A pesquisa mostra que 57% dos trabalhadores do país colocam a vida pessoal acima da profissional (Malte Mueller/Getty Images)
Repórter
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 08h03.
Última atualização em 3 de dezembro de 2025 às 11h20.
A relação dos brasileiros com o trabalho está mudando — e rapidamente. Um novo estudo da Pluxee, em parceria com o Instituto Ipsos, revela que 57% dos trabalhadores do país colocam a vida pessoal acima da profissional. O levantamento, realizado com 8.700 pessoas em 10 países*, incluindo mais de mil brasileiros, aponta que o engajamento no trabalho deixou de ser medido por entrega contínua e passou a seguir ciclos, prioridades e fases da vida.
A pesquisa, divulgada nesta segunda-feira, 2, também reuniu 80 depoimentos qualitativos e análises de especialistas para entender o que motiva (ou desmotiva) as pessoas a permanecerem conectadas às suas empresas — e o que elas esperam em troca.
Para Fabiana Galetol, diretora executiva de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa da Pluxee no Brasil, o conceito de engajamento continua vivo — mas não se parece em nada com o modelo tradicional.
“Quando falamos de engajamento, estamos falando de pessoas, que vivem ciclos, desafios e conquistas dentro e fora do trabalho. Cresce a busca por uma relação integrada, em que o profissional não anula o pessoal e pode se desenvolver respeitando seu próprio ritmo.”
A executiva reforça que o equilíbrio não é uma fórmula, mas um movimento contínuo. “Não significa performar 100% o tempo todo, mas atuar de forma sustentável, com propósito e autonomia para conciliar prioridades”, afirma.
A pesquisa categoriza os trabalhadores em oito grupos que representam diferentes formas de enxergar o trabalho e a vida.
Esse retrato reforça que não existe um único modelo de sucesso ou engajamento.
“Ser workaholic já foi sinônimo de sucesso. Hoje é associado à exaustão e à queda de produtividade”, afirma Galetol. “O trabalho mudou, e nossa forma de viver também.”
O trabalhador brasileiro, segundo a pesquisa, tamém segue confiante:
Mesmo assim, isso não significa vínculo inabalável com a empresa. Embora 88% gostem do lugar onde trabalham, só 29% permaneceriam ali exclusivamente por interesse próprio.
O estudo também aponta uma mudança cultural:
Para Galetol, o dado evidencia um novo pacto entre empresas e colaboradores: reciprocidade.
“As companhias precisam criar ambientes que favoreçam conexões humanas, pertencimento e apoio às diferentes fases de carreira”, diz.
A pesquisa mostra nuances importantes sobre o que move o brasileiro:
Antes de avanços em agendas ESG, os profissionais pedem o básico:
Globalmente, o panorama é semelhante:
A vida fora do escritório orienta decisões: Apenas 19% no mundo e 12% no Brasil colocam o trabalho no centro da vida.
O bem-estar deixou de ser um conceito abstrato para se tornar uma construção prática, baseada em escolhas diárias, segundo o estudo. Entre os trabalhadores entrevistados no mundo, dois elementos se destacam como os maiores responsáveis por sustentar a qualidade de vida:
Esses fatores ajudam a explicar uma tendência global: profissionais querem relacionamentos saudáveis — dentro e fora das empresas — e espaço para administrar suas próprias rotinas. As relações humanas aparecem como o “cimento” que sustenta o equilíbrio emocional, enquanto o tempo individual garante a autonomia necessária para recarregar a energia.
No Brasil, essa dimensão social é ainda mais forte. 62% dos profissionais afirmam que relações humanas são fundamentais para sua qualidade de vida, um índice superior às demais economias emergentes. Isso indica que o trabalhador brasileiro tem um modelo de bem-estar ancorado em comunidade, afeto, apoio emocional e senso de pertencimento.
Não por acaso, as três principais formas de envolvimento pessoal no país são:
A religião, em particular, desempenha um papel que extrapola o campo espiritual: 40% dos brasileiros se dizem engajados em práticas religiosas, número muito acima dos 29% observados em outras economias emergentes. Isso reforça que, no Brasil, a experiência de bem-estar é profundamente marcada por vínculos e rituais coletivos.
Mesmo com todas as transformações culturais sobre o trabalho, o salário segue como prioridade para a maioria dos profissionais: 53% ainda o consideram o principal fator de permanência na empresa.
No entanto, esse peso vem dividido com outra tendência crescente: a busca por benefícios que conversem com a vida real. Hoje, 36% dos trabalhadores valorizam empresas que oferecem soluções personalizadas, como apoio psicológico, flexibilidade de horário, programas de bem-estar, cuidado com dependentes e aprendizado contínuo.
Segundo o estudo, companhias que conseguem reter e engajar talentos são aquelas que equilibram três pilares:
Esses elementos ajudam a explicar o que realmente inspira o brasileiro no trabalho. O que mais realiza os profissionais é:
Em outras palavras, o trabalhador quer ser visto, ouvido e respeitado.
No final, a pesquisa mostra que os brasileiros querem trabalhar bem, mas viver melhor. E isso muda as expectativas sobre as empresas.
Para reter talentos, organizações precisam entregar mais do que salários competitivos. Os profissionais esperam:
Para Galetol, da Pluxee, essa é a nova base das relações de trabalho. “Como em qualquer relação, engajamento é reciprocidade. As empresas precisam reconhecer o momento de vida de cada pessoa, e isso muda tudo.”