Votação na Câmara: "impeachment gramatical" praticado por deputados (Nilson Bastian/ Câmara dos Deputados)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2016 às 13h34.
Pelo respeito às concordâncias nominal e verbal, o voto é sim. Como registrou Marquês de Maricá:
"A virtude aromatiza e purifica o ar, os vícios o corrompem."
Pelo respeito ao verbo - talvez irônico - auxiliar e no plural, o voto é sim. Ah! Que saudade de Alexandre Herculano:
" (...) os ódios civis, as ambições, a ousadia dos bandos e a corrupção dos costumes haviam feito incríveis progressos."
Pelo respeito à expressão "cada um de" e plural, é preciso que o verbo fique no singular:
"Cada um dos deputados deve respeitar o seu tempo na votação." (e não devem!)
Pelo respeito ao verbo haver - no sentido de existir -, é preciso que o verbo esteja no singular:
"Senhor Presidente, houve votos prolongados!" (e não houveram!)
Pelo respeito ao verbo ter e sua jamais relação de existência:
"Houve ou não houve um golpe?" (e não teve!)
Pela concordância ao verbo ser (nas designações de datas, horas, distâncias), é preciso concordar sim:
"Vossa Excelência, já são onze horas!" (e não é onze horas!)
Pelo respeito à representatividade de um cargo, é preciso pensar na existência da Língua; é preciso pensar na Palavra; é preciso pensar na existência de determinantes de singular ou plural; é preciso pensar no significado do discurso, no encadeamento do que forma um determinado texto; é preciso pensar em quem recebe a mensagem. É preciso pensar.
É com o sentimento de uma tristeza semianalfabética que reconheçamos um verdadeiro impeachment gramatical.
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