Carreira

O horário flexível pode ser armadilha na carreira

Pesquisa da Universidade de Washington mostra que o preconceito e estereótipos ainda rondam profissionais que usam o benefício do horário flexível no trabalho


	Relógio de ponto: preconceito no Brasil é com quem sai cedo do trabalho
 (Creative Commons/ Flickr/ frenchfinds/)

Relógio de ponto: preconceito no Brasil é com quem sai cedo do trabalho (Creative Commons/ Flickr/ frenchfinds/)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 22 de maio de 2014 às 11h31.

São Paulo - Sim, horário flexível é um dos benefícios mais desejados pelos funcionários. E por conta disso, muitas empresas passaram a oferecê-lo. Google, Unilever, Bosch e 3M são exemplos de lugares com “relógios de ponto mais elásticos” para seus empregados.

Mas, o paraíso que é uma empresa com menos rigidez no horário de entrada e saída pode ganhar contornos infernais, na hora de encarar a avaliação anual de desempenho.

É o que mostra trecho de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Washington, publicado pela Harvard Business Review na semana passada. A íntegra da pesquisa será divulgada ainda este ano pelo Journal of Applied Psychology.

Os pesquisadores verificaram que o horário escolhido para o expediente pode fazer grande diferença na imagem do profissional perante seu chefe o que, consequentemente, “respinga” na avaliação da sua performance.

Nos Estados Unidos, concluíram os professores da Universidade de Washington, a velha máxima do “Deus ajuda quem cedo madruga” parece ainda estar valendo.

Isso porque aqueles funcionários que pisam no escritório ao raiar do dia, em geral, recebem avaliações mais generosas do que os seus colegas que preferem bater o cartão mais tarde, mesmo que, na soma de horas, trabalhem igual ou até mais do que seus pares “matutinos”.

Por lá, quem acorda cedo para encarar o expediente é visto como mais aplicado ao trabalho do que profissionais “corujões”. A hipótese verificada empiricamente pelos pesquisadores é que as pessoas ainda associam, mesmo que inconscientemente, o período da manhã com estado de maior consciência e efetividade no trabalho.

Eles descobriram ainda que desempenhos profissionais idênticos podiam ser avaliados diferentemente se horário de entrada na empresa variasse. Assim, mesmo sendo produtivo na mesma medida do colega que entra às 7h no trabalho, o profissional que chega às 11h era preterido na avaliação.

Ou seja, quer você concorde ou não, os resultados da pesquisa demonstram o que, na prática, muitas pessoas vivenciam, mesmo de maneira velada. De nada adianta ter horário flexível se o que ainda está em voga são os estereótipos.

No Brasil, reinam os “corujões”

Muda o hemisfério, invertem-se os horários e seus preconceitos. “O Brasil é preconceituoso, sim, com relação à jornada flexível. Há preconceitos, porém, não com o horário de entrada, mas, sim, com o horário de saída”, diz Marcelo Braga, sócio da Search Consultoria em Recursos Humanos.

Por aqui, o primado é dos “corujões”. O estereótipo de comprometido cabe ao funcionário que estica ao máximo o horário de saída. “A hora de entrada não é tão percebida quanto a de saída”, diz Braga.

Ninguém reparou na sua chegada, mas “largue a caneta” todo dia ao badalar das 18h e será, inevitavelmente, notado. Por outro lado, seja o último a sair do escritório e ganhe fama de “trabalhador”. “É esta a percepção que o ambiente cultural do mercado brasileiro retrata”, diz Braga.

Como usar o horário flexível sem se “queimar” com o chefe

Abra o jogo com o seu chefe e verifique o que pesa na avaliação que ele faz do seu desempenho, recomenda Rogério Boeira, especialista em desenvolvimento de pessoas e fundador da escola de aprendizagem corporativa Cultman.

“São os resultados ou o tempo que você fica disponível dentro da empresa que valem mais”, diz Boeira. Saber o que é importante para o seu chefe é essencial para negociar com ele de que maneira é possível flexibilizar o horário sem ter consequências negativas para a carreira.

Mantê-lo informado, caso decida entrar mais tarde ou sair mais cedo, também é fundamental para minimizar conflitos, segundo ele. “O problema é que muita gente tem receio de manter diálogo, acha que é o mesmo que pedir permissão para se levantar e ir ao banheiro, mas não é”, diz Boeira. 

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