Carreira

Por que o ‘sucesso da noite para o dia' é um mito

Nessa era de gratificações instantâneas, é fácil achar que o sucesso depende mais de sorte do que de trabalho duro e determinação

Inspiração (Rego Korosi/Creative Commons)

Inspiração (Rego Korosi/Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2014 às 13h50.

O caminho do sucesso é uma maratona, não uma corrida de 100 metros rasos – mas nem sempre parece ser o caso. Nessa era de gratificações instantâneas, fama virtual e startups bilionárias “acidentais”, é fácil achar que o sucesso depende mais de sorte do que de trabalho duro e determinação.

A blogueira Darlena Cunha sabe como pode ser ilusória a ideia de “sucesso da noite para o dia”. Escritora e mãe de gêmeos, ela teve seus 15 minutos de fama em julho, quando o Washington Post publicou o texto em que ela descrevia usar o carro de luxo do marido para buscar auxílio-alimentação. O artigo virou um viral e rapidamente se tornou a matéria mais lida no site do site no ano inteiro. Não demorou para que Cunha fosse procurada por agentes literários e produtores de programas de TV. Apesar de o sucesso ter acontecido virtualmente “da noite para o dia”, ela explicou num blog recente para a Wired que a “sorte” de se tornar um fenômeno viral veio depois de anos e esforço e trabalho duro.

“Existe uma verdade frustrante sobre o sucesso na era da internet: para que seu trabalho tenha audiência, alguém com poder precisa te dar uma chance. E, para que alguém te dê essa chance, você precisa ter audiência”, escreveu Cunha. “E até que isso aconteça, você tem de acreditar em si mesma e seguir em frente, mesmo que só ouça rejeição atrás de rejeição.”

A ideia do sucesso instantâneo tornou-se um mito que nos impede de entender o que significa construir e apreciar de fato uma carreira significativa. É fácil falar em “lugar certo, hora certa” para explicar o enorme sucesso dos “CEOs com menos de 30” e das startups tecnológicas fogo-de-palha.

Mas, na verdade, o sucesso vem no longo prazo. Como diz Cunha, o sucesso não depende só de talento e sorte, mas também de trabalho duro e resiliência – muito trabalho duro e resiliência.

Eis aqui cinco razões pelas quais devemos esquecer o mito do “sucesso da noite para o dia” e aceitar a longa jornada que vai nos levar a conquistas significativas.

O sucesso desenfreado é muito raro.
Se você quer ser absurdamente bem-sucedido num piscar de olhos, as probabilidades são mínimas. Para cada artigo que viraliza na internet há milhares de outros textos maravilhosos praticamente ignorados. Para cada estrela de Hollywood há milhares de aspirantes a atores desempregados. E, no mundo das startups, as chances de fundar uma empresa de sucesso são estimadas em 1 em 10 000.

Isso não quer dizer que você deva ser pessimista ou que deva parar de correr atrás do seu sonho. Mas é uma ótima razão para se dedicar a um projeto pela alegria e satisfação que ele vai te trazer – e não porque você quer fama e dinheiro.

As grandes chances não surgem do nada
“Bem quando eu estava prestes a desistir... Pronto.”, escreve Cunha. “Entre milhares de textos, um finalmente pegou.”

A blogueira e mãe de dois estava se virando para pagar as contas. Cunha escrevia de graça para vários sites, além de atualizar o próprio blog. De repente, depois do texto publicado no Washington Post, todo mundo queria falar com ela – TVs, agentes literários... Ela foi catapultada para o sucesso.

É fácil olhar para o sucesso de Cunha e achar que ela é como uma banda de um só hit. Mas, sem os anos de sacrifício e trabalho duro que ela investiu para criar seu público, o post nunca teria feito sucesso. Ela não escreveu só um texto e ficou famosa – foram milhares.

A história dela não é incomum, especialmente quando se trata de escritores. David Sedaris, autor de best-sellers da lista do New York Times, só ficou conhecido perto dos 40, depois de anos trabalhando em todo tipo de emprego (ele foi até mesmo um elfo da loja de departamento Macy’s) para poder se sustentar e escrever no tempo livre. Depois de 15 anos de labuta na obscuridade, Sedaris foi “descoberto” por Ira Glass, apresentador do programa de rádio “This American Life” numa noite de microfone aberto em um clube. O encontro acidental colocou Sedaris nos holofotes, mas antes dessa chance ele passou anos aperfeiçoando e divulgando seu trabalho.

Ou seja: a história de que o “sucesso é um iceberg” é verdade, por mais que a imagem seja um clichê. A ponta do iceberg é o que as pessoas enxergam. Mas embaixo da superfície existe uma gigantesca massa de gelo que teve de ser construída para que a ponta ficasse visível. O que quase nunca enxergamos é o trabalho, os fracassos, as críticas e as rejeições que estão abaixo da linha d’água. Mas foi isso tudo o que fez o iceberg subir além da superfície.

O fracasso é um degrau na escada do sucesso.
Cunha sugeriu seu texto sobre o auxílio-alimentação para várias empresas jornalísticas, sem sucesso. Mas, no fim das contas, um editor decidiu lhe dar uma chance.

“O texto tinha sido escrito o texto havia meses, eu o ofereci para Deus e todo o mundo. E nada.”, escreve Cunha. “O próprio Washington Post já tinha me dito ‘não’, com o argumento de que era ‘um assunto requentado dos tempos da recessão’. Mas, no fim das contas, o texto foi publicado na seção Post Everything. E as pessoas começaram a comentar.”

O sucesso nunca é imediato. Quem dá certo sobe a “escada do fracasso”, ou seja, os erros e rejeições são degraus necessários. Quase toda pessoa famosa tem uma história de rejeição para contar. Zen e Arte da Manutenção de Motocicletas, livro de 1974 de Robert Pirsig que é hoje um ícone da ficção filosófica, foi rejeitado por nada menos que 121 editoras antes de vender 5 milhões de cópias ao redor do mundo.

O sucesso exige risco, o que traz consigo a possibilidade de rejeição – especialmente quando se fala de trabalho criativo. “Quem é criativo fracassa, e os melhores criativos fracassam muito”, escreve o colaborador da Forbes Steve Kotler em um artigo sobre a genialidade de Einstein. Quanto mais fracassos tem um empreendedor, mais perto ele está do sucesso.

O sucesso exige mais que talento.
“Prática não é o que você faz quando é bom”, escreve Malcom Gladwell em Outliers. “É o que te deixa bom.”

Poucos conseguem se destacar na primeira tentativa. O trabalho duro é parte essencial do sucesso, como provam tantas pessoas bem-sucedidas. Talento ajuda, mas tem limite. Michael Jordan era um atleta talentoso – mas ele também passava as férias inteiras treinando arremessos. “Ele não tira folgas”, disse o técnico Phil Jacksonnum blog do site da NBA.

Como diz a coach de vida Maria Forleo, “se você quer virar um sucesso do dia para a noite, esteja pronto para ser um lutador incansável dia após dia.”

“O sucesso é a jornada, não o destino.”
Sucesso rápido e fácil não é sucesso significativo – muito pelo contrário. O sucesso significativo é feito do suor, das lágrimas, do amor e do carinho que colocamos nos nosso trabalho, dia após dia.

O falecido Arthur Ashe trabalhou incessantemente para ser o melhor tenista do mundo e o único negro a vencer Wimbledon e os Abertos dos Estados Unidos e da Austrália. Ele também escreveu The Hard Road to Glory (O duro caminho para a glória, em tradução livre), sobre as dificuldades que os maiores atletas dos Estados Unidos tiveram de superar para chegar ao topo.

O significado do sucesso há muito é tema de debates. Cada um tem sua própria definição para a palavra, mas vamos deixar Ashe falar por último. “O sucesso é a jornada, não o destino”, disse ele. “O fazer é mais importante que o resultado final.”

De Carolyn Gregoire

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