Exaustão é mais evidente no fim do ano (Getty Images)
Talita Abrantes
Publicado em 2 de fevereiro de 2014 às 05h00.
São Paulo - Estima-se que 70% da população economicamente ativa do Brasil já tenha sofrido de stress, segundo pesquisa feita no ano passado pelo ISMA Brasil. E o trabalho teria sido o principal vilão para este quadro.
De acordo com o levantamento, 69% dos casos foram fruto de situações profissionais.
Associadas a outros fatores, as jornadas exaustivas teriam feito ao menos três vítimas no ano passado. No mais recente, uma jovem redatora da Indonésia não resistiu à combinação de consumo de uma bebida energética com três dias seguidos de trabalho e faleceu.
No entanto, a pesada carga de trabalho não é o único aspecto que conspira contra o equilíbrio mental. Estar acomodado em um trabalho que não desafia e não faz crescer também gera stress, segundo Flora Victoria, da Sociedade Brasileira de Coaching.
“Ou pode-se quebrar por superaquecimento ou murchar e desaparecer por subutilização”, explica a consultora. “Os dois excessos são ruins”.
A razão para isso é simples: “Por menor esforço que ele demande, quando o trabalho não é prazeroso já gera uma sensação psíquica de sobrecarga”, diz Paulo Moretti, gerente médico do Semeando Saúde, do Grupo Santa Celina.
Sintomas
Alterações bruscas no comportamento ou na saúde física e mental do indivíduo podem ser sinais de que seus limites estão sendo ultrapassados – de uma maneira nociva.
De acordo com a estudo da ISMA Brasil, 78% dos homens e 83% das mulheres que participaram da pesquisa afirmaram ter dores musculares ou de cabeça. Além disso, 39% deles e 37% delas sofriam de distúrbios do sono.
Segundo Ana Maria Rossi, que conduziu o levantamento e preside a associação no país, a ansiedade foi o sintoma mais prevalente entre as pessoas entrevistadas.
“Via de regra, elas trabalham em um ritmo frenético ou por muitas horas sem pausas. A razão para isso é porque elas não têm muita confiança em seu trabalho ou competência”, explica a psicóloga.
Taquicardia, ganho ou perda de peso, problemas gastrointestinais também seriam outros indícios. “Ele começa a beber ou comer mais, dormir menos, fica sedentário”, enumera André Caldeira, da consultoria Propósito. “Ou passa a querer se isolar, tem dificuldade de se relacionar com os outros”.
Na síndrome de burn out, a fase mais extrema do stress, além da exaustão física e mental, a pessoa pode apresentar um quadro de “alienação do mundo”.
“Ela se torna cética, agressiva ou passiva”, diz Ana Maria. Além disso, a produtividade e a eficácia da pessoa tende a cair. “Sabendo que não está rendendo, ela se puxa para trabalhar mais”, afirma.
Como se esforçar sem se prejudicar
Agora, em uma era em que a pressão por resultados cada vez mais agressivos e níveis elevados de excelência, como ser um ótimo profissional sem se quebrar fisicamente e emocionalmente?
A resposta pode estar em um princípio de Aristóteles, segundo Flora. “Você será feliz quando conseguir usar as suas forças na quantidade correta e estiver funcionando em seu nível ótimo”, diz a especialista. Ou seja: trabalhando nem mais, nem menos do que, realmente, pode.
Na prática, isso significa que é preciso ter uma noção clara de si – de quais são suas fronteiras, do quanto é possível ultrapassá-las, de quando é preciso parar e, quando for o caso, do quanto você precisa se esforçar para chegar até lá.
“A empresa não é algoz e não é vítima. São escolhas e corresponsabilidades”, afirma Caldeira. Em outras palavras, cada profissional também é responsável pelo próprio equilíbrio. E isso demanda assumir o volante da própria vida e não ceder às pressões.
Manter um estilo de vida saudável (com a prática regular de exercícios físicos, boas noites de sono e uma alimentação equilibrada), ter com quem desabafar e investir em técnicas de relaxamento não são garantias de imunidade ao stress.
Mas tais medidas provavelmente irão ajudá-lo a "lidar com o stress e ter uma recuperação mais eficiente", afirma Ana Maria.
Lembre-se: “É importante cultivar o devido valor para todas as esferas do viver. Quando isso não está balanceado, sinal de que você está se sacrificando, dando mais para a carreira do que deveria”, afirma Artur Zular, do Instituto de Qualidade de Vida.
As causas de desequilíbrio emocional passam, algumas vezes, por conceitos errados sobre carreira. Veja o principal deles em um dos vídeos de carreira:
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