outros países. Nos EUA, não se discute menopausa no local de trabalho.

Impacto econômico

Logo antes da chegada da Covid-19, 73% das pessoas entre 50 e 64 anos estavam empregadas no Reino Unido, a maior participação em toda a série histórica iniciada em 1975. O ritmo de aumento na parcela feminina foi quase o dobro do observado para os homens. A idade mínima para a aposentadoria das mulheres foi elevada e elas passaram a trabalhar mais para pagar as contas após a crise financeira.

Como boa parte das mulheres nessa faixa etária tem qualificação para assumir altos cargos de gerência, a partida delas pode prejudicar a diversidade na composição da diretoria das empresas, além de contribuir para as disparidades de gênero nos salários e aposentadorias, disse Jo Brewis, professora da Open University.

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