Carreira

O que a pandemia do coronavírus nos forçou a aprender?

Em sua coluna, Sofia Esteves, presidente do conselho da Cia de Talentos, destaca grandes tendências e mudanças provocadas pelo vírus

Máscara feita em casa: o que estamos aprendendo na quarentena?
 (Rike_/Getty Images)

Máscara feita em casa: o que estamos aprendendo na quarentena? (Rike_/Getty Images)

Sofia Esteves

Sofia Esteves

Publicado em 27 de abril de 2020 às 12h17.

Última atualização em 2 de junho de 2020 às 17h24.

Passamos por diferentes fases ao longo da vida e, muitas vezes, quando insistimos em um caminho que não serve mais à nossa evolução, somos surpreendidos por algum fato que nos diz basta e então, somos obrigados a mudar de direção.

A questão é: quanto tempo perdemos negando as mudanças de comportamento que já estavam sendo anunciadas há tempos?

O Coronavírus chegou arrebatando todas as nossas certezas de estabilidade, colocou à prova o discurso tecnológico, ágil e humanizado de muitas empresas e nos relembrou que só é possível vencer um desafio quando ele é encarado de frente.

Sendo assim, não adianta ficarmos ansiosos pela retomada do mercado se antes não fizermos uma reflexão profunda sobre o que essa situação veio nos ensinar e as transformações que, mesmo após o final da crise, irão permanecer.

O que estamos aprendendo com o Coronavírus?

O isolamento social trouxe incômodos e o medo da contaminação gerou preocupação, mas foi o impacto econômico que a quarentena apresentou que mais assustou a população.

Em menos de dois meses 600 mil pequenas e microempresas fecharam suas portas ao redor do Brasil, gerando 9 milhões de desempregados, de acordo com pesquisas do SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas.

Em contrapartida, mais de 3 mil empresas aderiram ao movimento ‘Não Demita’, um manifesto que convida empresários a repensarem suas estratégias de sobrevivência à crise, evitando demissões e aplicando a responsabilidade social.

Reinvenção do capitalismo

O capitalismo que fomenta o lucro centralizado e o consumo excessivo revelou-se frágil e não passou no stress test. Como a edição passada da Revista Exame se dedicou a explicar, o nosso modelo econômico já vinha sendo questionado e agora, mais do que nunca, está sendo desafiado a se reinventar – o que impacta diretamente em como vamos criar, sustentar e distribuir renda em nossos negócios daqui a diante.

Responsabilidade social

Cada passo que os líderes das nações do mundo deram diante ao COVID-19 foram noticiados e marcados na história como inspiradores, ou como exemplos de péssima gestão.

Com as empresas não está sendo diferente. Frente ao medo de perderem seus empregos, profissionais do mundo todo olharam para seus gestores em busca de respostas e de esperança. A forma como os líderes estão respondendo a essa necessidade é que vai separar os líderes do futuro dos que, ainda, não entenderam que uma empresa de sucesso só é sustentável se as pessoas que a mantém ativa estiverem felizes e confiantes. Sendo assim, o cenário pós-pandemia traz às lideranças novas responsabilidades.

As empresas vão exigir gestores que além de serem altamente adaptáveis, também saibam gerir projetos e recursos em diferentes cenários, inclusive físicos. A gestão remota se tornou uma habilidade essencial para muitos setores e a busca por líderes humanizados deixou de ser um diferencial para se tornar requisito básico quando o assunto é gestão de pessoas.

Os colaboradores também foram convidados a serem mais ativos, fortalecendo a união e a colaboração na busca por soluções efetivas, ao invés de só esperarem respostas milagrosas de seus gestores.

Também presenciamos a sociedade cobrando cuidado das empresas e seus líderes, não só com seus colaboradores, mas igualmente com seus stakeholders e o público em vulnerabilidade social. Ou seja, a gestão terá que romper as barreiras das paredes do escritório e olhar para todo o seu entorno se integrando a um só ecossistema.

Saúde física e mental como prioridade

A retomada da economia será gradual, fazendo com que as pessoas se mantenham alertas sobre o medo de serem contaminadas e de passarem novamente por crises financeiras, o que agrava os casos de doenças que afetam a saúde mental dos profissionais.

Já é comprovado que a ansiedade e o estresse afetam o sistema imunológico e a tendência é que a sociedade passe a ter o autocuidado como prioridade. Dessa forma, rotinas de trabalho estressantes e lideranças tóxicas serão ainda mais questionadas.

As empresas terão que se adaptar a essa mudança de comportamento, redesenhando seus espaços físicos, benefícios aos colaboradores e modelos de gestão.

Home Office

A tendência é que o trabalho presencial se torne opcional ou necessário apenas em momentos pontuais. Porém, o desafio atual é encontrar meios de manter as equipes em conexão pessoal uns com os outros, o que fortalece os times e a geração de novos insights. Outro desafio importante é como a tecnologia pode criar ambientes de trabalho remoto que protejam os dados sigilosos das organizações.

Compartilhamento de Saberes

Contrariando a lógica do capitalismo tradicional, milhares de empresas compartilharam seus conhecimentos de forma gratuita através de lives e cursos ao longo da pandemia. O movimento acordou o prazer de aprender em milhões de profissionais e traz novos olhares para o valor da educação e a importância do modelo EAD de ensino.

Precisamos olhar para o digital

Ficou clara a importância das empresas reverem seus modelos de negócio, incluindo o digital como principal fonte de investimento.

Cautela no consumo

A recessão econômica já está mudando a forma como consumimos e a tendência é que a aquisição de produtos e serviços não essenciais sejam revistos. Logo, as empresas terão que reinventar seus produtos e modelos de negócio para sobreviverem a esse novo comportamento.

Menos concorrência, mais colaboração

Seguindo a tendência da reinvenção do capitalismo, muitas empresas concorrentes se uniram em prol de movimentos sociais como no caso do Santander, Itaú e o Bradesco. Os três maiores bancos privados do Brasil investiram juntos em uma ação de doação de 50 milhões de reais para a compra de equipamentos de saúde no combate ao Covid-19.

Esse movimento nos inspira a refletir como podemos nos unir mais às empresas que passamos tanto tempo investindo energia para superar. Será que se nos unirmos não vamos conseguir ir mais longe e mais rápido?

Comunicação e ciência

O Brasil vem sendo bombardeado por fakes news nos últimos anos e não foi diferente no caso da pandemia e percebemos o valor que tem uma comunicação clara e honesta. Junto a isso, a ciência relembrou ao mundo a sua importância para a nossa evolução e as pesquisas tendem a ser cada vez mais requisitadas na hora de investir em novos negócios e projetos.

Essas são algumas das transformações que o COVID-19 nos trouxe. De fato, esse momento marcou nossa geração e irá redesenhar a forma como vamos viver daqui a diante.

Te desejo uma boa reflexão e clareza para se manter aberto às mudanças necessárias para que o bem-estar coletivo e a economia possam ser restabelecidos o quanto antes. Boa jornada!

Sofia Esteves é presidente do conselho do grupo Cia. de Talentos

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusDicas de carreira

Mais de Carreira

Lazy Job: o que é a nova tendência da Geração Z e o impacto dela para a sua carreira

Os 7 hábitos que fazem qualquer profissional perder promoções – veja se comete algum deles

Profissão home office, com poucas barreiras e salários acima da média está em alta para 2025

Você fala estas 12 frases com frequência? Isso indica uma alta inteligência emocional