Carreira

Mulheres assumem o poder em empresas tradicionais

A chegada de Mary Barra à presidência mundial da GM mostra que as mulheres estão assumindo o comando nas empresas mais tradicionais

Mary Barra, presidente mundial da GM: primeira mulher em 105 anos de história da montadora (Getty Images / VOCÊ S/A)

Mary Barra, presidente mundial da GM: primeira mulher em 105 anos de história da montadora (Getty Images / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 19h28.

São Paulo - Neste mês, a engenheira elétrica americana Mary Barra, de 51 anos, assume a presidência mundial da General Motors. É a primeira vez que uma mulher lidera a montadora americana, fundada há 105 anos. Mary é funcionária de carreira da GM. a engenheira ingressou na fabricante de carros aos 18 anos, quando estava começando a universidade.

Ocupou diversos cargos na empresa, sendo que até dezembro era a executiva responsável pelas áreas de desenvolvimento de produto, compras e logística. Para chegar à presidência, Mary teve de superar três colegas de trabalho homens.

Imediatamente após sua nomeação para a presidência, começaram as especulações sobre qual vai ser o estilo de liderança que ela vai imprimir na GM. Uma das corporações que pediram socorro financeiro ao governo americano, a GM recebeu entre 2008 e 2009 aproximadamente 50 bilhões de dólares e vem se recuperando desde a injeção de capital.

A GM dá lucro há 15 trimestres consecutivos. Mary é descrita como uma profissional de fala mansa, aberta (ela gosta de ouvir a opinião dos colegas de trabalho), mas ao mesmo tempo metódica e afcionada a dados. "Argumentos emocionais não colam com ela. Mary sempre pede dados", disse a VP de RH da GM, Melissa Howell, em entrevista à revista Forbes.

Tradicionalmente, as mulheres são mais sensíveis e emocionais do que os homens. Por isso, as empresas tendem a preteri-las para cargos de liderança no alto escalão. É o que indicam as estatísticas do teste Myers-Briggs type indicator (MBTI), uma das mais conceituadas ferramentas de avaliação de personalidade, em uso há quase 70 anos por empresas de todo o mundo.

A avaliação se baseia nas respostas escolhidas entre duas opções em um questionário com 931 perguntas. As alternativas assinaladas indicam as preferências de cada indivíduo em quatro escalas, cada uma com dois extremos: extroversão ou introversão; sensação ou intuição; pensamento ou sentimento; e julgamento ou percepção. 


Cada pessoa tem uma preferência natural por uma das duas palavras opostas nas escalas do MBTI. O conjunto de preferências verificadas nas quatro escalas define a personalidade do profissional. A única escala em que há uma diferença significativa nos resultados encontrados entre homens e mulheres é a que avalia a tomada de decisões, cujos polos são pensamento e sentimento.

"Quando observamos a população em geral, 60% dos resultados femininos trazem a letra f, relativa a uma tomada de decisão com base nos sentimentos (em inglês, feelings), ante apenas 40% dos homens", diz Adriana Fellipelli, proprietária da consultoria Fellipelli, certificadora oficial do MBTI no Brasil.

Conclusão: os homens são mais racionais na hora de decidir. Essa informação é especialmente significativa quando se considera que, no ambiente corporativo, sete entre cada dez contratados — independentemente do sexo — têm perfil associado à tomada racional de decisões. Os dados ajudam a compreender o desequilíbrio na proporção entre homens e mulheres nos altos escalões.

Mas não é apenas uma questão de personalidade. Os profissionais que comandam empresas ou unidades de negócios dentro das organizações geralmente possuem formação em exatas. Basta ver a incidência de engenheiros, economistas e administradores de empresas em postos de liderança.

Nos Estados Unidos, as mulheres representam apenas 24% do total de profissionais formados em ciências, tecnologia, engenharia e matemática. No Brasil, não há estatísticas a respeito, mas o índice é certamente menor. Tanto que o governo brasileiro lançou o programa Ciência sem Fronteiras, em 2011, para possibilitar que mais estudantes de graduação e pós-graduação tenham acesso a universidades de primeira linha e se formem nas áreas de ciências, tecnologia e engenharia.

Nova realidade

Quando se olha a formação das mulheres que ocupam a presidência, a maioria delas veio da área de exatas — logo tendem a ser mais racionais. Virginia Rometti, de 56 anos, assumiu a presidência da IBM em janeiro do ano passado, sendo a primeira executiva a comandar a multinacional de tecnologia, fundada em 1911.


Ela é engenheira elétrica, assim como a recém- empossada presidente da GM. A executiva-chefe da Xerox desde julho de 2009, Ursula Burns, de 55 anos, é outro exemplo de profissional bem-sucedida num setor cujas empresas são lideradas por homens. Ursula é engenheira mecânica de formação.

No Brasil, Claudia Sender, de 38 anos, é a primeira executiva a assumir a direção de uma empresa aérea. Ela chegou ao comando da TAM em maio de 2013. Carla é engenheira química formada pela escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

A exceção às engenheiras é a presidente da GE no Brasil, Adriana Machado, de 44 anos, que é a primeira mulher na presidência desde que a multinacional americana se estabeleceu no Brasil, há 92 anos. 

Adriana se formou na primeira turma de ciência política da Universidade de Brasília. Antes de entrar na GE, passou pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e trabalhou na secretaria de assuntos estratégicos da Presidência. 

Aos poucos, entretanto, vem ficando claro que, embora com um jeito diferente de realizar o trabalho, elas podem ser chefes igualmente eficientes — sem precisarem simplesmente reproduzir o modelo masculino ou necessariamente vir da área de exatas.

A executiva potiguar Andrea Fernandes, de 47 anos, gerente executiva da área jurídica do grupo Ale, é um bom exemplo de como uma liderança feminina pode ser eficaz em uma corporação. Na empresa, do ramo de combustíveis, Andrea, advogada, usa sua liderança emocional para integrar e motivar a equipe de 26 pessoas e também na interface com as demais diretorias, basicamente masculinas.

Seu estilo de gestão participativa — que considera as opiniões do time tanto sobre o funcionamento do departamento quanto na estratégia processual — lhe rendeu um índice de retenção invejável. Com 15 anos de empresa, apenas duas pessoas sob sua gestão pediram demissão. 

Para Giuliana Menezes, da consultoria de recrutamento Michael Page, profissionais com perfil de liderança mais frio, obcecado por resultados, costumavam ser considerados os mais eficientes. "Mas a chegada da geração Y vem mostrando que é impossível formar e manter boas equipes sem focar na qualidade do ambiente de trabalho", diz.

O melhor exemplo dessa realidade são empresas como Google e Facebook, focadas em resultados, mas muito conscientes da necessidade de ter um ambiente colaborativo e diversificado. Foi dessas empresas que saíram duas executivas que no ano passado deram o que falar.

Marissa Mayer deixou o Google para se tornar presidente do Yahoo! — e está tirando a empresa da lama. Sheryl Sandberg, executiva responsável pela área de operações do Facebook, lançou um movimento, o Lean In, em que conclama as mulheres a retomar a revolução feminina.  São referências para as mulheres e indicam que o mundo corporativo deve mudar daqui para a frente com a ascensão delas.

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